And I'd rather be crazy
I'd rather go insane
Than having you stalk
My every thought
Then having you here inside my heart
The Wanted - Lose My Mind
I'd rather go insane
Than having you stalk
My every thought
Then having you here inside my heart
The Wanted - Lose My Mind
A luz
proveniente da janela insidia directamente no meu rosto, que tentei esconder
debaixo da colcha, de modo a conseguir dormir de novo. Revirei-me várias vezes
debaixo dos lençóis e rapidamente cheguei à conclusão que não iria conseguir
adormecer de novo. Com um suspiro, afastei as cobertas da minha cara e senti a
luz invadir a minha mente, fazendo com que tapasse os olhos reflexivamente.
Lentamente
afastei os lençóis do resto do corpo e coloquei os pés no chão, permanecendo
sentada na beira da cama. Sentia a minha cabeça pesada, como se de uma pedra se
tratasse, o meu corpo não passava de um peso morto. Para mexer um músculo tinha
que esforçar demasiado meu cérebro, só assim conseguia ter controlo sobre o meu
corpo. Lembrava-me da noite passada, na realidade não sabia se havia de rir da
situação ou chorar.
Dirigi-me
à casa de banho onde me olhei ao espelho, estava uma lástima. Cabelo
despenteado, por baixo dos meus olhos verdes habitavam agora um par de olheiras
profundas e a pouca maquilhagem que costumava usar estava completamente
borrada. Abri a torneira esperando que a água quente corresse, o que não
demorou muito. Lavei o meu rosto e depois sequei-o na toalha preta que sabia
ser para mim. Voltei a olhar-me ao espelho verificando que todos os restos de
maquilhagem haviam desaparecido por completo do meu rosto, conferindo-lhe ligeiramente
um ar mais saudável, logo se seguida lavei os dentes, passando de seguida a
língua pelos mesmos, sentindo-os limpos. Apanhei o cabelo num pucho desajeitado
no alto da cabeça e dirigi-me de novo para o quarto, espreguiçando-me pelo
caminho.
Procurei
no meio dos lençóis pelo telemóvel, que ficava sempre perdido algures nos
confins da cama. Após o encontrar, verifiquei que tinha três mensagens
recebidas, abri-as uma a uma e percebi que Nathan tinha enviado duas delas, uma
perguntado onde estava e outra a pedir-me desculpa pelos acontecimentos da
noite passada e que me iria compensar por ter assistido à infeliz cena de
pancadaria. Ri-me por pensar o que Nathan podia estar a planear, não sabia o
que havia de esperar, ainda não tinha passado tempo suficiente com este novo
Nathan para perceber o que lhe passava pela cabeça. A última mensagem provinha
de um número que não pertencia à minha lista de contactos e estranhei, não
sabia quem poderia ser e sabia que não era do tipo de pessoa de dar o número
mesmo que estivesse com álcool a mais no sangue. Perguntava-me desde quando é
que o meu número ia parar a mãos alheias e franzi o cenho, abrindo a mensagem.
-“Desculpa
por ontem à noite. Liga-me quando puderes. Beijo Jay. x”- Li a mensagem em voz
alta comprimi os lábios numa linha tensa, lembrando-me vivamente da noite
anterior. Precisava de esclarecer dúvidas, precisava de respostas e Nathan iria
ter muito que me explicar, quer quisesse, quer não. Atirei o telemóvel de novo
para cima da cama, ignorando o pedido de Jay. Precisava de pensar, de refrescar
as ideias. Só estava a adiar o inadiável. Sabia que era inevitável, mas não
deixava de achar que o podia evitar de alguma forma.
Dirigi-me
ao roupeiro de onde tirei uma t-shirt preta, larga e uns calções curtos da
mesma cor. Despi rapidamente o pijama, vestindo o que havia tirado há momentos
do roupeiro. Calcei os ténis que havia comprado apenas para o propósito de
correr e pegando nas chaves de casa e no iPod desci as escadas e dirigindo-me à
cozinha. Em cima da mesa pousei as chaves e coloquei a pequena bolsa onde
guardava o iPod à volta do braço, tornando mais fácil a tarefa de correr. Ouvi
o meu estômago roncar sonoramente, parecendo quase um leão faminto e achei que
talvez fosse melhor comer algo antes de começar a minha rotina habitual de
jogging.
