quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Capitulo 4: Love is a losing game.

Over futile odds
And laughed at by the gods
And now the final frame
Love is a losing game

Amy Winehouse - Love Is A Losing Game


Sentei-me no banco de uma paragem vazia, observando o pouco movimento que havia, provavelmente devido às horas tardias e por ser um dia de semana. Sentia o meu coração bater ligeiramente mais célere, incomodando-me o suficiente para me achar ridícula por tal, afinal de contas não era habitual que semelhante situação acontecesse.
- Tens alguma coisa contra convívio público? – Perguntou aquela voz que já conhecia, mais do que devia. Olhei e pude ver Jay encostado à paragem com um sorriso nos lábios e mãos nos bolsos dos jeans escuros que trazia. Envergava também uma camisa axadrezada azul e branca, com as mangas enroladas até meio do antebraço e uns Vans pretos que denotei serem bastante usados. Comparativamente aos meus, que ainda apresentavam um ar novo e de pouco uso.
- Não. Mas prefiro estar sozinha do que mal acompanhada. – Defendi-me em tom de desdém, fazendo Jay soltar uma gargalhada, enquanto ao mesmo tempo me esticava a sua mão, que agarrei, puxando-me de modo a fazer-me levantar.
- Então isso quer dizer que eu sou uma boa companhia. – Afirmou sorridente, puxando-me para junto de si. Senti o calor seu corpo contra o meu e tentei não mostrar o desconforto em que me colocara quando as suas mãos encontraram o fundo das minhas costas e os seus olhos encararam os meus intensamente, quase que sugando todo o ar dos meus pulmões.
- Não. Quer dizer que estou a abrir uma excepção. – Ergui o sobrolho e exibi um sorriso de troça, sem desviar a atenção dos seus olhos penetrantes. Apesar de minha intenção de responder de uma forma inteligente, o facto de me encontrar numa posição à qual não estava habituada fazia com que o meu raciocínio estagnasse e começava a achar que era complicado abstrair-me da mesma. Jay riu sonoramente, deixando a sua cabeça descair para o lado e de seguida mordeu o lábio inferior, ligeiramente arroxeado desde a noite anterior. Desejei intensamente que não o tivesse feito.
- Espero ser a tua única excepção, então. – Ergueu as sobrancelhas com a sua própria afirmação e ri-me com tal expressão. A verdade é que me sentia bem com Jay e embora soubesse que estava provavelmente a enveredar por um campo de minas pronto a explodir a qualquer momento, a vontade de seguir em frente e enfrentar o perigo era maior do que a vontade de fugir e colocar-me a salvo.
- Eu aviso-te se não fores. – Respondi divertida, enquanto pegava na máquina que se encontrava ao meu pescoço e a colocava a tiracolo, permitindo com que o pequeno espaço entre nós fosse fechado.
- Sobre ontem… - Começou por dizer e ergui o meu olhar até encontrar o seu, onde denotei, talvez preocupação. Agradeci o facto de Jay não tentar esconder o que se havia passado tal como Nathan parecia gostar de fazer e apreciei que este falasse sem ter que ouvir questões e insistências por parte da minha pessoa – Espero que não tenhas ficado assustada. – Passou a sua mão pelo meu rosto e afastou alguns cabelos que se encontravam caídos sobre o mesmo. Adoptei uma postura mais rígida e inspirei uma golfada de ar, preparando-me para falar.
- Não fiquei assustada… – Disse mordendo o lábio de seguida, procurando uma resposta adequada – Mas não estava à espera, fui apanhada desprevenida. – Suspirei sem saber o que poderia dizer sobre o assunto, de facto havia sido apanhada desprevenida e certamente não estava assustada, talvez porque não tivera tempo de perceber o que se passava. – Acho que foi mais chocada… Não sei. Acho que nem tive tempo de sentir mais alguma coisa. – Sorri e Jay puxou-me para junto do seu peito, fazendo com que o seu cheiro doce invadisse as minhas narinas e me fizesse sorrir ainda mais.  
- O Nathan disse-me que tinhas a mão inchada. – Riu zoando da situação, pegando na minha mão inspecionando-a, depois levou-a aos lábios, beijando-a. – Pronto, agora não te dói mais. – Ri-me com o seu acto, apercebendo-me que acabara de me tratar como se fosse uma criança.
