quarta-feira, 31 de julho de 2013

Capitulo 2: We Found Love.


Yellow diamonds in the light
And we're standing side by side
As your shadow crosses mine
What it takes to come alive
It's the way I’m feeling I just can't deny
But I've gotta let it go
Rihanna - We Found Love.

Pelo que tínhamos andado, supus que estávamos algures nos arredores de um bairro londrino. Nathan puxou-me através de um pequeno jardim, subimos meia dúzia de degraus e este abriu a porta. A música estava alta, a o cheiro a álcool, tabaco e outras substâncias era óbvio, o que me levou a pensar o porquê de ter confiado naquele estranho para me levar para aquele sitio desconhecido. Arrependi-me da minha decisão quase instantaneamente.
- Fica aqui, volto já. - Nathan deixou-me junto das escadas e subiu-as rapidamente, desaparecendo do meu alcance visual. Suspirei no que me havia metido? Olhei em redor e achei por momentos que devia dar meia volta e desaparecer, mas em vez disso, recostei-me na parede branca à espera de Nathan e acendi um cigarro.
- E tu és? - Olhei para a minha esquerda encarando quem me questionava. Com uma garrafa de whisky barato pendurada numa mão e um cigarro, que levava de momento aos lábios, na outra, estava aquele sujeito de olhos azuis e tez meia bronzeada, se comparada com a minha. Envergava uma t-shirt cinza, já com algumas manchas que supus serem da bebida que trazia na mão, umas calças escuras e uns ténis de marca Nike, que se não estivessem encardidos com sujidade seriam brancos. Sorriu-me enquanto expirava o fumo do cigarro.
- Não é do teu interesse. - Olhei-o com desprezo enquanto nos meus lábios surgia um sorriso sarcástico. Voltei a olhar para a frente, esperando para que Nathan voltasse o mais rápido possível. Pelo canto do olho percebi que ainda não estava sozinha.
- Tudo o que é novo é do meu interesse love. Sou o Keith, prazer. - Esticou-me a mão depois de colocar o cigarro entre os lábios. Olhei-o novamente com desprezo, este envergava, ainda que com o cigarro no canto da boca, um sorriso que me fez querer vomitar. Franzi o sobrolho e o cenho, mostrando o meu desagrado perante a situação.
- O prazer é somente teu. - O meu tom era sério e exibi o meu melhor sorriso de escárnio e levei o cigarro aos lábios, sem intenção de tocar na mão que Keith me esticava. Este acabou por a retirar para segurar de novo o cigarro e sorriu. Bastard.
- Isso é tudo simpatia? Se te queres dar bem por aqui devias começar por mim. - Ainda a sorrir levou o gargalo da garrafa à boca e ingeriu o líquido alaranjado. Três golos de seguida. O cheiro proveniente da garrafa fez com que o meu cenho se franzisse e pude sentir o meu estômago a contorcer-se.
- Preferia morrer sozinha. - Vi-o atirar o cigarro para o chão e a esmaga-lo com o ténis, sem se preocupar com o facto de estarmos dentro de uma casa. Muito educado, consegui perceber. Perguntava-me como tinha confiado em Nathan, agora que precisava dele tinha desaparecido. Suspirei e encostei a minha cabeça à parede, procurando por um Nathan que não estava presente. Fuck sake, Nathan.
- Babe... - Lentamente virei a minha cabeça para o encarar, este ainda envergava o sorriso malicioso nos lábios, o que me fez levantar o sobrolho, com nojo. Era evidente o sentimento de nojo na minha cara, mas Keith parecia ignorá-lo descaradamente, deixando-me enervada. Ele estava a gostar de me enervar e eu não gostava desse sentimento - Ainda não percebi qual é o teu nome. - Sem vergonha na cara ergueu a mão até ao cigarro que eu segurava entre os lábios, agarrou-o e levou-o aos seus, quase dando sentido à frase: O que é teu, é meu. Cuidadosamente expeliu o fumo para a minha cara, fazendo com que a virasse repentinamente para o lado.
- Isso foi porque não o disse. Otário. - O forte impulso de acertar com a minha mão na sua face foi quase concretizado se naquele momento aquele rapaz não tivesse parado à minha frente com um sorriso nos lábios. Um sorriso que, ao contrário de Keith, era simpático e era quase capaz de iluminar aquela casa escura. Apesar do gorro preto que envergava, pude notar que os seus caracóis eram revestidos por uma tonalidade de semilouro e os seus olhos azuis penetrantes fizeram-me pensar gostava de os olhar ainda mais diretamente, talvez até perder-me neles.
- Já vi que arranjaste alguém para chatear. - Virou-se para Keith com um sorriso divertido nos lábios, o que lhe conferiu um ar ainda mais atraente. Pisquei os olhos e lembrei-me do otário que me tinha atirado com fumo para a cara. O meu estômago revirou-se mais uma vez naquela noite com a lembrança recente do que se havia passado há segundos atrás. Ouvi um sorriso estridente de Keith que ainda se encontrava encostado à parede.
- Chatear? Eu estava a iluminar a vida dela. - Respondeu com uma gargalhada e senti a sua mão no meu ombro. Sem ter intenções de lhe tocar afastei-me de repente, cada vez mais enjoada com este indivíduo. De facto não gostava de ter contacto com outras pessoas, mas em especial com pessoa que não me inspiravam confiança.
- Não me toques. - Pronunciei confiante, embora a vontade de lhe gritar fosse evidente. Afastei-me ainda mais, criando uma distância de segurança, de modo a que ele não me conseguisse tocar. As suas sobrancelhas ergueram-se com espanto mas rapidamente o sorriso que me desagradava estava de volta. Tive vontade de lhe cuspir na cara.
- Ok Keith, já percebi que sim. - O outro rapaz dirigiu-se a ele e colocando o braço por cima dos seus ombros conduziu para outra divisão da casa, deixando-me de novo sozinha, tal como eu gostava e apreciava. Suspirei profundamente. O que é que eu estava a fazer ali? Nem eu própria sabia e ainda não havia sinais de Nathan. Voltei a encostar-me à parede, perguntando-me se Keith voltaria para me dar mais enjoos ou se Nathan demoraria muito mais tempo. Fechei os olhos e encostei a cabeça à parede, esperando que o tempo passa-se e que Nathan se dignasse a aparecer.
- Hum... Desculpa pelo Keith, ele já está, hum...tocado. - Abri os olhos num flash. O rapaz que havia levado Keith estava de novo à minha frente, com um sorriso que me parecia um quanto tímido e as mãos enfiadas nos bolsos dos jeans escuros que tinha vestidos.
- Hum... Eu percebi. - Sorri timidamente e coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha - Obrigado por o teres levado. - Desviei o olhar e encarei as escadas, numa tentativa frustrada de procurar mais uma vez por Nathan, sentia-me incomodada por falar com estranhos. Ouvi um riso abafado do rapaz à minha frente. Algo me dizia que devia ter ficado em casa.
- Sou o Jay. - Olhei para o rapaz, que se dava pelo nome de Jay e este estendeu-me a mão, que olhei desconfiada.
- Summer. - Respondi com um leve sorriso e levei a minha mão pálida ao encontro da sua, que era definitivamente maior e mais escura que a minha. Apertou-me a mão gentilmente e pude sentir a sua pele quente a chocar com a minha mão gelada. Apesar de conseguir sentir alguma dureza nesta ao mesmo tempo senti que havia algo que me reconfortava. O toque desfez-se e este coçou a nuca, talvez tentando quebrar a visível tensão no ar. 
- Então, Summer... - Encostou-se à parede, imitando a minha figura - Nova por aqui? - Encarei-o e sorri, pensando se seria tão óbvio esse facto e acabei por acenar afirmativamente.
- É assim tão óbvio? - Jay soltou uma gargalhada divertida e abanou a cabeça. O seu riso fez-me rir e percebi que era um bonito riso. Perguntava-me desde quando é que começara a tomar atenção ao riso de estranhos.
- Não muito... - Tentou não voltar a rir e encarou-me - Mas não passas despercebida. Quero dizer, está toda a gente na sala e tu estás aqui, sozinha. - Apontou para uma porta de onde provinham fortes vozes e música que ecoava pelo resto da casa, era ainda visível o fumo que provinha da mesma, talvez devido à acumulação de fumadores num espaço que supus não ser muito grande. Sorri com a sua afirmação e concordei, abanando a cabeça afirmativamente mais uma vez.
- Muito perspicaz. - O meu tom soou mais sarcástico do que pretendia, mas mesmo assim Jay sorriu, quase como se não tivesse percebido o meu sarcasmo ou fingindo que não o percebera.
- Então...- Fez uma curta pausa e apercebi-me que a palavra "então" era aquela que servia para tornar uma conversa estranha em algo mais suave, talvez tivesse que a usar mais vezes também. - Estás à espera do Nathan? - Semicerrei os olhos, pensando como é que ele sabia deste facto ou se também era óbvio, tal como o facto de ser nova por aqui.
- Hum... Sim. - Respondi desconfiada e mexi-me um pouco desconfortável por este estranho saber de tal facto - Como é que sabes que estou à espera dele? - Olhei-o sem conseguir controlar a curiosidade que tanto me caracterizava.
- Ele disse-nos que te ia trazer para te conhecermos. - Reparei que ele falara no plural e indagava-me se a sala para onde Jay havia levado Keith estava sobre lotada e voltando a olhar rapidamente para a porta entreaberta da mesma, conferi que todos os sinais indicavam as minhas suspeitas, as diversificadas vozes, o barulho, as gargalhadas e também a intensidade de fumo, para meu desagrado. Não é que conhecer pessoas não fosse bom, mas era-me complicado iniciar amizades, talvez devido à minha inadequada destreza social.
- Ah... Fui anunciada, já percebi. - Sorri, tentando não demonstrar desconforto perante a situação. Mais uma vez ouvi Jay rir e levantei as sobrancelhas, olhando para ele, não percebera o motivo para este ter gargalhado, talvez fosse para não tornar tudo mais estranho ou talvez não tivesse mesmo percebido o porquê.
- Anda, vou apresentar-te algumas pessoas. - Desencostou-se da parede e colocou as mãos nos bolsos mais uma vez, esperando que o seguisse. Não sabia se era boa ideia, talvez devesse esperar por Nathan. Olhei mais uma vez para as escadas mas continuavam vazias e sem sinais de Nathan - Ele está, erm... Ocupado, se é que me entendes. - Olhei para Jay e este ria mais uma vez, não sabia se da minha cara de surpresa ou se do que dissera.
- Percebo. - Respondi-lhe ainda em choque. Bem que podia esperar que Nathan descesse ou morrer ali com raízes debaixo dos pés. Desencostei-me também da parede e segui Jay até à sala, onde pude sentir o fumo condensar-se ainda mais e alguns olhares postos em nós mal passamos pela ombreira da porta. Tinha um pressentimento que talvez não deveria ter vindo a esta festa, talvez teria sido melhor ficar em casa.
- Vem comigo. - Jay virou-se para trás e agarrou-me pela mão, que senti puxar-me suavemente pelos corpos que estavam espalhados pela sala, alguns talvez com uma taxa de alcoolemia mais elevada do que deviam. Agora no centro da sala a música soava ainda mais alto e o cheiro de tabaco misturado com álcool era evidente e forte. Jay subiu para uma cadeira que serviu de apoio apenas para se colocar em cima da mesa, que tinha copos vazios e outros tantos ainda a meio, alguns maços de cigarros e pelo menos dois cinzeiros pelo que conseguia ver.
- O que é que estás a fazer? - Perguntei abismada com a ideia de ter que subir também. Ser o centro das atenções não era o meu forte ou sequer aquilo que me aspirava confiança, gostava de manter-me no canto e quanto menos desse nas vistas melhor. Começava a achar que a minha invisibilidade havia desaparecido mal entrara pela porta da casa onde me encontrava. No meu corpo começava a sentir o pânico e esse facto era visível a todos. Pensei que as minhas pernas fossem ficar ainda mais fracas e dessem de si enquanto via Jay sorrir e puxar-me para junto dele, tentei afastar-me.
- Anda, sobe. - Sorriu-me de novo e sem perceber como e porquê, o seu sorriso fez com que parte do pânico que sentia desaparece-se, ainda assim podia jurar que as minhas pernas estavam a tremer fortemente. Coloquei um pé em cima da cadeira e depois outro em cima da mesa, que esperava que aguentasse com o peso de ambos. Jay colocou o braço no ar chamando a atenção de todos os presentes na sala e quase que de imediato a música, que outrora ecoava pela sala, passou a murmúrio de fundo, acompanhado por alguns sussurros dos que ali se encontravam - Esta é a Summer - Anunciou metendo o braço à volta dos meus ombros e apertando-me levemente contra o seu tronco - E aviso-vos que se alguém se meter com ela vai ter problemas sérios comigo. - Olhei para Jay e depois em volta, encarando cada olhar minucioso, embora na verdade não estivesse a ver, a única coisa a que conseguia prestar atenção era ao nó que sentia na barriga e à mão de Jay no meu ombro, puxando-me contra o seu corpo mais alto que o meu.
- Contigo e comigo. - Nathan apareceu na ombreira da porta e de um momento para o outro os olhares estavam colados a si. Olhei-o e este sorria-me, com aquele sorriso a que me costumava a habituar - Esta rapariga é uma das melhores pessoas que conheço, se alguém a magoar ou lhe fizer mal, podem dizer adeus às vossas vidas. Ninguém se meta com ela, é um aviso. - Dirigiu-se à mesa e ajudou-me a descer, acabando por me abraçar de seguida. A música voltou a ribombar o que fez com que deixasse de ser o centro das atenções - Se alguém te chatear diz-me logo. - Ainda agarrado a mim, beijou-me a face. Por momentos achei que já estivesse de certo modo alegre, mas depois de se afastar percebi que a sua cara ainda estava tal como a conhecia e não havia quaisquer sinais de álcool presentes em si, nem cheiro. Lembrei-me que devia estar aborrecida com ele por me ter deixado sozinha numa casa cheia de pessoas que não conhecia.
- Tu! - Acusei-o, apontando o dedo, embora soubesse bem que era falta de educação - Tu deixaste-me sozinha! - O meu tom era acusador e irritado, o motivo não era para menos - E ainda por cima para ires dar uma. - Finalizei. A sua cara de gozo fez com que rapidamente um sorriso aparecesse nos meus lábios e acabasse por me rir da minha acusação - És horrível. - Ri-me com ele, que gargalhava ainda mais alto, atrás de mim Jay também se ria - Jay, bate-lhe, faz algo, ele fez-me mal. - Encarei Jay divertida e ambos se riram ainda mais - Ugh, a sério Nathan, que idiota. - Empurrei-o ao de leve e este voltou a abraçar-me.
- Não dei nenhuma, não me deste tempo. - Olhei-o confusa, afinal de contas eu não tinha feito nada - A música parou e pensei que hum... Houvesse problemas. - Acabou a frase e olhou cumplicemente para Jay. Semicerrei e os olhos e ergui o sobrolho tentando perceber o que ele queria dizer com aquilo, talvez fosse agora que percebesse alguma coisa de Nathan - Tenho que voltar... Bem tu sabes. - Sorriu perversamente enquanto eu revirei os olhos e sorri, acenando afirmativamente - Se precisares de mim liga-me. - Deu-me um beijo rápido na testa para depois se afastar.
- Nathan! Não tenho o teu número. - Afirmei antes deste se conseguir afastar consideravelmente. Rapidamente tirei o meu telemóvel do bolso e passei-o para as mãos de Nathan que digitou e gravou o seu número em menos de um piscar de olhos e colocou o aparelho na minha mão de novo.
- Liga-me se precisares de mim. - Voltou a olhar-me nos olhos. Acenei afirmativamente. - Fica com o Jay, ele trata-te bem de certeza. - Aconselhou-me ainda a olhar-me fixamente com os seus olhos verdes, cheios de segredos. Perguntava-me o porquê de termos deixado de falar, Nathan sempre me fora especial. Ficava feliz por estar com ele de novo, e esperei que talvez ele se abrisse mais comigo, que talvez eu pudesse ajudar de alguma forma. Não sabia o que ele escondia, mas algo me dizia que não era bom. Sorri e acenei afirmativamente - Estou a falar a sério Kay, ele é boa pessoa. - Afastou-se e numa questão de segundos deixei de o ver. Atrás de mim pude ouvir Jay a rir, talvez incomodado com a afirmação de Nathan.
- Kay? - Encarei o rosto de Jay ao meu lado e sorri levemente quando senti a sua mão no meu ombro mais uma vez naquela noite. Talvez falar com estranhos fosse mais fácil do que pensava ou talvez devesse ter seguido os conselhos que nos dão quando ainda somos novos e não devia ter falado com estes estranhos. De certo modo ambos o eram.
- Sim Kay, é o meu nome do meio, as pessoas mais chegadas chamam-me isso. - Declarei sem muito interesse, dando de ombros.
- Hum... Para te chamar isso tenho que fazer alguma coisa? - Perguntou a rir. O ambiente estava menos pesado e conseguia sentir os meus músculos a descontrair. Cruzei os braços sobre o peito.
- Claro. - Assenti, como se fosse a coisa mais óbvia - Tens que me dar algo em troca. Não aceito quase nada, portanto escolhe bem. - Ergui as sobrancelhas e fiz um esgar. Nem todos me podiam chamar de Kay, apenas alguns mereciam e se ele queria ser um dos poucos a fazer tal coisa, teria que se esforçar.
- Aceitas uma bebida? - Os seus olhos azuis brilhavam de excitação e outro sorriso formou-se nos seus lábios. Já havia perdido a conta das vezes que o vira sorrir naquela noite, não sabia se isso era uma boa coisa ou não. Mordi o lábio, sem saber bem o que lhe responder - Uma bebida não te vai fazer mal, prometo. - Segurou-me pelos ombros e interiormente concordei com a sua afirmação, suspirando por admitir tal coisa.
- Está bem. - Fechei os olhos lentamente, esperava não me arrepender da decisão que acabava de tomar. Jay passou ao meu lado pegando na minha mão, mais uma vez e guiou-me pela multidão que ocupava a sala, achei que estava a ser mal-educada por nem saber de quem era a casa onde me encontrava, talvez devesse perguntar a Jay se não devia dizer pelo menos boa-noite ao dono da casa. Chegamos à cozinha e quase senti os meus olhos saltarem, em cima de toda a extensão de bancada de mármore escuro e da mesa estavam garrafas de todas as bebidas que possivelmente conhecia.
- O que bebes? - Perguntou-me, tirando dois copos de plástico vermelho de dentro da embalagem, colocando-os de seguida em cima do pouco espaço livre da bancada. Quem eram eles? E o que é que eu estava ali a fazer? Má ideia Summer, má ideia. Olhei para todas as bebidas sem me decidir.
- Surpreende-me. - Sorri e ele olhou-me surpreendido e divertido. Puxei uma cadeira de madeira escura e sentei-me no confortável almofadado branco, tirando outro cigarro do maço que se encontrava no meu bolso, acendendo o cigarro, sentindo a invasão do fumo nos meus pulmões, causando-me uma sensação de conforto e relaxamento. Olhei para Jay, que se encontrava de costas para mim, envergando um camisa com padrão xadrez em tons vermelhos e por baixo um t-shirt preta, usava ainda umas calças de ganga escura e uns ténis brancos. Na sua cabeça, tapando a maioria dos seus caracóis tinha um gorro preto. Sorri, era simples mas agradava-me, agradava-me mais do que devia até. Levei novamente o cigarro à boca sem dar muita atenção a tal acto e Jay virou-se com dois copos, um em cada mão. Esticou-me um, sorrindo e eu aceitei-o, olhando para o conteúdo.
- O que é? - Perguntei levando o copo perto do nariz para tentar decifrar o que Jay me havia preparado. Sem conseguir perceber o que era olhei para Jay, esperando uma resposta da sua parte. Este sorriu, quase que maliciosamente.
- Prova e diz-me se estou aprovado. - Levou o seu copo à boca dando um golo e depois olhou-me, ainda esperando pela minha resposta. Levei o cigarro à boca, dando-me tempo de me mentalizar que iria ter que beber algo que não sabia o que era. Jay puxou do bolso dos jeans o seu maço de tabaco e colocou um cigarro entre os lábios, acendendo-o depois. Levei o copo aos lábios e senti o álcool escorrer-me pela garganta até ao estômago enquanto queimava tudo por onde passava.
- Ugh Jay, o que é isto? - Fiz uma pequena careta e olhei-o surpreendida - Queres matar-me? - Estava chocada com a quantidade de álcool que estava a ingerir, apesar do toque doce que tinha. Levei o copo mais uma vez aos lábios e ingeri, tentado mais uma vez perceber o que estava a beber. Jay apenas riu.
- Golden strike e red bull. - Respondeu. Tive vontade de cuspir todo o conteúdo que tinha na boca. Não que não fosse bom, mas a ideia de estar a beber uma bebida alcoólica misturada com uma bebida energética não era o meu ideal de bebida. Duas ideias contraditórias misturadas num só copo. Suspirei e sem pensar muito levei o copo de novo à boca, quase que implorando para que este conteúdo se acabasse o mais rápido possível.
- Ok, já percebi que queres mesmo matar-me. - Sorri ainda a sentir o ardor deixado pelo líquido contraditório que bebida. Se não queria matar-me estava perto disso. Jay voltou a rir e levou o copo à boca e depois de engolir levou o cigarro à mesma, inspirando.
- Anda. - O seu típico sorriso apareceu nos seus lábios e eu levantei-me, seguindo-o para sabe-se lá onde. Na sala sentou-se num sofá preto quase lotado e eu sentei-me ao seu lado, ajeitando-me confortavelmente e encarando-o, sem saber o que fazer. Antes que pudesse abrir a boca um rapaz alto e de tez morena chegou e encarou-nos, sorrindo.
- Jay, anda jogar cup-flip. Preciso de alguém que faça equipa comigo. - Conseguia sentir que já estava animado e ri-me com esse facto. Jay olhou para o rapaz e depois para mim, como se pedindo autorização.
- Podes ir, eu não me importo Jay. - Sorri e levei o cigarro aos lábios mais uma vez. Talvez fosse bom ficar sozinha uns minutos ou quem sabe a noite toda. Depois encarei o rapaz que usava umas calças justas pretas e uns ténis brancos de marca Nike, tal como Jay. Trazia ainda uma camisa de ganga clara com uma t-shirt branca imaculada, só Deus sabe como, por baixo. O seu cabelo escuro estava erguido com cera, dando-lhe um ar irreverente.
- Summer, este é o Siva. - Jay levantou-se e apontou para o rapaz visivelmente mais alto que ele. Levantei-me não querendo parecer rude e forcei um sorriso nos lábios, demonstrando simpatia. O facto de estar a conhecer mais pessoas estava a deixar-me fora do meu local de conforto.
- Podes tratar-me por Seev. - O seu sorriso branco fez-se vislumbrar e sorri, ainda que me sentisse de algum modo incomodada e abanei ao de leve a cabeça. Depois Siva olhou para Jay ainda sorrindo - Preciso dos dois para jogar. - Senti o meu estômago revirar-se e ambos tinham os olhos colocados em mim, esperando uma resposta que eu não tinha ou preferia não dar. Siva colocou as mãos nos bolsos e Jay olhou-me minuciosamente.
- Eu não sei... - Para ser franca não sabia mesmo. Ou ficava sozinha, o que não me desagradava de todo e permanecia na minha ignorância ou ia jogar com eles e possivelmente acabava a noite com a cabeça enfiada numa sanita, o que não me pareceu nada tentador. Cerrei o maxilar tentado perceber se queria arriscar ou não. Talvez fosse a minha única hipótese de confraternizar e explorar a vida social, que eu nunca ia perceber.
- Ok, ela vai. - Arregalei os olhos, sentindo que estes podiam possivelmente saltar das orbes e encarei Jay que havia respondido por mim, quase como se própria não estivesse ali para fazer as minhas próprias decisões - Não faças essa cara Summer, uma vez não te faz mal. - E lá estava ele a argumentar com o "uma vez", "uma bebida" e a estar certo de novo. Perguntei-me desde quando é que argumentos tão insólitos serviam para fazer concordar com alguma afirmação.
                                                                              ***
Sentei-me no sofá com Jay e este colocou o seu braço à volta dos meus ombros. Tínhamos perdido após muitas rodadas e a culpa era somente de Siva, que a bem ou a mal, quase se mantinha de pé, com a cabeça encostada no ombro de Josie, a sua namorada, uma rapariga morena de cabelo curto e com um estilo funk. Trazia vestido uns calções de cintura subida estampados e um top curto com o mesmo estampado, por cima do mesmo vestia um colete de ganga claro com alguns rasgos, calçado trazia uns saltos que eu nunca conseguiria usar e na sua cabeça conseguia distinguir um lenço. Ri-me sozinha vendo o estado deplorável de Siva e senti pena de Josie por ter que tratar dele.
Senti Jay puxar o meu corpo para junto do seu e acabei por pousar a minha cabeça no seu ombro e fechei os olhos, sentindo-os pesados demais, talvez devido ao álcool que se apoderava do meu corpo e da minha mente. O braço de Jay à volta dos meus ombros era reconfortante e deixa-me à vontade, embora por um lado me perguntasse o porquê de o deixar fazer tal coisa ou mesmo o porquê de estar naquela festa. Agora que pensava no meu dia, parecia que tinha chegado a Londres há mais tempo do que realmente havia chegado, parecia que conhecia toda esta gente à minha volta há mais tempo do que realmente conhecia e na verdade ainda não conhecia ninguém, estava com eles mas apenas sabia os seus nomes. 
- Estás bem Summer? - Levantei lentamente a cabeça do ombro de Jay e sorri-lhe abertamente, mostrando que estava de facto bem. Este sorriu-me também e retirou o braço, que me fazia sentir protegida, dos meus ombros apalpando os bolsos dos seus jeans escuros, procurando por algo - Vou buscar o meu maço, deve ter ficado na mesa, volto já. - Num movimento rápido beijou-me a bochecha e levantou-se com um sorriso nos lábios. Pisquei os olhos, surpresa, não sabia desde quando é que tinha este tipo de confiança com ele e voltei a recostar-me no sofá. Não consegui perceber o porquê de estar ali ou o porquê de conseguir o álcool na minha corrente sanguínea e ainda não sabia como tudo estava a acontecer. Talvez fosse bom arriscar de vez em quando, talvez fosse bom, eu não me importar. O pensamento era assustador, mas o que me assustava mais era o facto de estar a perder o controlo e gostar da sensação que isso me proporcionava.
Levantei-me o mais rápido possível, tentando manter o equilíbrio, que cada vez me parecia mais distante e difícil de encontrar, desajeitadamente caminhei até Jay que procurava ainda pelo seu maço perdido. Posicionei-me apoiada na mesa, olhando para ele, que parou o que fazia, levando o copo aos lábios ao mesmo tempo que me olhava.
- Vou procurar o Nathan, volto já. - Sorri e roubei-lhe o copo da mão, sem ouvir grandes protestos da sua parte. Levei o copo aos lábios e bebi aquilo que me parecia pelo sabor, drambuie. O meu estômago revirou-se e pude sentir que a expressão na minha cara demonstrava tal facto. Precisava de encontrar Nathan o mais rápido possível, aquela festa estava prestes a tomar outras proporções que eu não queria, provavelmente pelo facto da quantidade de álcool no meu corpo ser mais elevada do que a quantidade de fluxo sanguíneo.
Caminhei em direção às escadas que davam acesso ao piso de cima, levando esporadicamente o copo à boca. Olhei para o cimo das escadas que me parecia muito mais alto do que parecera mais cedo, os degraus haviam duplicado e a tarefa de subir escadas parecia tirada de um filme de acção impossível. Levei a minha mão ao corrimão de modo a tornar a tarefa de subir escadas mais fácil, embora na verdade tenha sido em vão, cada degrau custava mais que o anterior e o seguinte parecia ainda mais alto. Após ter subido as escadas lentamente e com dificuldades procurei porta a porta por Nathan, que não havia meio de aparecer. Perguntava-me se estaria cega demais para o conseguir ver ou se ele teria algum tipo de superpoder que o fizesse viajar em curtos espaços de tempo. Talvez pudesse ter invisibilidade.
Abri a primeira porta do corredor, logo no cimo da escadaria e encontrei um casal, do qual Nathan não fazia parte. Sorri secamente e fechei a porta atrás de mim após ouvir alguns palavrões que me fizeram rir. Talvez para a próxima devessem fechar a porta à chave, poupando tais visões a alheios. Suspirei e passei a mão pelos cabelos afastando-os dos olhos, que já pouco viam. Dirigi-me à porta seguinte e abri-a cuidadosamente, certificando-me que desta vez não interromperia nenhum momento, talvez mais constrangedor que o anterior, mas por sorte ou azar o meu, o quarto estava vazio. Passei mais uma vez os olhos pela penumbra na qual o quarto se encontrava para me certificar que estava vazio e fechei a porta, bufando, apercebendo-me que ali também não iria encontrar Nathan. Talvez devesse ligar-lhe. Levei a mão ao bolso das calças procurando pelo telemóvel ao mesmo tempo que me dirigia para a porta seguinte. Após tirar o telemóvel do bolso, abri a porta que se encontrava à minha frente.
- Desculpa! - Fechei a porta da casa de banho o mais rápido possível e levei a mão à boca, como que impedindo que esta se abrisse. O cheiro pestilento da casa de banho invadiu-me a cabeça e as narinas e quase me podia ver agarrada à sanita com a minha cabeça lá dentro, tal como fazia a rapariga dentro da casa de banho. Cerrei o maxilar e controlei a vontade que tinha de me juntar à rapariga. 
Havia apenas mais uma porta que tentei abrir, mas encontrava-se trancada. Pelo menos alguém tinha cuidado de não ser apanhado em flagrante. Encostei o ouvido à porta certificando-me que do outro lado não ouvia a voz de Nathan, como verifiquei após uns segundos. O desespero começava a tomar conta de mim, queria sair dali, aquele não era o meu ambiente, não pertencia ali. Procurei desajeitadamente o número de Nathan na lista de contactos e carreguei na tecla verde, levando o telemóvel ao ouvido, esperando que Nathan atendesse o mais rápido possível. Após chamar algumas vezes, a chamada foi parar à caixa de correio, desliguei e voltei a meter o aparelho no bolso apertado das calças que trazia.
- Fuck sake Nathan! - Amaldiçoei-o, pensando porque havia confiado nele, embora na verdade soubesse que tinha que me amaldiçoar a mim própria por tal coisa. De uma golada bebi o que restava no copo de plástico vermelho que trazia na mão e dirigi-me às escadas, lembrando-me da dificuldade que seria desce-las. Pé ante pé desci até meio das escadas, deparando-me com algo que não estava a acontecer antes de subir. A pacata festa onde me encontrava havia dado lugar a uma cena de pancadaria. Os gritos ecoavam por todos os cantos da casa, silenciando quase por completo a música que agora ninguém ouvia.
Senti o pânico infiltrar-se em todo o meu corpo, as minhas pernas estavam bambas e cessariam a qualquer momento. Tentei pensar coerentemente, mas pensar custava e pensar coerentemente era quase impossível. O copo vazio que trazia na mão encontrava-se agora no chão devido ao choque que me assombrava. As minhas mãos trémulas estavam erguidas, tapando a minha boca, não querendo acreditar no horrível cenário que acontecia perante os meus olhos. Parecia cada vez mais que a ideia de ter vindo a esta festa tinha sido obscena.
Como que num flash, pensei em Jay e rapidamente esquadrinhei a sala com o olhar procurando por ele. Não percebia o porquê de ter pensado nele naquele momento, mas sabia que podia confiar nele, talvez fosse o seu olhar. Havia algo nele que me cativava e isso era o suficiente para saber que me devia preocupar com ele. Enquanto procurava pelos olhos azuis de Jay no meio da multidão, consegui ver Siva a levar um valente soco no maxilar, enquanto atrás de si estava uma Josie assustada. Ainda no acto desesperado de encontrar Jay, vi Nathan empurrar uma rapariga porta fora, sem não antes a beijar e supus que fosse a sua namorada, Keira uma rapariga de estatura mediana e magra. A sua maquilhagem estava borrada, os seus olhos castanho-escuros, inchados e vermelhos sendo claramente visíveis as lágrimas, que misturadas com maquilhagem, rolavam impiedosamente pelo seu rosto assustado. Nathan afagou o seu longo cabelo degradê em tons de castanho e loiro e beijou os seus lábios uma vez mais antes de fechar a porta e dirigindo-se com toda a força contra outro rapaz, que não me lembrava de ter visto mais cedo. A bem ou a mal, havia finalmente encontrado Nathan, mas as condições não eram as mais propícias para me dirigir a ele. Na minha cabeça parecia uma cena saída de um filme, em câmara lenta, mas na verdade era bem real e tudo estava, ao contrário do que eu pensava, a acontecer mais rápido. Senti a minha respiração tornar-se pesada e contraí o maxilar, pensando que não devia ter colocado os pés fora de casa.
O meu coração parou quando vi Jay. Estava no meio da confusão e sangrava do lábio e do sobrolho. Mordi o lábio, sem saber o que fazer e senti uma adrenalina percorrer-me o corpo como nunca houvera sentido antes. Desci o resto das escadas com uma velocidade e estabilidade que pensava serem impossíveis neste patamar da minha noite e por escassos momentos achei que talvez os degraus não fossem tão grandes ou difíceis de descer. Corri em direção a Jay, empurrando quem se colocava à minha frente. Sem pensar duas vezes empurrei também quem se encontrava em frente a Jay, puxei o meu punho fechado atrás e sem fazer qualquer tipo de pontaria, elevei-o com toda a força que dispunha ao maxilar daquele rapaz de tez tão pálida quanto a minha, fazendo com que o seu rosto se virasse, devido ao impulso do soco que lhe havia dado. Embora o nível de adrenalina no meu corpo fosse elevado, senti a dor espalhar-se pelos meus dedos e inconscientemente permaneci de punhos cerrados até sentir que as minhas unhas se cravavam na pele da minha palma.
Os olhos verdes à minha frente encararam o verde dos meus e senti o meu corpo gelar. O tempo pareceu parar e os gritos à minha volta não passavam de meros sussurros na minha cabeça. Os seus lábios formaram-se num esgar e engoli em seco, pensando se sairia dali com vida. O seu olhar fez-me sentir que estava pregada ao chão. Apesar de querer fugir não conseguia mover-me. A minha mente dizia-me para correr e fugir mas o meu corpo não acompanhava as ordens dadas, o que fez com que um arrepio percorresse todo o meu corpo, a minha respiração tornou-se pesada e de algum modo pensei como era possível ter tantas emoções numa questão de segundos.
- Jay! TIRA-A DAQUI! - Ouvi uma voz familiar, que me pareceu ser de Nathan e pensei que este se encontrava no fundo de um túnel, longe demais para me fazer acordar do meu transe. Antes de ter tempo de me recompor senti umas mãos fortes puxarem-me por entre a multidão, que dentro da minha cabeça estava ainda silenciosa, mesmo que soubesse que era apenas na minha cabeça. O olhar intenso daqueles olhos foi rapidamente cortado e quase me pude sentir a respirar de novo. Olhei para as mãos que me agarravam e apercebi-me que pertenciam a Jay, um alívio percorreu o meu corpo e senti-me mais leve por saber que era ele quem me segurava e que apesar dos ferimentos no rosto, ele estava bem. Olhei por cima do ombro, tentando encontrar aquele par de olhos verdes que me faziam tremer da cabeça aos pés uma vez mais, mas tudo o que vi foi mais pancadaria. Suspirei e tentei esquecer as imagens daqueles olhos intensos e que me davam arrepios. 
- Summer, desculpa não queria meter-te nisto. - Jay segurou a minha cara entre as suas mãos quentes e sorri por tal acto, mesmo que o ambiente não fosse o mais propício para tal reação. Abriu a porta e puxou-me com ele, entrelaçando os dedos aos meus e atravessamos para o outro lado da rua. Jay olhou várias vezes à nossa volta. Indaguei se estaria a confirmar que não estávamos a ser seguidos por ninguém - Vou levar-te a casa, diz-me onde é. - A voz de Jay era mais grave do que conhecia até ali e conseguia notar que estava descontente com a situação, irritado talvez. Encarei-o e consegui ver os músculos do seu maxilar contraídos e as narinas visivelmente expandidas, permitindo que a sua respiração ofegante se tornasse ainda mais audível. A tensão que pairava no ar era indiscutivelmente intensa e dura demais. O nosso passo era acelerado e pesado, enquanto Jay me puxava pela mão.
- Jay... - Fiz uma pausa, escolhendo as palavras correctas e posicionando-me ao seu lado. O seu olhar pousou sobre o meu e pude ver que estava desiludido, não comigo mas consigo mesmo - Não tens de te preocupar, a sério. Eu estou bem, já tu não podes dizer o mesmo. - Olhei para o seu rosto ensanguentado e vi Jay olhar-me pelo canto do olho - Dói-te? - Apontei para o seu olho e de seguida para o seu lábio também aberto e coberto por um tom escarlate.
- Não, isto não é nada, não te preocupes. - Com a manga da camisa que trazia limpou o sangue que escorria de ambos ferimentos e dirigiu-me um sorriso, que percebi ser para me tranquilizar. Sorri de volta, tentando transmitir que havia sucedido positivamente no acto de me tranquilizar, embora tal não tivesse acontecido. Olhei em frente e guiei-nos até à porta que já me era conhecida, deixando que o silêncio falasse por nós. Sabia que havia mil e uma questões que tinha de perguntar, obter respostas e perceber o que havia acontecido, mas também sabia que não era o melhor momento e que Jay não me iria contar nada, estava perturbado demais para o fazer.
- Chegamos. - Paramos em frente ao portão negro e lentamente soltei a minha mão da sua - Não te preocupes com o que aconteceu hoje, a sério Jay. - Encarei os seus olhos azuis que me transmitiam segurança - Obrigado por me teres trazido a casa. Até amanhã. - Sorri e virei costas, abrindo o portão da entrada.
- Summer... - A mão de Jay agarrou o meu braço e senti o meu corpo virar-se novamente para ele. Os nossos corpos ficaram, pelo que me parecia, demasiado perto e encarei os seus olhos procurando por algo que não encontrava - Desculpa pelo que se passou. E quero que saibas que tens um bom punho direito. - Sorriu em tom de gozo demonstrando a sua dentição alinhada e branca e senti-me encolher, relembrando o facto de ter esmurrado alguém. Suspirei em tom de desaprovação.
- Já sabes que não te podes meter comigo. - Revirei os olhos e dei de ombros, permitindo que um ligeiro sorriso fosse visível no meu rosto - Boa noite Jay. - Despedi-me mais uma vez naquela noite e pensei no quão estranha a minha noite tinha sido.
- Desculpa. - Ouvi mais uma vez a voz de Jay e sem ter tempo de lhe responder que não havia problema, os seus lábios rosados e quentes chocaram contra os meus e a sua mão deslizou para a minha nuca, pressionando-a ligeiramente. Sem saber o que fazer, fechei os meus olhos e senti as minhas pernas tremerem. Os suores frios tomaram conta do meu corpo e sem me ter apercebido abri ligeiramente os meus lábios, permitindo que Jay aprofundasse o beijo. Senti o meu coração a vibrar freneticamente debaixo da pele. A minha mente estava zonza e o meu corpo em total êxtase. Lentamente ergui os meus braços à volta do seu pescoço, relembrando o que estava habituada a ver em filmes e perguntei-me se era correcto fazer tal coisa. Jay quebrou o beijo e encostou a sua testa à minha, fazendo-me lembrar algo saído de um romance - Estava à espera de levar um soco. - Disse em tom de gozo fazendo-me abrir os olhos surpresamente. Afastei-me do seu corpo sem conseguir proferir uma palavra. Estava confusa demais e fora da minha zona de conforto.
- Não sei se te posso desculpar depois disto. - Queria responder coerentemente, se possível, mas o álcool presente no meu sangue era ainda bastante elevado, a pureza tinha sido corrompida há muito. Abri o portão e entrei de seguida fechando-o atrás de mim - Até amanhã. - Com um sorriso amplo Jay levou a mão à cabeça, como que imitando uma continência ao estilo militar e girou sobre os calcanhares, voltando à direção de onde havíamos chegado. Ainda em choque retirei a fita com as chaves de volta do pescoço e abri a porta silenciosamente, dirigindo-me de seguida para o meu quarto. Retirei todos os pertences desajeitadamente dos bolsos e descalcei-me e vesti o pijama presente em cima da cama, que logo de seguida abri e me deitei confortavelmente.
Interiormente debatia-me sobre o porquê de ter ido com Nathan aquela festa. Não encontrava uma resposta decente que me servisse. Ou uma desculpa humilhante para tal. Perguntava-me ainda o porque dos problemas virem ter comigo, eu não fazia nada de mais para os trazer para perto mim, na realidade tentava manter-me mais longe possível deles. Não sabia o que estava a fazer, se é que alguma vez tinha sabido isso.


Personagens: 

Keith Adams

Jay McGuiness


Siva Kaneswaran


Josie Scott

Keira Hurley

Harry Styles



Espero que tenham gostado babycakes. 
Isto ainda vai no início mas ainda assim gostava de saber as vossas opiniões. Digam-me o que acham. (:

With love, J. xx 

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Capítulo 1: Leaving on a jet plane


All my bags are packed, I'm ready to go
'Cause I'm leaving on a jet plane
I don't know when I'll be back again
I don't know when I'll be back again

Blink 182 - Leaving On A Jet Plane

Despedi-me da minha mãe com dois beijos na face e repeti o acto com o meu pai, que me afagou o ombro - Porta-te bem. - Levantei a mala castanha de ombro do chão e coloquei-a ao mesmo, preparando-me para seguir para dentro do aeroporto, até ao local do embarque, após ter o check-in feito.
- Sim claro, eu porto. - Fiz um sorriso para os acalmar, pois sabia que tudo ia correr bem. Olhei para o relógio de pulso, faltavam quarenta-e-cinco minutos para a descolagem do avião - Bem tenho que ir, ainda tenho que andar um pouco até à porta do meu embarque. - Sorri mais uma vez aos meus pais e estes deram-me um abraço.
- Manda beijinhos à tua tia filha. - Acrescentou a minha mãe antes de eu ter tempo de virar costas.
- Sim, eu mando, não te preocupes. Agora tenho mesmo que ir. Beijinhos. - Ajeitei a mala ao ombro mais uma vez e virei costas, ainda a ouvir os meus pais a despedirem-se de mim. Na verdade despedidas nunca me haviam custado muito, nunca sentia a necessidade de me despedir com muita tristeza. Afinal de contas, as despedidas são para os mortos e não para os vivos. Olhei uma vez para trás e sorri, abanando a mão em sinal de despedida.
Com o check-in já feito, só tive que me encaminhar para os corredores que me iriam levar até à porta do meu embarque. Porta número 33. Suspirei, ainda tinha que andar um pouco e o tempo já não era muito. Acelerei o passo, certificando-me que não perderia o avião que me levaria até Londres.
***
O avião estava prestes a aterrar, da janela que se situava ao meu lado direito já conseguia ver a cidade, o Big Ben, o London Eye. Conseguia ver tudo em miniatura. - "Caros passageiros estamos prestes a aterrar, agradecemos que coloquem os cintos... - Acabei por não dar atenção ao que o piloto dizia, já sabia o que tinha que fazer. Coloquei o cinto, certifiquei-me que a prateleira que se situava aplicada no banco à minha frente estava fechada e para não sentir a demasiada pressão do ar nos ouvidos, abri a mala e da mesma tirei uma pastilha, que me iria ajudar a passar pelo momento da aterragem. Sentei-me confortavelmente, esperando pela aterragem e para que pudesse depois sair do avião calmamente.
***
Depois de já ter o trolley de viagem, que ainda demorou algum tempo a chegar, encaminhei-me para a saída do aeroporto para apanhar o metro até Londres, onde a minha tia Ashley estaria à espera com a minha prima Emma. Comprei o passe Oyster para os três meses que passaria em Londres, e desci para o metro, que partiu pouco tempo depois de ter chegado à ampla plataforma. A viagem demorou cerca de quarenta-e-cinco minutos, pelo que me tinha apercebido. Saí na estação de Victoria, e mal coloquei os pés fora do metro, vi a minha tia, com Emma ao colo, à espera no sítio do costume. Puxei os headphones para trás de modo a ficarem em torno do meu pescoço desprotegido de qualquer tecido, devido ao calor que se fazia sentir em Londres. Caminhei com um sorriso em direção à minha tia, que me sorria também, com o mesmo sorriso de que me lembrava desde sempre. Esta pegou na mão de Emma e fez um aceno, fazendo com que Emma repara-se em mim, sorrindo também.
- Oh Summer, chegaste finalmente, estava a ver que te tinha acontecido algo. - Afagou-me o rosto com a mão livre e depois abraçou-me - Como estás?
- Olá tia, eu estou bem e vocês? - Desfiz-me do abraço apertado dela e encarei-a, sempre sorrindo e dando um pequeno beijo na testa de Emma. Estava de facto feliz por estar de volta a Londres, a cidade que me recebia todos os anos no verão.
- Eu também estou bem como podes ver! - Afastou-se e pude ver que estava mais em forma do que da última vez. Os quilinhos a menos davam-lhe de facto um aspecto mais elegante e uma aura de felicidade. Ficava feliz por saber que ela estava feliz.
- Mais elegante, estou a ver! - Exclamei com alguma felicidade patente na voz. - Ah! Os meus pais mandaram beijinhos e abraços e todas essas coisas que já sabes. - Ajeitei a mala castanha que trazia ao ombro - E tu? Estás muito grande desde o ano passado Emma. - Passei o dedo no seu nariz e sorri-lhe, em retorno recebi um sorriso também. - Espero que tenhas feito chá para o nosso lanche. - Olhei para o relógio de pulso, dando-me conta que estava completamente errado devido à mudança de hora - Bem, se ainda forem horas do lanche claro. - Ri-me.
- Oh filha, já são mas é horas de jantar! O chá fica para amanhã, prometo. - Olhei para ela de sobrolho erguido e sorrindo. Nunca me iria habituar ao facto de haver esta mudança horária, sempre que viajava para Londres. - Já são nove horas, Summer. - Disse-me apercebendo-se que me sentia perdida no tempo.
- Pois, sabes que nunca me vou habituar a estas mudanças de horário, tia. Ainda não tenho muita fome como podes adivinhar, em Toronto seriam provavelmente horas do lanche. - Ri-me e a minha tia passou-me a mão pela face.
- Estás a ficar tão crescida e eu a ficar tão velha. - Soltou uma leve gargalhada, que fez com que as suas rugas de expressão fossem ainda mais evidentes. Os seus olhos verdes, como os de quase toda a família, expressaram uma grande felicidade, talvez devido ao facto de me ter com ela. O pensamento fez-me sorrir abertamente. - E olha para a Emma, parece que foi ontem que a tive, e já passaram cinco anos! O tempo passa a correr... - Passou a mão pela cabeça da filha e sorriu de novo.
- Ei, que exagero tia! Ainda és nova, ainda te falta muito tempo para não teres que me aturar mais! A mim e à Emma, ela está grande mas as tuas dores de cabeça ainda nem começaram. - Ri-me e coloquei o braço em volta do seu pescoço e beijei-lhe o cabelo acastanhado com alguns jeitos. - Vamos andando? - Perguntei, por saber que ainda iríamos andar um pouco até à habitação onde vivia a minha tia, Emma e o seu cão, King Óscar, um pittbull francês preto.
- Claro, ainda tenho que fazer algo para comermos. Queres que leve a tua mala? - Perguntou apontando para o trolley preto às bolinhas brancas, onde trazia o que necessitava para o verão.
- Não, claro que não, eu levo, não te preocupes, tu tens que levar a Emma. - Peguei na asa do mesmo e comecei a puxá-lo atrás de mim, à medida que andávamos na direção que já me era conhecida. Andaríamos cerca de dez minutos a pé até chegarmos a casa da minha tia.
***
Viramos à direita, e caminhamos em direção a casa da minha tia, que se situava naquela rua. Passamos três portas e paramos em frente à quarta, abrimos o portão preto, o típico portão de entrada londrino, e a minha tia apressou-se a abrir a porta também preta, para que eu pudesse pousar por fim todos os pertences que trazia comigo.
- Bem já sabes onde ficas, vai arrumar as tuas coisas que vou fazer algo rápido para o nosso jantar. - Pousou Emma no chão e esta começou logo a caminhar em direção ao sofá onde se sentou e ligou a televisão, sorri ao aperceber-me que a minha tia tinha razão e que o tempo passava a correr. Peguei nas minhas malas e arrastei-as para o andar de cima onde se situavam os quartos. Abri a porta do quarto onde iria passar o verão. De facto não era muito grande. Tinha uma cama de casal em tons brancos e pretos, centrada na parede, com uma mesa-de-cabeceira de cada lado, em frente uma cómoda preta, a condizer com o resto da mobília, por cima desta encontrava-se um espelho. Tinha ainda um roupeiro na parede e um cadeirão branco, onde normalmente acabava por pousar a minha mala.
Caminhei em direção à cama onde pousei a grande mala castanha que trazia ao ombro, de seguida, como previsto, coloquei a mala com os meus documentos no cadeirão branco e por fim, meti também o trolley em cima da cama. Antes de começar as arrumações, desci ao piso inferior e certifiquei-me que a minha tia não precisava de mim.
- Não Summer, não preciso de ajuda. Vai arrumar as tuas coisas vá, andor. - Enxotou-me com o pano de cozinha fazendo-me rir enquanto caminhava para fora da cozinha.
- Já estou a ir, já estou a ir! - Defendi-me e subi as escadas a correr. De volta ao quarto, abri as malas e arrumei tudo na cómoda e no roupeiro, colocando sempre de parte tudo o que fosse para levar para a casa de banho. Depois de tudo arrumado, abri o meu portátil em cima da cama e liguei-o.
- Summer, vamos jantar. - Olhei para a minha tia que se encontrava à porta do quarto e sorri, acenando afirmativamente.
- Já estou a ir. - Levantei-me da cama e descemos as escadas, em direção à cozinha, onde Emma já estava sentada na sua cadeira. - Olá! - Fiz uma careta e ela riu-se - Vais comer tudo, não vais? - Olhei para ela que ainda se ria.
- Vou. - Afirmou não só verbalmente mas acenando também com a sua cabeça, fazendo com que os seus cabelos aloirados se agitassem desajeitadamente.
- Parece-me bem, porque se não comeres tudo sabes o que é que acontece? - Perguntei sentando-me ao seu lado.
- O quê? - Abriu os seus olhos azuis com curiosidade.
- Se não comeres tudo acaba-se o Disney Channel. E... - Levei a mão ao bolso das calças - Não podes comer isto depois do jantar. - Mostrei-lhe um chupa-chupa. Olhei para a sua cara e esta estava iluminada com um grande sorriso e olhos brilhantes - Portanto é bom que comas tudo. - Pousei o chupa perto do meu prato e a minha tia começou a servir-nos.
                                                                              ***
No final do jantar acabei por dar a recompensa a Emma que como esperava terminou tudo o que se encontrava no seu prato. Depois ajudei a minha tia a levantar a mesa e a colocar os pratos na máquina.
- Querida não precisavas de me ajudar, a sério. - Ouvi a minha tia a dizer pela milésima vez naquela noite. Suspirei encostada à bancada da cozinha.
- Tia não me custa nada ajudar-te. Além do mais assim é da maneira que tenho algo para fazer. - Sorri. E era completamente verdade. Apesar de gostar de passar todos os Verões com a minha tia, sempre que a noite chegava nunca tinha planos para me entreter, para além do meu computador. Ou da minha máquina fotográfica. Suspirei, sabia que tinha que arranjar planos e actividades para me entreter.
- Uh-hm, não me parece. Avisei o Nathan que voltavas este verão. Cheira-me que ele deve aparecer por aí daqui a pouco. - Na cara da minha tia pude ver um largo sorriso. Ela sabia o que estava a fazer. Sorri ao lembrar-me de Nathan e de como por vezes costumávamos brincar, até ele ter desaparecido do mapa.
- Ele voltou? - Perguntei espantada, não ouvia uma única palavra sobre o Nathan há anos e o facto de a minha tia lhe ter dito que vinha estava a deixar-me confusa.
- Sim, há uns largos meses. Não me perguntes onde andou, sinceramente não sei. Mas está com bom aspecto. - Sorriu quando me olhou - E como no outro dia ele passou cá por casa, avisei-o. Fiz mal? - Senti algum receio na sua voz, mas de facto não sabia o porque desse receio, ela sabia que apesar de não falar com Nathan há anos, eu e ele sempre nos déramos bem. Sorri abertamente, mostrando-lhe que não havia problema nenhum no seu acto.
- Claro que não faz mal tia. Até te agradeço, sabes que eu e fazer amigos é complicado. - Franzi o nariz com a afirmação e a minha tia soltou uma pequena gargalhada. A verdade é que eu me dava melhor sozinha do que acompanhada e fazer amizades e ter relações não era o meu forte. Se calhar estava destinada a ser uma solitária para sempre.
- Vou deitar a Emma. - A minha tia anunciou deslocando-se para a sala - Se a campainha tocar é o Nathan quase de certeza. - Olhou para trás e sorriu, vendo-me assentir enquanto nos meus lábios de formava um sorriso sincero. Recostei-me na bancada, suspirando. Perguntava-me a mim mesma o que se tinha passado na vida de Nathan e como é que ele estaria, os anos haviam passado e decerto que ele estava diferente, tal como eu mesma. A verdade é que estava curiosa para lhe perguntar o que se havia passado e por onde é que ele tinha andado, ele sempre fora o meu amigo londrino que esperava por mim todos os Verões para voltar e me levar a passear na sua bicicleta ou para jogar ding-dong ditch. Lembrava da primeira vez que jogáramos isso, e eu quase fora apanhada se ele não me puxasse. Apanhei-me a mim mesma a sorrir com tal lembrança. Eu tinha saudades dele.
A campainha tocou e despertou-me do meu transe. Sorri ao saber quem era e quase corri para abrir a porta. Senti uma onda de felicidade a percorrer-me o corpo. Era estranho o facto de sentir algum tipo de amizade por Nathan, já não o via há anos e o facto de o meu circulo de amigos ser deveras reduzido fazia-me pensar o porque de estar a sentir esta felicidade. Afinal de contas relacionamentos não faziam parte dos meus conhecimentos, na verdade eram bastante reduzidos, a maior parte das vezes era inconveniente ou estranha. Ainda me perguntava como era mesmo capaz de ter amigos ou porque os tinha.
Coloquei a mão na maçaneta da porta e abri-a mais rápido do que pretendia. Os meus olhos assentaram em alguém que eu desconhecia, mas aqueles olhos eram os mesmo e isso foi o suficiente para que os cantos da minha boca se curvassem para um pequeno sorriso. No momento seguinte os braços de Nathan estavam em meu redor num abraço apertado. Lentamente coloquei os meus braços em seu redor também, sentido a estranheza de que era ter aquela pessoa a tocar-me. Não estava habituada a que me tocassem, principalmente rapazes.
- Kay! Oh meu Deus, estás tão diferente! - Afastou-se do meu corpo agarrando-me pelos ombros enquanto encarava o meu rosto. Um sorriso estava estampado no seu, e desconfiava que um pouco de surpresa também, não era para menos, eu estava diferente. Ele estava diferente.
- Não podes falar muito. - Disse com desdém, o que fez com que o seu sorriso se tornasse numa pequena gargalhada, o que me fez pensar o que tinha dito para este tipo de reacção.  
- Afinal não mudaste tanto - Disse entre gargalhadas - Continuas a dizer o que te passa pela cabeça. - Voltou a abraçar-me e um pequeno sorriso nasceu nos meus lábios, mais uma vez naquela noite.
- Eu vou ser sempre a mesma pessoa. - Respondi vagamente. E não era mentira. Eu iria sempre dizer o que tinha em mente, fosse para o bem ou para o mal - Acho que tens muito que me explicar Nathan. - Suspirei olhando-o nos olhos que tão bem conhecia, ou achava conhecer. O seu sorriso desapareceu e os seus lábios formaram uma linha inexpressiva. Nesse momento soube que haviam muitas coisas que eu não sabia e que ele provavelmente preferia não falar. Se calhar era melhor para o meu bem eu não saber, não queria mudar a ideia que tinha dele.
- Podemos falar disso noutro dia Kay? - Segurou-me a cara entre as mãos e beijou-me a testa e de seguida olhou-me directamente nos olhos. Assenti ligeiramente, mas na verdade queria saber o que se passava. Queria saber quem ele era e o que o tinha feito desaparecer. O seu olhar desviou-se do meu e olhando por cima do meu ombro pude ver que a minha tia tinha entrado na sala. - Boa noite Sr. Ashley. - Nathan sorriu amavelmente.
- Boa noite Nathan! - Disse divertida - Filha vão ficar aí à porta ou vais deixar o Nathan entrar? - Olhei para a frente e pude ver que ainda nos encontrávamos à porta. O meu sentido de boas-vindas não era provável o melhor. Ouvi Nathan rir ligeiramente. Sorri ao aperceber-me que gostava de o ouvir rir.
- Não é preciso Sr. Ashley. Vinha perguntar-te se queres ir dar uma volta por aí, tenho umas pessoas que queria que conhecesses. Importa-se que a leve? - Olhou para a minha tia. Perguntava-me desde quando é que a minha tia respondia por mim. Olhei-a indignada.
- Sabes que estou à tua frente, certo? - Ergui o sobrolho e virei-me para a minha tia, que sorria - Importas-te tia? - Ela abanou negativamente dando-me luz verde para sair com Nathan - Espera só um pouco, vou só buscar um casaco, não quero correr riscos de ter frio. - Subi a escadas a um passo que me pareceu ser rápido demais, talvez fosse da excitação.
Abri a porta do quarto, abri o roupeiro e desajeitadamente retirei um casaco de malha grossa do seu cabide e apressei-me a vesti-lo. Olhei-me rapidamente ao espelho, o meu cabelo estava despenteado e o meu rosto mais pálido que o costume. Revirei os olhos perante a figura que apresentava no espelho e suspirei. Rapidamente retirei da mala, que ainda se encontrava no cadeirão branco, o telemóvel, a pequena carteira com algum dinheiro e o maço de tabaco. Coloquei tudo nos bolsos que tinha ao meu dispor e encaminhei-me para as escadas ao mesmo tempo que tentava ajeitar o cabelo.
- Vamos? - Perguntou-me Nathan mal me viu no fundo das escadas. Assenti e encaminhei-me à minha tia, que me esticou uma fita de colocar ao pescoço com uma chave, sorri e deixei que ela a pousa-se na minha mão.
- Até logo tia. - Dei-lhe um pequeno beijo na bochecha e ela afagou-me o cabelo - Vou tentar não voltar tarde.
- Está bem querida. Juízo. - Sorriu e desta vez passou a sua mão pela minha cara. - Até amanhã.
- Até amanhã. - Despedi-me e virei-me para Nathan que me esperava com um sorriso no rosto, do lado de fora da porta. Ao sair de casa fechei a porta com cuidado e antes de me arriscar a perder a chave da mesma coloquei a chave ao pescoço, certificando-me que desta forma não a perderia com facilidade.
- Então... - Nathan fechou o portão atrás de nós - Onde vamos? - Colocou-se ao meu lado enquanto começávamos a caminhar, com as mãos nos bolsos das calças. Olhou-me divertido o que me fez olhar para ele, desconfiada. Esta situação tornava-se cada vez mais estranha na minha cabeça, estava quase com um desconhecido a caminhar nas ruas de Londres, dirigindo-me para um sítio desconhecido, para conhecer pessoas. Esta noite tinha realmente virado para um lado que não estava à espera.
- Vamos a casa de um amigo meu. - Respondeu-me calmamente e depois olhou para mim. Forcei um sorriso. Gostava dele, e ele saberia provavelmente isso, o que estava a tornar esta situação complicada era o facto de eu saber que ia conhecer amigos dele. Suspirei. - Ainda com problemas em fazer amigos, estou a ver. - Riu-se e colocou o braço por cima dos meus ombros, enquanto eu o olhava de uma maneira mortífera.
- Não tenho problemas em fazer amigos. - Ripostei secamente, revirando os olhos - Só não me sinto à vontade com desconhecidos. - Tentei explicar, acabando por meter a mão ao bolso para retirar um cigarro de dentro do respectivo maço.
- Eu sou um desconhecido. - Falou como se não fosse nada. Mas ele tinha uma certa razão e ao mesmo tempo eu achava que ele estava errado. Não conseguia explicar, para mim ele era de facto um estranho que eu não via há anos, mas por outro lado era o Nathan que eu conhecia desde sempre. Era uma conclusão complicada.
- Tu não és um estranho... - Coloquei o cigarro entre os lábios e com a ajuda de um isqueiro acendi-o, expirando depois o fumo.
- WOOOOW, Kay! - Nathan parou e olhava-me chocado, olhei-o estupefacta e um quanto assustada, afastando o meu corpo do seu, devido ao pequeno grito de surpresa que ele tinha dado.
- O que foi? - Perguntei exaltada - Tu não és um completo estranho... És mais ou menos. - Tentei sorrir, com a minha conclusão e ele sorriu-me voltando a meter o braço por cima dos meus ombros e retomávamos caminho.
- Não é isso, não fazia ideia que fumavas. - Tirou-me o cigarro da boca e colocou-o na sua, inspirando o ar através do mesmo, depois devolveu-me o cigarro e expirou o fumo.
- Bem, há muitas coisas que não sabes Nathan. - Encarei a rua à minha frente, pensando no quão verdade seria aquela afirmação e levei de novo o cigarro aos lábios, repetindo uma vez mais o acto de inspirar o ar através do cigarro e depois expira-lo - Há muitas coisas que eu não sei... - Encarei o seu rosto. Por momentos podia jurar que os seus olhos verdes eram escuros e intensos. Senti um arrepio correr-me o corpo e tentei ignorar.
- Kay, hoje não vamos falar disso, quero que te divirtas, ok? - Olhou-me e apertou-me contra si, massajando o meu ombro com a sua mão. Acenei afirmativamente e suspirei. Sabia que ele não queria falar sobre o que se tinha passado, mas eu sentia que a minha curiosidade era mais elevada que a sua teimosia.
- Eu não me vou esquecer, sabes disso. - Foi a última coisa que disse. O resto do caminho até 'Deus-sabe-lá-onde' foi em silêncio, que de alguma forma senti que falou por nós, que disse o que havia ficado por dizer. A mão de Nathan continuava apertada no meu ombro o que me transmitia segurança, talvez a segurança que nunca tinha sentido com alguém antes e sorri com o facto.

Personagens:
Summer Evans



Tia Ashley

Emma

Nathan Sykes

sábado, 20 de julho de 2013

Prefácio.


Prefácio: Summer Evans, foi passar mais um Verão em Londres a casa da sua tia Ashley. O que não esperava era reencontrar um amigo de infância, com o qual concorda em ir a uma festa, apesar da sua pouca experiência social. Após um incidente na festa, Summer cruza-se com Harry Styles e o seu gang. O que ela não sabia era que a sua vida mudaria totalmente depois dessa noite.