Ouvi as
patas de King Óscar tomarem a direção da cozinha e em avanço olhei para entrada
da mesma, onde passados poucos segundos, King Óscar fazia a sua gloriosa entrada
– Bom dia Óscar! – Baixei-me e passei a mão pela sua cabeça – Oh já tinha
saudades tuas também. – Continuei a acariciar o seu pelo preto e este emitiu um
latido de satisfação – Queres comida? – Olhei para a seu comedouro reluzente e
apercebi-me que estava quase vazio de um dos lados, o da sua ração. Enchi a sua
taça e voltei a acariciar o seu pelo, notando o quão macio estava – Até já
Óscar. – Despedi-me do canino preto, que agora se deliciava com a sua comida e
saí porta fora, trancando-a. Fiz alguns alongamentos para aquecer e pus-me em
passo de corrida, de headphones na cabeça, sentindo o calor invadir-me numa
questão de minutos fazendo-me esquecer da confusão em que me tinha metido na
noite passada. Talvez este Verão tivesse reservado algo inesperado para mim e
eu ainda não soubesse, havia parte de mim que sabia que estava prestes a
meter-me onde não devia, mas havia também outra parte de mim que ansiava por
arriscar.
***
Suada e
cansada abri a torneira do chuveiro sentindo a água gelada correr-me pelo corpo
abaixo, sentindo que esta levava tudo o que pretendia esquecer pelo cano
abaixo. Assim que terminei, enrolei-me numa toalha e dirigi-me ao quarto. Após
colocar o creme no corpo, vesti a t-shirt verde tropa, oversized, com a palavra
Geek estampada a branco e as leggins pretas que se encontravam dentro do
armário da roupa. Passei a toalha pelo cabelo tirando o excesso de água e
pendurei a mesma atrás da porta para secar.
A
campainha soou e perguntando-me quem poderia ser, desci a escadas quase caindo
pelo meio e dirigi-me à porta, abrindo-a antes sequer de perguntar quem era.
Assim que abri a mesma pude ver a figura de Nathan à porta, com um largo
sorriso estampado no rosto. Este envergava uma t-shirt preta com alguns
desenhos abstratos a branco, que acabei por não tentar compreender, umas calças
de ganga descaídas na área traseira, os seus ténis brancos de marca Nike e
ainda um chapéu da Obey a tapar os seus cabelos.
- Bom dia.
– Abraçou-me antes que pudesse responder e depositou um beijo no topo da minha
cabeça, mostrando-me o quão baixa era ao seu lado. Perguntei-me que horas
seriam e tinha a ligeira sensação que já não seria bom dia, mas provavelmente
boa tarde.
- Não
devias estar a dormir ou algo parecido? – Perguntei fechando a porta após
Nathan passar da mesma. Ouvi-o a rir-se e sorri, virando-me para ele esperando
uma resposta.
- Já viste
as horas por acaso? – Levantou o sobrolho e sorriu, e em resposta encolhi os
ombros e abanei negativamente a cabeça – São quatro da tarde. – Olhou o relógio
de pulso, que me pareceu caríssimo mais uma vez para confirmar as horas e
depois dirigiu mais uma vez os seu olhar para mim – O que vais fazer? –
Perguntou-me com um pequeno sorriso nos lábios, o mesmo sorriso que conhecia há
anos.
- Agora? –
Indaguei, olhando-o e vendo que este confirmava – Comer e tenho que ir passear
o Óscar. – O meu estômago roncou, parecendo que continha no seu interior leões
esfomeados e coloquei as mãos sobre o mesmo, sentindo-me um tanto ou quanto
embaraçada por tal. Talvez devesse ter comido algo mais pesado antes de ter
saído para correr. Ouvi Nathan a gargalhar, gozando com o facto de ser notável
de que necessitava de comer – Estúpido. – Murmurei, semicerrando os olhos na
sua direção e este levantou as mãos como que pedindo desculpa – Queres comer
algo? – Passei por ele e dirigindo-me à cozinha. Nathan seguia-me.
- Não, já
comi. Obrigado na mesma. – Ouvi-o responder-me ao mesmo tempo que puxava uma
cadeira para se sentar. Abri o frigorífico e do mesmo tirei um pequeno tupperware
que continha o que havia sobrado do jantar da noite anterior. Coloquei a
bolonhesa num prato raso e coloquei o mesmo no micro-ondas programando para
apenas dois minutos. Encostei-me à bancada e olhei-o, sentado na cadeira à
minha frente com o telemóvel nas mãos.
- Nathan…
- Comecei, pensado se seria boa ideia falar-lhe do que se havia passado a noite
anterior ou perguntar-lhe o que se havia passado na sua vida. Haviam demasiadas
perguntas sem resposta na minha cabeça e sentia que precisava de ser
esclarecida. Nathan encarava-me esperando que retomasse o que havia começado a
discursar, suspirei, tomando a coragem necessária – Temos que falar. – Este
ergueu a sobrancelha e pude sentir que estava prestes a dizer-me que falaríamos
desses assuntos noutro dia – Não me digas que falamos noutro dia. Viste o que
se passou ontem… E eu preciso de saber o que te aconteceu, não podes estar à
espera que depois de teres desaparecido, que voltas e fica tudo bem. Não fica.
Deixaste-me preocupada e eu não consigo esquecer-me disso. Por favor Nath… - Vi
os seus músculos endurecerem e este suspirou pesadamente, provavelmente sabia
que não o iria deixar escapulir-se mais um dia. Sabia que eu tinha razão e
sentia que de algum modo, ele sabia também que eu precisava de saber o que
havia passado. O sinal de que o temporizador do micro-ondas havia parado soou e
rapidamente tirei o meu prato levando-o até à mesa, sentando-me à frente de
Nathan, que ainda não havia proferido uma palavra.
- Kay… -
Começou, fazendo com que desvia-se toda a minha atenção do prato para si mesmo,
o seu olhar era duro e implacável, fazendo-me sentir desconfortável por o
encarar, mas não ousei desviar o olhar, talvez querendo demonstrar que estava
preparada para ouvir fosse o que fosse – Eu não queria ter-te arrastado para
isto… - Desculpou-se antes de me dizer algo mais. Ergui o sobrolho perguntando
a mim mesma ao que se referia, talvez ter ido à festa com ele não tivesse sido
tão boa ideia. Queria perguntar-lhe do que falava mas sabia que se perguntasse
este poderia não me dizer mais nada e eu ficaria de novo com perguntas por
fazer e respostas por receber – Ontem… - Recomeçou sem olhar para mim, abanando
negativamente a cabeça. Talvez não soubesse por onde começar.
- Nath,
não me arrastaste para lado nenhum. – Afirmei sorrindo e demonstrando que
estava tudo bem – Antes que me expliques o que foi aquela merda de ontem,
diz-me o que se passou quando foste embora… - Tentei sorrir, queria que a
tensão no ar fosse menos sufocante e que ele se sentisse confortável para falar
comigo, que voltasse a ter a confiança que antes tinha em mim. Olhei para o
prato e comecei a minha refeição, esperando que de algum modo este acto
tornasse o ambiente mais leve.
- Os meus
pais separam-se, esse foi o motivo principal. - Não sabia que dizer-lhe, por
isso levantei-me e abracei-o e ficámos assim uma data de tempo, em silêncio. E
o silêncio falou por nós. Sentia-me um tanto ou quanto aliviada, sabia que o
motivo do seu desaparecimento não tinha sido grave ou por motivos que me faziam
arrepiar. Por mais que gostasse de Nathan, sabia que este estava metido em algo
incerto, talvez arrojado e provavelmente perigoso. Depois de ter visto que se
havia passado na festa, tinha a certeza que Nathan e todos os que se
encontravam naquela casa não eram tão inocentes quanto pensava serem. Havia
algo escondido que pretendia descobrir – O meu pai fez-me ir com ele… E tu
lembras-te como ele era. – O seu sorriso era fraco e o seu tom era de desprezo,
fazendo-me comprimir os lábios numa linha, afirmando positivamente. De facto
lembrava-me do pai de Nathan, da sua voz grossa e do seu ar imponente.
Lembrava-me de cada vez que Nathan aparecia com mais uma negra, um olho
esmurrado ou um braço partido, sabia que este se havia metido com o pai e que sem
piedade ou amor ao filho, o havia espancado. Lembrava, talvez bem de mais e
senti um arrepio percorrer-me a espinha ao lembrar-me de tudo e pensando no que
havia Nathan sofrido após ter partido com o seu pai. Agora percebia o porquê de
Nathan não querer falar no assunto e senti-me culpada por o fazer relembrar
algo que provavelmente não seria o melhor momento da sua vida – Vais comer ou…?
– Olhou para o meu prato ainda a meio e senti o meu estômago contorcer-se. A
fome que sentia havia desaparecido dando lugar a um nó. Sentia-me pessimamente
em relação a Nathan.
- Já
terminei. – Sorri e levantei-me, pegando no prato e colocando o que restava no
lixo. Não gostava de desperdiçar comida, mas sentia-me enjoada para conseguir
comer algo mais. Coloquei o prato na máquina de lavar loiça e Nathan
levantou-se também fazendo
com que o encarasse.
- Queres
ir até ao Starbucks? – Sorriu, fazendo-me sentir mais confortável e anui –
Aproveitas e passeias o King Óscar também. – Baixou-se e passou a mão pela
cabeça de canino preto que se encontrava ao seu lado.
-Deixa-me
só calçar. – Subi para o andar de cima e dirigi-me ao quarto. Sentia-me aliviada por saber o motivo de
desaparecimento de Nathan, mas sabia mais uma vez que ainda haviam perguntas às
quais não tinha resposta. Calcei os Vans pretos que estavam perto da cama e
peguei na mala preta colocando-a ao ombro, metendo a máquina fotográfica no
interior da mesma, pensando que talvez teria a oportunidade de fotografar algo
a caminho do Starbucks. Peguei no telemóvel que se encontrava na
mesa-de-cabeceira e voltei a dirigir-me para o andar de baixo onde Nathan já me
esperava, segurando a trela de King Óscar na mão.
- Como é
que sabias onde estava a trela? – O espanto era notável tanto no meu tom de voz
como na minha cara. Nathan riu sonoramente e encolheu os ombros.
- Eu sei
tudo. – Riu mais uma vez e senti que o Nathan que conhecia tinha voltado.
Talvez nunca tivesse partido e eu nunca dera por isso. A nossa amizade
permanecia e aumentava de dia para dia, não precisávamos de aditivos, esses
vinham por conta própria. Nathan dirigiu-se à porta abrindo-a, levando King
Óscar consigo, segui-o e fechei a porta, trancando-a de seguida.
***
Puxei a cadeira de ferro forjado preto, da esplanada e coloquei o meu café Mocca branco frio em cima da mesa forjada no mesmo ferro que a cadeira. Nathan imitou os meus movimentos e prendeu a trela de King Óscar à cadeira de modo a que este não tivesse a oportunidade de fugir. Levei a palhinha verde aos lábios e beberiquei um pouco do conteúdo. A verdade era, por muito que gostasse de café quente, no Verão, nada poderia saber melhor que um Mocca branco frio.
A conversa que havíamos tido mais cedo invadiu-me a memória e não pude deixar de sentir um nó no estômago quando pousei o meu olhar em Nathan, que por sua vez estava ocupado a escrever uma mensagem no seu telemóvel. Mas não era apenas essa lembrança, era o facto de Nathan não ter voltado a tocar no assunto do que se houvera passado na noite passada.
perguntava-me ao que se referia quando havia dito, Eu
não queria ter-te arrastado para isto. O que seria o isto a que
Nathan se referia? Ponderei momentaneamente a ideia de lhe voltar a perguntar e
sentia que não era capaz de ser ignorada de novo. Se ele me havia arrastado
para ali tal como havia dito, tinha que pelo menos dar-me algumas explicações.
- Kay. –
Ouvi a voz de Nath despertar-me do meu transe e encarei o seu rosto quase que
reflexivamente – No que estás a pensar? – Olhou-me divertido e esperou pela
minha resposta. Comprimi os lábios numa linha fina e tensa e o meu olhar
desviou-se para o meu punho direito. Este encontrava-se vermelho e ligeiramente
inchado, fazendo-me relembrar que havia socado aquele individuo com o olhar que
mais me havia perturbado numa questão de segundos. Voltei a contemplar o rosto
de Nathan e entendi que este sabia exactamente o que se passava na minha cabeça.
De facto estava a pensar de mais. Havia um turbilhão de ideias na minha mente.
De facto, a minha cabeça era um horrendo sítio para se estar, e o meu problema
era não encontrar uma saída e não saber da chave para a porta principal. – Não
vais desistir, pois não? – Suspirou, sorvendo de seguida um pouco da sua
bebida.
- Sabes
que não, Nath. – Sorri vitoriosamente. Talvez fosse agora o momento derradeiro.
Talvez fosse agora o momento em que eu ia perceber finalmente o que se havia
passado e no que estava prestes a meter-me. Sabia que era inevitável. Eu bem
queria mudar, mas sentia-me impelida a não fazê-lo.
- O que
queres saber? – Questionou, talvez ainda sem acreditar que estava prestes a
colocar as cartas na mesa, a deixar tudo às claras e recostou-se
confortavelmente na cadeira, colocando os óculos de sol. Silenciosamente
amaldiçoei-me a mim mesma devido ao facto de ter deixado os meus em cima da
cómoda.
- O que se
passou ontem. – Recostei-me também, preparando-me para ouvir a sua explicação.
Senti a curiosidade tomar conta do meu corpo e esperei ansiosamente para que
Nathan iniciasse o seu discurso, passando a mão pelos cabelos escuros,
afastando-os dos olhos, permitindo-me focalizar toda a minha atenção na figura
presente à minha frente.
- Aquelas
são as pessoas com quem não te deves dar, Kay. Eles não prestam e só causam
estragos, acredita. – Levou a palhinha aos lábios, fazendo uma pausa
momentânea, deixando-me cada vez mais impaciente – E o rapaz a quem deste um
soco – senti que o seu olhar endurecido queimava a minha pele – Não o devias
ter feito, o Jay sabe defender-se sozinho. – Não consegui olha-lo, sentindo-me
desconfortável. Um sentimento de culpa invadiu-me e não fui capaz de conter um
pequeno sorriso ao lembrar-me de que havia protegido Jay, ou pelo menos tentado
tal. Possivelmente não teria feito algo de tão errado, assim o esperava – Só
espero que o Harry não tenha a brilhante ideia de ir ter contigo. Acabo com
ele. – Proferiu como se fosse capaz de tudo caso Harry, o rapaz que esmurrei,
se metesse comigo. A minha cabeça girava mesmo comigo sentada numa cadeira e
dei por mim a considerar quais os terríveis caminhos por onde me estava a
infundir e quais seriam as consequências que trariam. Recorria mais uma vez à
ideia de que ter colocado os pés naquela festa não tinha sido boa ideia.
- Nath,
não te metas em porcaria por minha causa. – Sorri, numa tentativa frustrada de
aliviar a pressão que havia no ar e a cólera presente nos seus olhos verdes –
Além do mais, esse Harry não vai fazer nada. – Acabei a bebida que se
encontrava dentro do copo que segurava na mão e após coloca-lo sobre a mesa,
retirei da mala que trazia comigo, o maço de tabaco, puxando um cigarro e
colocando-o entre os lábios. Vi Nathan a imitar-me os gestos e de seguida a
guardar o seu maço no bolso das calças, acendendo por fim o cigarro de marca
Marlboro, tal como fiz consecutivamente.
- Kay, tu
não o conheces. Acredita que é capaz de tudo para ter o que quer. – Inspirou o
fumo do cigarro e de seguida expeliu-o, imitei-lhe o gesto e senti a liberdade
tomar conta do meu corpo e um laivo de alívio assumir o controlo do meu corpo,
inquieto devido às palavras que Nathan acabava de proferir. Inquiria-me sobre
que tipo de coisas estaria Nathan a falar, que tipo de sucedidos poderia
acontecer. Não fora preciso muito para perceber que Nathan se via envolvido em
algo obscuro e enigmático, faltava-me agora saber se havia algo pior.
- Eu também
sou capaz de muita coisa.- Ri-me sonoramente, embora na realidade não houvesse
motivo para rir e ergui o punho levemente inchado no ar, aligeirando a
conversa, Nathan sorriu, embora no fundo soubesse que ele falara seriamente. O
seu olhar continuava severo e fastidioso e foi então que tive a certeza de que
nada era o que aparentava ser. Estava prestes a lançar-me em alto mar num barco
a remos, sem bússola para me direcionar.
- Mas
mudando de assunto… - Disse com um sorriso de escárnio nos lábios e um olhar
divertido, fazendo-me olha-lo confusa de sobrolho erguido, tentando desvendar
até onde pretendia ele chegar – Não tens nada para me contar… - semicerrei os
olhos, perguntando-me do que estaria ele a falar. Ao aperceber-se do meu
tumulto interior, riu descaradamente – Do Jay…? – Senti um rubor tomar conta
das minhas faces e contive uns quantos palavrões e nomes que pretendia chamar a
Nathan. What a twat.
- Tu já
sabes, porque é que estás a perguntar? – Ripostei abanando negativamente a
cabeça, tentando parecer confiante, embora ainda não tivesse conseguido acalmar
o meu pequeno e frágil coração, que batia apressadamente num ritmo frenético e
desenfreado, quase parecendo explodir. Perguntava-me o que estaria a acontecer
comigo. Mais uma vez abanei a cabeça e suspirei com a minha desgraça.
Apetecia-me bater com a cabeça nas paredes. Imaginei-me tal acto e ri-me
sozinha da minha demência total. Piorava de dia para dia e mesmo assim ninguém
dava por isso. Começavam a suceder-se demasiados acontecimentos excitantes na
minha vida. Sentia que estava prestes a ser invadida por um turbilhão de
acontecimentos aos quais era impossível fugir.
***
- Tens a
certeza que não queres que te venha buscar logo? – Questionou-me Nathan mais
uma vez, mostrando-me um sorriso carinhoso, provavelmente tentando seduzir-me
quanto à ideia de voltar a casa da noite passada, para mais uma noite de
álcool, drogas e sexo. Não deixei que o pensamento cruza-me a minha mente mais
que uma vez, não me permitindo segundas hipóteses. Embora o meu instinto fosse
aceitar a sua proposta indecente, as circunstâncias na qual a noite passada
havia acabado ainda não tinham desaparecido totalmente, levando a que houvesse
da minha parte uma pequena reflexão sobre a resposta final.
- Não
Nath, obrigado. Provavelmente vou jantar e dormir, sinto-me exausta. - Desculpei-me,
embora não fosse mentira de todo. Abri os braços e envolvi Nathan num abraço
apertado, sentia que cada vez mais a nossa amizade permanecia. Entre nós, não
havia distinção de sexo, eramos só nós, eu e ele. Eu era eu, por ele ser o que
era. Sem adições de nada, muito menos conservantes. Eu era eu e ele era ele. Só
nós, eu e ele. Puros e fiéis a nós mesmos, como sempre havia acontecido.
- Se
quiseres alguma coisa, podes ligar-me a qualquer hora que eu vou ter contigo
está bem? – Encarei Nathan, que sabia perfeitamente que tinha isto em mente mas
era sempre bom avivar-me a memória. Deu-me um beijo no topo da cabeça e voltou
a examinar-me minuciosamente, quase decorando cada traço visível no meu rosto –
Se mudares de ideias, também podes ligar-me. – Ri-me da sua persistência e
desfiz o abraço apertado, pegando na trela do King Óscar que Nathan me
esticava.
- Se
precisar de ti ligo-te, eu sei. Boa festa. Até amanhã. - Virei costas e entrei
pelo portão que dava acesso à entrada da casa onde viveria por alguns meros
meses. Chamei King Óscar e ouvi Nathan despedir-me, desejando-me um boa-noite.
Abri a porta de casa e soltei Óscar da sua trela, deixando-o correr à vontade
pela casa. O cheiro proveniente da cozinha fez com que água me crescesse na
boca e percebi que a minha tia Ashley e Emma já se descobriam em casa.
-
Boa-tarde. – Cumprimentei, entrando na cozinha. Depositei um beijo na bochecha
de Emma, que permanecia sentada à mesa, a desenhar, fazendo-me perceber que as
artes eram algo que faziam parte desta família – Gosto do teu desenho. –
Afirmei dando uma rápida vista de olhos no seu desenho e ouvir uma gargalhada
por parte da minha tia, à qual me dirigi de seguida, cumprimentando também com
um beijo na bochecha.
- Precisas
de ajuda para o jantar? – Perguntei espreitando para dentro dos tachos. Como já
era habitual, recusou a minha ajuda, preferindo que lhe contasse o que havia
feito a noite passada e o que se passara hoje. Decidi que seria boa ideia
ocultar-lhe o facto de ter esmurrado alguém e de ter beijado outro alguém que
havia acabado de conhecer e em menos de nada o jantar estava preparado.
***
Terminei
de jantar e ajudei a arrumar a cozinha, oferecendo-me depois para levar Emma
para a cama. Vesti-lhe o pijama e ajudei-a a lavar os dentes.
- Até
amanhã, amor. – Aconcheguei-lhe a coberta e depositei um beijo carinhoso na
testa, passando a mão pelos seus cabelos loiros – Dorme bem. – Ela sorriu e
fechou os olhos. Levantei-me, apaguei a pequena luz da mesa-de-cabeceira e
dirigi-me para o andar de baixo, onde a minha tia Ash se encontrava a beber um
chá, sentada no sofá.
- Então,
hoje vais sair? – Perguntou-me sorrindo, quando me sentei ao seu lado,
lembrando-me do convite que Nathan me havia feito. De facto havia recusado esse
mesmo convite, a vontade de meter de novo naquele ambiente era nula, mas a
vontade de ficar em casa era definitivamente igual. Talvez fosse boa ideia dar
uma volta pelas ruas de Londres sozinha e quem sabe, levar a máquina
fotográfica para me entreter. Sorri com a ideia que havia brotado na minha
consciência e preparei-me para responder.
- Uhum,
vou. Mas volto cedo, vou mesmo só dar uma volta por aí. – Esclareci, sorrindo.
Ela anuiu e levou a chávena fumegante que ostentava entre as mãos aos lábios,
bebericando uma pequena porção do seu conteúdo. Levantei-me cuidadosamente e
subi as escadas lentamente.
Abri a
porta do quarto e tal como na noite anterior achei que seria boa ideia levar um
casaco para evitar a possível hipótese de passar frio. Tirei o casaco de ganga
preta do guarda-fatos e vesti-o, apreciando a minha silhueta ao espelho. Peguei
na carteira e coloquei-a no bolso do casaco, imitando o acto para o maço de
tabaco, Ipod e telemóvel. Escolhi a lente que levaria para a máquina e passei a
fita em volta do pescoço, parecendo quase uma turista. Peguei nos headphones e
desci as escadas.
-Até logo
tia. – Acenei em modo de despedida e esta virou-se para trás sorrindo e
acenando de volta.
- Tem
cuidado. – Alertou-me antes de sair de casa e colocar as chaves também ao
pescoço e os headphones nos ouvidos, ligando o Ipod. As palavras proferidas
pela minha tia Ashley fizeram-me recordar a conversa que havia tido com Nathan
mais cedo. Só espero que o Harry não
tenha a brilhante ideia de ir ter contigo, relembrei as palavras de Nathan
e senti os meus pelos enriçarem-se levemente com tal lembrança. Perguntava-me
se seria tão verdade, Nathan parecia acreditar piamente na ideia de que este
rapaz, a quem havia entregue gratuitamente uma punhada, iria procurar pela
minha pessoa e talvez, quem sabe acertar contas e retribuir na mesma moeda.
Abanei a cabeça negativamente, achando que seria melhor esquecer o assunto se
possível ou pelo menos tentar pensar positivamente sobre o mesmo.
O meu
telemóvel vibrou no bolso do casaco despertando-me dos meus devaneios.
Retirei-o do bolso o mais rapidamente possível e no ecrã pude ler: Jay a
chamar. Suspirei audivelmente, apercebendo-me que apesar do seu pedido para o
contactar, tal não havia acontecido. Não queria parecer que o estava a evitar,
de facto não estava, fugir dos problemas não era algo que apreciasse. Deslizei
o dedo no ecrã do telemóvel de modo a atender a chamada e levei rapidamente o
aparelho eletrónico ao ouvido, que ansiava por ouvir a voz de Jay.
- Olá Jay.
– Cumprimentei com um sorriso, sabendo que Jay não poderia ver, não denunciando
o contentamento que se havia protestado dentro do meu corpo.
- Por
momentos pensei que não fosses atender. – Riu-se para meu deleite, ressentindo-me
depois devido ao facto de não lhe ter ligado como havia pedido. Mordi levemente
o lábio em arrependimento – Como estás? – Perguntou de seguida, demonstrando
que não estava aborrecido com tal facto.
-
Desculpa, esqueci-me completamente de te ligar… - Suspirei com a pobre verdade
que acabava de dizer, talvez me sentisse culpada por ter ignorado a sua
mensagem de manhã. Cessei a caminhada em que me encontrava e procurei por um
local onde me pudesse sentar, olhei em volta e deparei-me com a entrada de um
pequeno prédio, para onde de seguida me dirigi – Estou bem, ressacada. E tu? –
Sentei-me nas não-tão-confortáveis escadas que davam acesso à porta de entrada
do prédio e esperei pela sua resposta, enquanto sentia o frio e sujo mármore
contra o tecido fino das minhas leggins pretas.
-Eu estou
bem, claro. Tu é que és fraca. – Senti o seu tom de gozo e ri-me, apesar de
saber que de fraca nada tinha.
-Cala-te,
twat. – Ripostei ainda a rir e do outro lado da linha ouvi Jay rir também.
Imaginei a sua cara e desejei que se encontrasse comigo. Talvez gostasse mais
de Jay do que queria, mas não quis importar-me com o pensamento, ignorando-o.
- Hoje
vens cá a casa? – Perguntei-me sobre o que falava, mas rapidamente soube que se
referia à festa, se é que se pode chamar de tal, para a qual Nathan me havia
convidado mais cedo. Deduzi portanto que a casa onde me havia situado ontem
seria sua. Praguejei mentalmente o facto de ter dito a Nathan que não iria e
passei a mão pelos cabelos sedosos.
- Não.
Hoje não me sinto com disposição para festas. – Declarei com um suspiro. De
facto a minha disposição para ir até lá era nula, sentia-me de facto exausta
demais para conseguir tolerar todo o barulho que supus haver, embora por outro
lado, a vontade de ver Jay fosse quase insuportável. Havia algo nele que me
fazia sentir segura e que me dizia que podia confiar nele.
- Devias.
– Admitiu e imaginei um sorriso aparecer no seu rosto, embora não o pudesse
ver. Suspirei sabendo que não ia mudar de ideias. Com a mão livre que possuía,
retirei do maço um cigarro que levei aos lábios, acendendo-o – Onde estás? –
Questionou, apanhando-me desprevenida. Certamente não estava habituada a estas
questões.
- Ao pé da
estação de Victoria – Indiquei, sem saber o que esperar ou sequer o porquê de
tal questão. Decidi que a melhor opção seria acabar com o mistério e perguntar
directamente - Porquê? – Indaguei, esperando uma resposta da sua parte,
enquanto levava o cigarro aceso de novo aos lábios.
- Quero
ver-te. Dez minutos e estou aí. – Desligou a chamada sem me dar tempo de
processar a informação que acabava de receber. Ainda chocada coloquei o
telemóvel no bolso e levantei-me dirigindo-me para a estação de Victoria, com
um sorriso nos lábios.
Hello lovers, como estão?
Peço desculpa por não ter postado na quarta-feira, mas tenho estado de férias e não tenho wi-fi de net nenhuma e não tenho pen, hoje vim a casa e aproveitei muito rápido para postar, mas agora provavelmente só volto para o próximo sábado.
Espero que gostem deste capítulo e que fiquem à espera de mais. Volto a postar de novo assim que chegar, again.
PS- Juro que não sei porque é que aquele branco está a aparecer no fundo de texto a meio do capitulo mas, não era para estar lá, porque não faz sentido, mas eu sou muito boa com tecnologias e blogues e então não sei tirar, lol. Peço desculpa pelo incomodo.
With love, J. xx
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