O som do telemóvel que calculei ser de Jay soou, não me dando oportunidade de lhe responder e de gozar com a sua atitude infantil. Tentei afastar o meu corpo do seu, dando-lhe o espaço que necessitava e quase que instintivamente o seu braço fez pressão para que os nossos corpos continuassem próximos um do outro.
- Diz. – Disse assim que atendeu a chama que recebia e levava o telemóvel ao ouvido. Esforcei-me para não ouvir a sua conversa, mas o facto de estar incrivelmente próxima de si tornou tal acto impossível  – Sim puto, vou já. – Concentrei-me no cheiro que emanava da sua camisa e apreciei o calor no qual me encontrava, sentindo-me reconfortada.
Talvez fosse um erro permitir sentir-me bem no seu abraço, mas a realidade, embora quisesse negá-lo, era que gostava de estar perto dele, mesmo sabendo que era um completo estranho. Quiçá o facto da minha vida amorosa ser inexistente até este ponto da minha vida me fizesse sentir que devia proteger este possível relacionamento e deixar que Jay fizesse parte da minha vida, mesmo sabendo que seria somente de curta duração. Sentia-me perturbada, e não queria que isso acontecesse agora. Não agora. Ignorei o pensamento, saboreando o momento, reflectindo que o Verão havia apenas começado.
- Está bem. Até já. – Ouvi Jay despedir-se, desligando o telemóvel e colocando-o de novo no bolso das calças. – Vou ter de ir, o Nathan já está à minha espera. – Encarou-me e tive a ligeira noção de que a sua vontade era de ficar. – Queres que te leve a casa? – Perguntou segurando no meu queixo com a sua mão, fazendo com que o meu corpo estremecesse com o seu toque.
- Não, obrigado. – Agradeci sorrindo. Interiormente queria que ele ficasse comigo, mas sabia que não podia pedir-lhe isso – Vai para a tua festa, não quero que chegues atrasado. – Gracejei, tentando não mostrar o descontentamento por Jay ter que me deixar e este riu-se sonoramente, antes de aproximar os seus lábios dos meus, que entreabri ligeiramente permitindo que as nossas línguas de encontrassem. As suas mãos no fundo das minhas costas puxaram-me para junto de si e qualquer espaço existente entre nós desapareceu. Deixei que os meus braços rodeassem o seu pescoço e que as minhas mãos acariciassem os seus caracóis rebeldes.
Afastou-se ligeiramente quebrando o beijo, o que me fez abrir os olhos vagarosamente e contemplar o sorriso caloroso patente no seu rosto, fazendo com que os meus lábios se curvassem num semelhante.
- Diz-me quando chegares a casa. – Pediu-me e assenti com um leve aceno afirmativo – Até amanhã. – Voltou a dar-me um beijo ao de leve nos lábios e começou por se afastar, sem nunca dissipar o seu olhar do meu.
- Até amanhã. – Despedi-me também colocando uma mecha de cabelo para trás. Jay desapareceu rapidamente do meu campo de visão e senti um alívio percorrer-me o corpo, enquanto por outro lado desejava que este não tivesse partido. Suspirei audivelmente, sabendo que ninguém que ouviria e decidi colocar-me a caminho de casa, desejando encontrar ao longo deste um lugar onde pudesse parar para fotografar alguma arte urbana.
***
Parei, observando aquele local que me havia chamado à atenção. Atravessei a rua para o lado oposto e caminhei ao longo da rua até me encontrar de frente para aquele graffiti que me havia captado a atenção ao de longe. Night Creepers, li enquanto estudava o desenho de um lobo pintado na parede. Liguei a máquina e preparei-me para fotografar aquilo que me parecia ser o melhor graffiti que havia contemplado hoje.
Após capturar algumas fotos que julguei serem de boa qualidade, ouvi algumas gargalhadas provenientes das traseiras da casa que me encontrava de momento a fotografar, instigando a minha curiosidade e vontade de fotografar a verdadeira essência da cidade. Apesar de algo dentro de mim me dizer que devia afastar-me e manter-me longe de mais problemas, havia outra parte de mim que estava curiosa demais para abandonar a ideia e de certo modo ansiava para conhecer o oculto que permanecia apenas a escassos metros de mim.
Enveredei por um caminho sinistro de pedras e terra batida, quase tapado por arbustos, sentindo até alguns cabelos ficarem presos nos mesmos e abri o pequeno portão com aspecto quebradiço que dava acesso às traseiras, lugar ao qual desejava fugazmente chegar. Sabia que estava a meter-me no covil do lobo, não fosse isso óbvio demais após me lembrar do graffiti que havia fotografado momentos antes.
Tentando manter-me silenciosa e despercebida, agachei-me atrás de um pequeno muro coberto também por arbustos e certifiquei-me que era o local ideal para conseguir retratar as fotos que pretendia. Cautelosamente desliguei o flash da câmara fotográfica e tentei que a pouca intensidade luminosa não se torna-se um obstáculo no trabalho que pretendia executar com sucesso. Disparei algumas vezes e apesar de ter torcido o nariz outras tantas vezes, sentia que a maioria das fotografias captadas tinha chegado ao nível que desejava.
Ouvi algo estilhaçar-se excessivamente perto de mim e contive a vontade de vociferar devido ao sobressalto que me havia apanhado desprevenida. Numa questão de míseros segundos após ouvir o vidro partir-se senti algo aguçado embater no meu rosto, causando dor e mais uma vez reprimi a vontade de bradar perante o ardor que sentia na bochecha. Levei a mão ao rosto e com a ponta dos dedos finos apercebi-me de que sangrava da mesma. Praguejei mentalmente contra facto de me ter colocado naquele local e tentei fazer o meu caminho de volta para a saída.
De regresso ao trilho que dava acesso à rua principal ouvi passos atrás de mim. Inquietada virei-me lentamente para trás, esperando não ser nada mais do que a minha imaginação a pregar-me partidas. Rapidamente soube que não era uma partida mental. Atrás de mim encontravam-se aqueles olhos de um verde intenso que me incomodavam, examinando cada movimento do meu corpo. Comprimi os lábios numa linha tensa e senti um arrepio percorrer-me o corpo, enquanto o estudava.
- Nem foi preciso procurar-te. – A sua voz era rouca e soou como música nos meus ouvidos. Pensei em correr mas as minhas pernas encontravam-se mortificadas, a minha respiração tornara-se pesada e o meu coração batia num ritmo frenético, fazendo-me pensar se seria visível o quão rápido batia. Deu um passo na minha direcção, fazendo-me recuar outro em contrapartida. As palavras que Nathan havia proferido mais cedo invadiram a minha mente, mais uma vez naquele dia e desejei não ter ido àquele local. Só espero que o Harry não tenha a brilhante ideia de ir ter contigo, repetia as palavras na minha cabeça e ironicamente apercebi-me de que havia sido eu a ir ter à boca do lobo, o que me fez contrair o maxilar.
- O que é que queres? – A minha voz soou mais firme do que esperava e congratulei-me por tal. Embora o meu instinto gritasse para sair dali o mais rápido possível e fugir, algo me fazia querer enfrentar o medo e mostrar que estava à sua altura.
- Quero-te a ti, Summer. – O meu corpo estremeceu quando ouvi o meu nome ser pronunciado e engoli em seco, encarando-o fixamente. Como é que ele sabia o meu nome? Abri os lábios com a ambição de me pronunciar, pretendia descobrir como é que este sabia o meu nome.
- Como é que sabes o meu nome? – Questionei no tom mais feroz que me era possível, mas a minha voz saiu apenas num sussurro, fazendo com que no seu rosto fosse visível um sorriso de escárnio. O meu estômago revirou-se e consequentemente semicerrei os olhos, esperando que me respondesse.
- Tenho as minhas fontes, Summer Kay Evans. – Senti o meu coração falhar alguns batimentos e sem me aperceber sustive a respiração. Talvez devesse ter ficado em casa. Mais uma vez engoli em seco, apercebendo-me do que Nathan falava mais seriamente do que pensava. O sorriso de chacota não desapareceu dos seus lábios carnudos e rosados, fazendo-me sentir que estava na presença de um psicopata.
- Tu és demente… - Hesitei por momentos antes de permitir que o seu nome saísse de entre os meus lábios, mas sabia que não podia mostrar medo, não iria dar-lhe tal prazer – Harry. – Não queria de alguma maneira desafiá-lo, sabia que perderia inevitavelmente mas não podia deixar que este se divertisse à minha custa. Não iria dar-lhe tal satisfação. Harry soltou uma gargalhada grotesca dando mais um passo na minha direcção.
- Vejo que não o único a ter informações. – Disse num falso tom de surpresa e o sorriso sarcástico voltou aos seus lábios, fazendo com que cerrasse de novo o maxilar – Não me digas que foi o teu amigo Nathan que fez o favor de me apresentar. – Parou a escassos centímetros do local onde me encontrava e baixou-se de modo a que o seu rosto ficasse nivelado com o meu, fazendo com que sentisse a sua respiração embater levemente na minha pele, causando-me arrepios. Apesar do esforço mental de querer mover-me fosse inacreditavelmente colossal, o meu corpo estava tenso demais para que tal acontecesse. De alguma forma sentia que estava entre a espada e a parede. – Que simpático da parte dele. – O seu tom sarcástico ecoou e mais uma vez soltou uma gargalhada satírica, fazendo o meu corpo retrair-se cada vez mais. Apetecia-me gritar com ele e dizer-lhe que não passava de um miúdo irritante com a mania.
- Afasta-te de mim. – Ordenei inaudivelmente, sentindo-me incapaz de pronunciar-me num tom mais elevado. Este abanou a cabeça negativamente emitindo ruídos de desaprovação.
- Não, não, não. Sabes, Kay… – Parou por momentos, o sorriso que me dava náuseas voltou a curvar-se nos seus lábios – Quando eu quero uma coisa, eu tenho essa coisa. E neste momento és tu quem eu quero, percebes? – Afastou alguns cabelos da minha face colocando-os atrás da minha orelha e senti-me fraquejar com o seu toque. Bruscamente afastei a sua mão de mim e encarei-o, ganhando coragem.
- Não me toques! – Os seus olhos verdes escureceram e os seus músculos endureceram. Colocou as mãos nos bolsos dos jeans pretos que trazia vestidos e inevitavelmente constatei que a sua t-shirt também preta possuía o logótipo de um dos álbuns da banda Pink Floyd, abstraindo-me momentaneamente da situação em que me encontrava – E para ti é Summer. – Informei, pretendendo que este não voltasse a chamar-me pelo meu segundo nome.
Severamente a sua mão deveras masculina alcançou o meu queixo, que ergueu firmemente obrigando-me a encará-lo, cólera visível nos seus olhos. Tentei afastar-me e fugir do seu toque, que verifiquei ter sido inútil. Harry empurrou o meu corpo e subitamente estava encostada a uma parede, não me dando possibilidades de fugir. A tensão no ar era palpável, tornando a tarefa de continuar a respirar quase impossível.
- Um dia vais pedir para não te largar, Kay. Escreve o que te digo. – O seu tom era frio e autoritário, tornando mais evidente o nervosismo no qual me encontrava. O meu peito subia e descia num ritmo apressado e a minha respiração tornara-se mais uma vez ofegante. A sua presença era imponente e a pressão que exercia sobre mim tornava inexequível qualquer acção que pretendesse cumprir.  
Libertou o meu rosto e mais uma vez sorriu provocadoramente, enquanto perscrutava a máquina de fotografar que trazia ao pescoço. Por momentos inquiri o que estaria a pensar, mas rapidamente concluí que não poderia ser algo inocente. A sua mão alcançou rapidamente a máquina, sem me dar tempo de a proteger e facilmente retirou a fita envolta do meu pescoço. Voltou a sorrir triunfante quando viu a minha postura incomodada.
- Devolve-me a máquina, já! – Exigi com um laivo de impaciência patente na voz, enquanto esperava que as suas ideias não envolvessem qualquer tipo de dano para a máquina que considerava ser a minha melhor amiga. Continuava com um sorriso divertido nos lábios como se a minha irritação lhe agradasse, acabando por me aborrecer ainda mais. Observei enquanto ligava o aparelho e examinava as fotos que se encontravam no cartão de memória da mesma, por vezes pensei ser perceptível um escasso espanto no seu rosto. Perguntei-me interiormente se havia algum tipo de fotografias que não devessem ser vistas por Harry, mas recordei que felizmente não possuía nada de alarmante – Eu disse para me devolveres a máquina. – Repeti o pedido, levando a que os seus olhos encontrassem os meus. Senti um nó no estômago e tentando manter a postura cerrei o maxilar.
- Que tal fazermos assim, eu devolvo-te a máquina… – Ergueu o aparelho no ar e senti que tinha o meu coração nas suas mãos – Se te portares bem. Vem à minha festa amanhã e eu devolvo-a. – