Over futile odds
And laughed at by the gods
And now the final frame
Love is a losing game
Amy Winehouse - Love Is A Losing Game
And laughed at by the gods
And now the final frame
Love is a losing game
Amy Winehouse - Love Is A Losing Game
Sentei-me
no banco de uma paragem vazia, observando o pouco movimento que havia,
provavelmente devido às horas tardias e por ser um dia de semana. Sentia o meu coração
bater ligeiramente mais célere, incomodando-me o suficiente para me achar
ridícula por tal, afinal de contas não era habitual que semelhante situação
acontecesse.
- Tens
alguma coisa contra convívio público? – Perguntou aquela voz que já conhecia,
mais do que devia. Olhei e pude ver Jay encostado à paragem com um sorriso nos
lábios e mãos nos bolsos dos jeans escuros que trazia. Envergava também uma
camisa axadrezada azul e branca, com as mangas enroladas até meio do antebraço
e uns Vans pretos que denotei serem bastante usados. Comparativamente aos meus, que ainda apresentavam um ar novo e de pouco uso.
- Não. Mas
prefiro estar sozinha do que mal acompanhada. – Defendi-me em tom de desdém,
fazendo Jay soltar uma gargalhada, enquanto ao mesmo tempo me esticava a sua
mão, que agarrei, puxando-me de modo a fazer-me levantar.
- Então
isso quer dizer que eu sou uma boa companhia. – Afirmou sorridente, puxando-me
para junto de si. Senti o calor seu corpo contra o meu e tentei não mostrar o
desconforto em que me colocara quando as suas mãos encontraram o fundo das
minhas costas e os seus olhos encararam os meus intensamente, quase que sugando
todo o ar dos meus pulmões.
- Não.
Quer dizer que estou a abrir uma excepção. – Ergui o sobrolho e exibi um
sorriso de troça, sem desviar a atenção dos seus olhos penetrantes. Apesar de
minha intenção de responder de uma forma inteligente, o facto de me encontrar
numa posição à qual não estava habituada fazia com que o meu raciocínio
estagnasse e começava a achar que era complicado abstrair-me da mesma. Jay riu
sonoramente, deixando a sua cabeça descair para o lado e de seguida mordeu o
lábio inferior, ligeiramente arroxeado desde a noite anterior. Desejei
intensamente que não o tivesse feito.
- Espero
ser a tua única excepção, então. – Ergueu as sobrancelhas com a sua própria
afirmação e ri-me com tal expressão. A verdade é que me sentia bem com Jay e
embora soubesse que estava provavelmente a enveredar por um campo de minas
pronto a explodir a qualquer momento, a vontade de seguir em frente e
enfrentar o perigo era maior do que a vontade de fugir e colocar-me a salvo.
- Eu
aviso-te se não fores. – Respondi divertida, enquanto pegava na máquina que se
encontrava ao meu pescoço e a colocava a tiracolo, permitindo com que o pequeno
espaço entre nós fosse fechado.
- Sobre
ontem… - Começou por dizer e ergui o meu olhar até encontrar o seu, onde
denotei, talvez preocupação. Agradeci o facto de Jay não tentar esconder o que
se havia passado tal como Nathan parecia gostar de fazer e apreciei que este
falasse sem ter que ouvir questões e insistências por parte da minha pessoa –
Espero que não tenhas ficado assustada. – Passou a sua mão pelo meu rosto e afastou
alguns cabelos que se encontravam caídos sobre o mesmo. Adoptei uma postura
mais rígida e inspirei uma golfada de ar, preparando-me para falar.
- Não
fiquei assustada… – Disse mordendo o lábio de seguida, procurando uma resposta
adequada – Mas não estava à espera, fui apanhada desprevenida. – Suspirei sem
saber o que poderia dizer sobre o assunto, de facto havia sido apanhada
desprevenida e certamente não estava assustada, talvez porque não tivera tempo
de perceber o que se passava. – Acho que foi mais chocada… Não sei. Acho que
nem tive tempo de sentir mais alguma coisa. – Sorri e Jay puxou-me para junto
do seu peito, fazendo com que o seu cheiro doce invadisse as minhas narinas e
me fizesse sorrir ainda mais.
- O Nathan
disse-me que tinhas a mão inchada. – Riu zoando da situação, pegando na minha
mão inspecionando-a, depois levou-a aos lábios, beijando-a. – Pronto, agora não
te dói mais. – Ri-me com o seu acto, apercebendo-me que acabara de me tratar
como se fosse uma criança.
O som do
telemóvel que calculei ser de Jay soou, não me dando oportunidade de lhe responder
e de gozar com a sua atitude infantil. Tentei afastar o meu corpo do seu,
dando-lhe o espaço que necessitava e quase que instintivamente o seu braço fez
pressão para que os nossos corpos continuassem próximos um do outro.
- Diz. –
Disse assim que atendeu a chama que recebia e levava o telemóvel ao ouvido. Esforcei-me
para não ouvir a sua conversa, mas o facto de estar incrivelmente próxima de si
tornou tal acto impossível – Sim puto,
vou já. – Concentrei-me no cheiro que emanava da sua camisa e apreciei o calor
no qual me encontrava, sentindo-me reconfortada.
Talvez
fosse um erro permitir sentir-me bem no seu abraço, mas a realidade, embora
quisesse negá-lo, era que gostava de estar perto dele, mesmo sabendo que era um
completo estranho. Quiçá o facto da minha vida amorosa ser inexistente até este
ponto da minha vida me fizesse sentir que devia proteger este possível
relacionamento e deixar que Jay fizesse parte da minha vida, mesmo sabendo que
seria somente de curta duração. Sentia-me perturbada, e não queria que isso
acontecesse agora. Não agora. Ignorei o pensamento,
saboreando o momento, reflectindo que o Verão havia apenas começado.
- Está
bem. Até já. – Ouvi Jay despedir-se, desligando o telemóvel e colocando-o de
novo no bolso das calças. – Vou ter de ir, o Nathan já está à minha espera. –
Encarou-me e tive a ligeira noção de que a sua vontade era de ficar. – Queres
que te leve a casa? – Perguntou segurando no meu queixo com a sua mão, fazendo
com que o meu corpo estremecesse com o seu toque.
- Não,
obrigado. – Agradeci sorrindo. Interiormente queria que ele ficasse comigo, mas
sabia que não podia pedir-lhe isso – Vai para a tua festa, não quero que
chegues atrasado. – Gracejei, tentando não mostrar o descontentamento por Jay
ter que me deixar e este riu-se sonoramente, antes de aproximar os seus lábios
dos meus, que entreabri ligeiramente permitindo que as nossas línguas de
encontrassem. As suas mãos no fundo das minhas costas puxaram-me para junto de
si e qualquer espaço existente entre nós desapareceu. Deixei que os meus braços
rodeassem o seu pescoço e que as minhas mãos acariciassem os seus caracóis
rebeldes.
Afastou-se
ligeiramente quebrando o beijo, o que me fez abrir os olhos vagarosamente e
contemplar o sorriso caloroso patente no seu rosto, fazendo com que os meus
lábios se curvassem num semelhante.
- Diz-me
quando chegares a casa. – Pediu-me e assenti com um leve aceno afirmativo – Até
amanhã. – Voltou a dar-me um beijo ao de leve nos lábios e começou por se
afastar, sem nunca dissipar o seu olhar do meu.
- Até
amanhã. – Despedi-me também colocando uma mecha de cabelo para trás. Jay
desapareceu rapidamente do meu campo de visão e senti um alívio percorrer-me o
corpo, enquanto por outro lado desejava que este não tivesse partido. Suspirei
audivelmente, sabendo que ninguém que ouviria e decidi colocar-me a caminho de
casa, desejando encontrar ao longo deste um lugar onde pudesse parar para
fotografar alguma arte urbana.
***
Parei,
observando aquele local que me havia chamado à atenção. Atravessei a rua para o
lado oposto e caminhei ao longo da rua até me encontrar de frente para aquele
graffiti que me havia captado a atenção ao de longe. Night Creepers, li enquanto estudava o desenho de um lobo pintado
na parede. Liguei a máquina e preparei-me para fotografar aquilo que me parecia
ser o melhor graffiti que havia contemplado hoje.
Após
capturar algumas fotos que julguei serem de boa qualidade, ouvi algumas gargalhadas
provenientes das traseiras da casa que me encontrava de momento a fotografar,
instigando a minha curiosidade e vontade de fotografar a verdadeira essência da
cidade. Apesar de algo dentro de mim me dizer que devia afastar-me e manter-me
longe de mais problemas, havia outra parte de mim que estava curiosa demais
para abandonar a ideia e de certo modo ansiava para conhecer o oculto que
permanecia apenas a escassos metros de mim.
Enveredei
por um caminho sinistro de pedras e terra batida, quase tapado por arbustos,
sentindo até alguns cabelos ficarem presos nos mesmos e abri o pequeno portão
com aspecto quebradiço que dava acesso às traseiras, lugar ao qual desejava
fugazmente chegar. Sabia que estava a meter-me no covil do lobo, não fosse isso
óbvio demais após me lembrar do graffiti que havia fotografado momentos antes.
Tentando
manter-me silenciosa e despercebida, agachei-me atrás de um pequeno muro
coberto também por arbustos e certifiquei-me que era o local ideal para
conseguir retratar as fotos que pretendia. Cautelosamente desliguei o flash da
câmara fotográfica e tentei que a pouca intensidade luminosa não se torna-se um
obstáculo no trabalho que pretendia executar com sucesso. Disparei algumas
vezes e apesar de ter torcido o nariz outras tantas vezes, sentia que a maioria das
fotografias captadas tinha chegado ao nível que desejava.
Ouvi algo
estilhaçar-se excessivamente perto de mim e contive a vontade de vociferar
devido ao sobressalto que me havia apanhado desprevenida. Numa questão de míseros
segundos após ouvir o vidro partir-se senti algo aguçado embater no meu rosto,
causando dor e mais uma vez reprimi a vontade de bradar perante o ardor que
sentia na bochecha. Levei a mão ao rosto e com a ponta dos dedos finos
apercebi-me de que sangrava da mesma. Praguejei mentalmente contra facto de me ter
colocado naquele local e tentei fazer o meu caminho de volta para a saída.
De
regresso ao trilho que dava acesso à rua principal ouvi passos atrás de mim.
Inquietada virei-me lentamente para trás, esperando não ser nada mais do que a
minha imaginação a pregar-me partidas. Rapidamente soube que não era uma
partida mental. Atrás de mim encontravam-se aqueles olhos de um verde intenso
que me incomodavam, examinando cada movimento do meu corpo. Comprimi os lábios
numa linha tensa e senti um arrepio percorrer-me o corpo, enquanto o estudava.
- Nem foi
preciso procurar-te. – A sua voz era rouca e soou como música nos meus ouvidos.
Pensei em correr mas as minhas pernas encontravam-se mortificadas, a minha
respiração tornara-se pesada e o meu coração batia num ritmo frenético,
fazendo-me pensar se seria visível o quão rápido batia. Deu um passo na minha
direcção, fazendo-me recuar outro em contrapartida. As palavras que Nathan havia
proferido mais cedo invadiram a minha mente, mais uma vez naquele dia e desejei
não ter ido àquele local. Só espero que o
Harry não tenha a brilhante ideia de ir ter contigo, repetia as palavras na
minha cabeça e ironicamente apercebi-me de que havia sido eu a ir ter à boca do
lobo, o que me fez contrair o maxilar.
- O que é
que queres? – A minha voz soou mais firme do que esperava e congratulei-me por
tal. Embora o meu instinto gritasse para sair dali o mais rápido possível e
fugir, algo me fazia querer enfrentar o medo e mostrar que estava à sua altura.
- Quero-te
a ti, Summer. – O meu corpo estremeceu quando ouvi o meu nome ser pronunciado e
engoli em seco, encarando-o fixamente. Como é que ele sabia o meu nome? Abri os
lábios com a ambição de me pronunciar, pretendia descobrir como é que este sabia
o meu nome.
- Como é
que sabes o meu nome? – Questionei no tom mais feroz que me era possível, mas a
minha voz saiu apenas num sussurro, fazendo com que no seu rosto fosse visível
um sorriso de escárnio. O meu estômago revirou-se e consequentemente semicerrei
os olhos, esperando que me respondesse.
- Tenho as
minhas fontes, Summer Kay Evans. – Senti o meu coração falhar alguns batimentos
e sem me aperceber sustive a respiração. Talvez devesse ter ficado em casa.
Mais uma vez engoli em seco, apercebendo-me do que Nathan falava mais
seriamente do que pensava. O sorriso de chacota não desapareceu dos seus lábios
carnudos e rosados, fazendo-me sentir que estava na presença de um psicopata.
- Tu és
demente… - Hesitei por momentos antes de permitir que o seu nome saísse de
entre os meus lábios, mas sabia que não podia mostrar medo, não iria dar-lhe
tal prazer – Harry. – Não queria de alguma maneira desafiá-lo, sabia que
perderia inevitavelmente mas não podia deixar que este se divertisse à minha
custa. Não iria dar-lhe tal satisfação. Harry soltou uma gargalhada grotesca
dando mais um passo na minha direcção.
- Vejo que
não o único a ter informações. – Disse num falso tom de surpresa e o sorriso
sarcástico voltou aos seus lábios, fazendo com que cerrasse de novo o maxilar –
Não me digas que foi o teu amigo Nathan que fez o favor de me apresentar. –
Parou a escassos centímetros do local onde me encontrava e baixou-se de modo a
que o seu rosto ficasse nivelado com o meu, fazendo com que sentisse a sua respiração
embater levemente na minha pele, causando-me arrepios. Apesar do esforço mental
de querer mover-me fosse inacreditavelmente colossal, o meu corpo estava tenso
demais para que tal acontecesse. De alguma forma sentia que estava entre a
espada e a parede. – Que simpático da parte dele. – O seu tom sarcástico ecoou
e mais uma vez soltou uma gargalhada satírica, fazendo o meu corpo retrair-se
cada vez mais. Apetecia-me gritar com ele e dizer-lhe que não passava de um
miúdo irritante com a mania.
-
Afasta-te de mim. – Ordenei inaudivelmente, sentindo-me incapaz de
pronunciar-me num tom mais elevado. Este abanou a cabeça negativamente emitindo
ruídos de desaprovação.
- Não,
não, não. Sabes, Kay… – Parou por momentos, o sorriso que me dava náuseas voltou
a curvar-se nos seus lábios – Quando eu quero uma coisa, eu tenho essa coisa. E
neste momento és tu quem eu quero, percebes? – Afastou alguns cabelos da minha
face colocando-os atrás da minha orelha e senti-me fraquejar com o seu toque.
Bruscamente afastei a sua mão de mim e encarei-o, ganhando coragem.
- Não me
toques! – Os seus olhos verdes escureceram e os seus músculos endureceram. Colocou
as mãos nos bolsos dos jeans pretos que trazia vestidos e inevitavelmente
constatei que a sua t-shirt também preta possuía o logótipo de um dos álbuns da
banda Pink Floyd, abstraindo-me momentaneamente da situação em que me
encontrava – E para ti é Summer. – Informei, pretendendo que este não voltasse
a chamar-me pelo meu segundo nome.
Severamente
a sua mão deveras masculina alcançou o meu queixo, que ergueu firmemente
obrigando-me a encará-lo, cólera visível nos seus olhos. Tentei afastar-me e
fugir do seu toque, que verifiquei ter sido inútil. Harry empurrou o meu corpo
e subitamente estava encostada a uma parede, não me dando possibilidades de
fugir. A tensão no ar era palpável, tornando a tarefa de continuar a respirar quase
impossível.
- Um dia
vais pedir para não te largar, Kay. Escreve o que te digo. – O seu tom era frio
e autoritário, tornando mais evidente o nervosismo no qual me encontrava. O meu
peito subia e descia num ritmo apressado e a minha respiração tornara-se mais
uma vez ofegante. A sua presença era imponente e a pressão que exercia sobre
mim tornava inexequível qualquer acção que pretendesse cumprir.
Libertou o
meu rosto e mais uma vez sorriu provocadoramente, enquanto perscrutava a
máquina de fotografar que trazia ao pescoço. Por momentos inquiri o que estaria
a pensar, mas rapidamente concluí que não poderia ser algo inocente. A sua mão
alcançou rapidamente a máquina, sem me dar tempo de a proteger e facilmente
retirou a fita envolta do meu pescoço. Voltou a sorrir triunfante quando viu a
minha postura incomodada.
-
Devolve-me a máquina, já! – Exigi com um laivo de impaciência patente na voz,
enquanto esperava que as suas ideias não envolvessem qualquer tipo de dano para
a máquina que considerava ser a minha melhor amiga. Continuava com um sorriso
divertido nos lábios como se a minha irritação lhe agradasse, acabando por me
aborrecer ainda mais. Observei enquanto ligava o aparelho e examinava as fotos
que se encontravam no cartão de memória da mesma, por vezes pensei ser
perceptível um escasso espanto no seu rosto. Perguntei-me interiormente se
havia algum tipo de fotografias que não devessem ser vistas por Harry, mas
recordei que felizmente não possuía nada de alarmante – Eu disse para me
devolveres a máquina. – Repeti o pedido, levando a que os seus olhos
encontrassem os meus. Senti um nó no estômago e tentando manter a postura
cerrei o maxilar.
- Que tal
fazermos assim, eu devolvo-te a máquina… – Ergueu o aparelho no ar e senti que
tinha o meu coração nas suas mãos – Se te portares bem. Vem à minha festa
amanhã e eu devolvo-a. – Esclareceu. No seu tom constatei divertimento e talvez
um pouco de excitação. Senti que estava a ser chantageada da pior maneira e não
pude deixar de franzir o cenho em desaprovação.
- Tu não
queres a minha máquina para nada. Só queres obrigar-me a ir e não tens outra
forma de o fazer. – Acusei com desprezo e senti vontade de vomitar quando me
apercebi dos caminhos que este tomava para ter o que queria. Harry aproximou-se
de novo de mim e por momentos temi que voltasse a tocar-me, o pensamento fez-me
encostar ainda mais à parede.
- Verdade,
mas… - Elevou o braço esquerdo e apoiou a mão na parede ao lado do meu rosto e
aproximou-se, permitindo que sentisse o cheiro do seu perfume e sua respiração
quente – Não tinha outra maneira de te fazer ir. Não te posso obrigar. – Sorriu
exibindo a dentadura branca e perfeita e senti que estava mais perto do meu
rosto do que pensava, causando com que o meu corpo tremesse – Assim vais por
vontade própria. – Finalizou elevando as sobrancelhas, mostrando que estava
feliz com a sua acção.
- Por
vontade própria? A sério? – Exclamei sarcasticamente, sentindo que estava a
ouvir a coisa mais ridícula em toda a minha insignificante existência. Sabia
que não tinha opção, caso quisesse reaver o precioso objecto que se encontrava
nas suas mãos. Empurrei-o afastando-o, determinada a enfrentá-lo, sabia que
este não iria maltratar-me. Caso contrário porque se daria ao trabalho? Desejei
fugazmente estar certa e pensei em tirar partido de tal facto. Soltou um riso
de entretenimento perante a minha reacção, fazendo-me bufar irritada.
- Gosto
mais de ti quando não me enfrentas, Kay. – Passou a mão pelo queixo,
relembrando o facto de o ter esmurrado na noite passada. Não me sentia culpada,
para dizer a verdade sentia que havia sido o murro mais bem entregue da minha
vida. O único, para ser sincera. Não sentia qualquer remorso ou até vontade de
desculpar-me por tal. Não iria fazê-lo de qualquer maneira, não após saber o
que Harry me estava a edificar.
- Já te
disse que para ti é Summer. – Corrigi num tom de azedume e para meu desgosto,
Harry sorriu, desfrutando do domínio que exercia agora sobre mim. A minha alma
iria estar mais corrompida do que alguma vez estivera. Pensei o que seria feito
da vontade própria e cheguei à conclusão que isso deixara de existir a partir
do momento em que havia cruzado caminho com Harry. Quem era ele? E porquê eu? –
O que é que tu queres de mim? – Questionei, sem perceber o porquê de semelhante
coisa estar a acontecer comigo e cruzei os braços sobre o peito.
- A tua
inocência. – O seu olhar estava pousado no meu e a sua voz grave. Um ligeiro
sorriso apareceu nos seus lábios e ergueu o sobrolho. Semicerrei os olhos
perguntando-me do que falava, supondo que não poderia saber o facto de ser
virgem, sendo que esta era a única coisa na qual poderia pensar após a sua
afirmação. Talvez ele soubesse mais da minha vida do que pensava.
- Como é
que sabes…? – Questionei visivelmente escandalizada. Até que ponto saberia este
rapaz da minha vida? O pensamento de que poderia saber mais do que devia tornou
os meus músculos duros devido à sua contração. Encarei o seu rosto e esperei
que desta vez me desse alguma resposta com conteúdo que me ajudasse a perceber
como é que sabia estes factos sobre a minha vida mais que privada.
- Não
tinha a certeza. – Um ar de divertimento surgiu no seu rosto e percebi que
desfrutava de entretenimento à minha custa – Mas agora tenho. – Um sorriso
perverso emergiu nos seus lábios, fazendo com que sentisse o rosto vermelho.
Dei graças a Deus por estar de noite e este não conseguir ver o quão embaraçada
tinha ficado e cerrei os punhos. Este rapaz conseguia semear a fúria em mim, de
uma maneira que pensei nunca ser possível.
- Isso
nunca vai acontecer. – Clarifiquei a garganta, segura das minhas palavras. Por
mais tentativas que Harry pudesse fazer, eu sabia que isto não iria acontecer,
não com ele. Talvez fosse exagerado dizer que queria rir-me das suas palavras,
mas estava positiva que tal nunca iria acontecer.
- Veremos,
Kay. – O seu tom era de desafio e tremi com o mesmo, sentindo um calafrio
percorrer-me o corpo. Sabia que não podia obrigar-me a fazer tal coisa mas isso
não impediu que o meu corpo se retraísse perante as suas palavras, que ecoavam
agora na minha mente. Veremos, Kay.
- Tu és
nojento. – Retorqui, bufando após uma breve pausa, recuperando do choque inicial.
Pude sentir que no meu rosto a expressão que envergava era clarificadora da
minha afirmação. Mais uma vez Harry aproximou-se de mim, colocando-me de novo
entre o seu corpo e a parede. O ar escapou-me dos pulmões e devido à
proximidade de Harry senti as minhas pernas fraquejarem.
- Não me
insultes. Isso deixa-me excitado, babe. – Os seus lábios curvados num ligeiro
sorriso estavam demasiado perto dos meus, fazendo com que fosse possível sentir
o seu hálito fresco a mentol e cigarros. Contraí o maxilar fortemente e deixei
que um ruído de desagrado soasse da minha garganta, originando a que Harry
mordesse levemente o seu lábio inferior, mostrando o quão agradado com a
situação se encontrava. Controlei a vontade de o insultar de novo e cerrei os
punhos, até sentir que os nós dos dedos se encontravam brancos. Considerei
voltar a esmurrá-lo mas talvez não fosse tão boa ideia, não pretendia
sujeitar-me a mais chantagens da sua parte.
- Porque é
que estás a ter este trabalho todo? – Perguntei ofegante, procurando uma
resposta decente, para o porquê de toda a situação – Tu nem me conheces. –
Justifiquei, contemplando os seus olhos verdes, que sabia esconderem segredos
que nunca iria descobrir.
- Harry! –
Uma voz masculina soou perto de nós, despertando a atenção de Harry que ignorou
a pergunta que lhe havia feito, encarando os arbustos, esperando que quem o
chamasse surgisse. O seu sorriso desapareceu e os seus olhos tornaram-se mais
uma vez escuros como havia acontecido anteriormente. Suspirei, apesar de continuar
na ignorância sobre o porquê de ser eu a escolhida, talvez alguém tivesse vindo
em meu socorro. Talvez me beliscassem e eu acordaria no meu avião ainda a
caminho de Londres e tudo não passasse de um mero pesadelo.
Um rapaz
de estatura mediana e cabelos escuros com uma singular madeixa loira,
cuidadosamente elevados numa poupa, emergiu dos arbustos, envergando um casaco
de ganga com uma t-shirt branca por baixo, uns jeans escuros e uns ténis
cinzentos de marca Nike. Trazia entre os lábios um cigarro aceso e pude reparar
que seu braço revestido por algumas tatuagens.
- O que é
que queres, Zayn? – A voz de Harry manifestou-se dominadora e arrogante, quase
como se irritado por este rapaz, intitulado de Zayn acabasse de interromper
algo demasiado importante. Um arrepio percorreu o meu corpo e por momentos
pensei que Harry fosse saltar para cima do rapaz. Um sorriso macabro nasceu nos
lábios de Zayn e este expeliu o fumo do cigarro.
- Calma
puto. – Soltou uma leve gargalhada à qual Harry não achou piada e lançou um
olhar aterrador. Se o olhar matasse, acreditava que Zayn estaria agora no chão
sem vida – Não queria interromper, sabes disso. – Coçou a nuca com a mão,
exibindo um olhar sério de seguida – Mas temos problemas, precisamos de ti. – O
seu olhar fixou-se no do rapaz de olhos verdes e a sua voz soara mais grave,
mostrando preocupação. Desviei o meu olhar de Zayn e estudei Harry. Os seus
músculos maxilares estavam flectidos e as suas narinas encontravam-se
visivelmente expandidas, mostrando a irritação que o seu corpo emanava. Ouvi os
seus dedos estalarem, o que causou com que olhasse para as suas mãos, uma delas
fechada fortemente, enquanto a outra segurava cuidadosamente a câmara que
desejei estar em minha posse.
Harry
afastou ligeiramente o seu corpo do meu e observou o meu rosto. Nos seus olhos
verdes era possível distinguir um pouco de decepção, talvez por não poder
divertir-se mais um pouco à minha custa. Passou a mão pelos caracóis escuros e
despenteados, soltando um som de raiva.
- Vejo-te amanhã,
Kay. – Exibiu um sorriso agradável, mostrando a sua dentição perfeita e as
covinhas que se formavam nas suas bochechas, o que lhe conferiu um ar
angelical, fazendo com que por momentos o Harry que havia conhecido
desaparecesse. Perguntei-me se seria possível tal acontecer, mas sabia que as
aparências iludiam e nada era realmente o que parecia. Afastou-se do meu corpo
e senti-me relaxar – E trata desse corte. – Apontou para a minha bochecha e a
dor que pensei que ter desaparecido voltou a atacar-me, provocando ardor na
zona ferida, o que me fez elevar a mão até ao local quase instantaneamente,
tocando-a ao de leve – Não quero que fique infectado. E não te esqueças, se
queres a máquina de volta, amanhã tens que te portar bem. - Lançou-me novamente
um sorriso perfeito e virou costas, elevando a máquina, dando ênfase ao que
acabava de dizer.
Rapidamente
desapareceu atrás de Zayn nos arbustos, sem me dar qualquer instante de lhe
perguntar onde iria ser a sua festa. Como podia esperar que eu fosse lá se nem
sabia onde era? Bufei e recusei voltar às traseiras da casa. Perguntar-lhe-ia
no dia a seguir, de alguma forma. Talvez só tivesse que voltar a esta velha
casa para o encontrar. Considerei o facto perguntar a Nathan, mas sabia que não
seria boa ideia. Acabo com ele, as
palavras repetiram-se na minha cabeça e soube de seguida que forma alguma
poderia contar que tal episódio havia ocorrido nesta noite. Desejei ter ficado
em casa ou ter aceite o convite de Nathan e Jay para me ter junto a eles na
festa. Passei os dedos pelos cabelos e tremulamente retirei um cigarro do maço,
pretendendo acalmar-me e prossegui o caminho de volta para casa.
***
O caminho
não fora muito longo, ou se fora não me lembrava pois tinha entrado numa grande
discussão interior. Sentia-me péssima por tudo. O meu corpo tremia e a minha
mente estava prestes a explodir. Coloquei a chave na ranhura da porta e rodei
lentamente. A casa encontrava-se escura e presumi que a minha tia já estivesse
a dormir.
Subi a
escadas lentamente e dirigi-me ao meu quarto, atirando tudo o que trazia nos
bolsos para cima da cómoda, sentindo-me leve por saber que de certa forma a
máquina havia sido extorquida da minha posse durante algumas horas. Suspirei
pesadamente e senti que me havia colocado numa má posição. Sabia que não
poderia contar a Nathan, não queria que se metesse em problemas por minha
culpa. Sabia que o mesmo acontecia com Jay, não permitiria que tal acontecesse,
tinha-me colocado naquela situação sozinha e havia de sair dela sozinha também.
Sem pressa
despi a roupa que se encontrava no meu corpo e atirei-a para o cadeirão, pois
não me encontrava com paciência para a colocar no devido lugar. Procurei o meu
pijama dobrado debaixo da almofada e vesti-o, sentindo-me confortada por
momentos. Apercebi-me que o nervosismo ainda não havia deixado totalmente o meu
corpo quando notei que as minhas mãos se encontravam trémulas. Suspirei e
abanei a cabeça negativamente, analisando a situação em que me encontrava.
Haviam passado
pouco mais de 24 horas desde que havia chegado a Londres e os problemas
pareciam colar-se a mim, embora eu pouco fizesse para que tal acontecesse. A
minha vida monótona tornara-se num rodopio apenas em algumas horas, quase como
que num piscar de olhos, para ser precisa. Abri a janela e procurei pelo maço
de tabaco que se encontrava em cima da cómoda. Acendi o cigarro e fumei-o
devagar, saboreando cada pedaço do mesmo, permitindo que a calma se apoderasse
do meu corpo. Fechei os olhos e deixei o fumo sair de entre os lábios,
lentamente.
Após
repetir o movimento mais meia dúzia de vezes, ouvi o telemóvel vibrar contra a
madeira da cómoda. Coloquei o cigarro na beira da janela, pois não fumaria
dentro de casa e dirigi-me ao telemóvel, perguntando-me quem seria ou o que
poderiam querer, peguei no mesmo e voltei para junto da janela, colocando o
cigarro de novo na boca. Deslizei o dedo no ecrã do telemóvel, desbloqueando o
mesmo e abri a mensagem do número desconhecido.
- “Não te preocupes sobre amanhã, só tens que
fazer o que te digo. Beijos, Harry. Xx” – Li a mensagem e quando me
apercebi de quem era, os meus lábios formaram uma linha tensa. Perguntava-me o
que seria feito da vontade própria? Sentia que cada vez menos tal coisa existia
quando se estava ligado a Harry. A vontade de atirar o telemóvel contra a
parede fora reprimida, sabia que não iria ter dinheiro para comprar mais nenhum
telemóvel se algo acontecesse a este.
Atirei o
cigarro, que se encontrava entre os meus dedos, para longe e fechei rapidamente
a janela e os estores. A vontade de voltar a esmurrar Harry era
assustadoramente intensa, mas também era assustadora a parte de mim que ansiava
por se meter em confusão, que apreciava a adrenalina que toda esta situação me
proporcionava. Talvez a ideia de ir à festa de Harry não fosse tão má quanto
pensava, ou talvez fosse. Perguntei-me porque haveria de correr mal, afinal de
contas só teria de passar algumas horas na mesma festa que Harry, ele
devolver-me-ia a máquina e tudo acabava a partir do momento em que deixasse a
sua festa. Depois não haveria nada que ele pudesse fazer para voltar a ter
contacto comigo. Sorri com o pensamento e desejei que a noite seguinte chegasse
depressa para me ver livre da confusão em que me encontrava.
Após lavar
os dentes, examinei o meu rosto no espelho existente por cima do lavatório da
casa de banho e constatei que havia sangue seco no mesmo, proveniente do corte
que habitava agora na minha bochecha. Um trejeito apareceu no meu rosto e lavei
a ferida cuidadosamente, sentindo ardor na mesma, o que fez com que alguns
suspiros de sofrimento ecoassem levemente pela casa de banho. Desinfectei a
mesma a muito custo e seguidamente dirigi-me ao quarto. Deitei o meu corpo na
confortável cama do meu quarto e deixei que os eventos desde que havia chegado
a Londres desaparecessem da minha mente, permitindo-me vaguear por sítios onde
poderia apenas estar quando me encontrava a dormir.
Zayn:
Hello queridas, espero que ainda não tenham deixado de vir aqui ler! Tenho que pedir desculpa pelo tempo que demoro a postar, mas tenho andado tão off que nem tenho vontade de nada para ser sincera.
Espero que tenham gostado do capítulo e que fiquem até ao próximo comigo.
Também tenho demorado mais a postar porque estou encalhada à meses num capítulo e nem sei como continuar, o problema não são ideias mas sim a inspiração para escrever, porque quando escrevo sem vontade parece que fica mal e portanto prefiro não escrever nessas fases... De qualquer das maneiras espero que tenham paciência.
Gostava de saber o que acham da história e o que acham que se pode vir a passar!
With love, J. xx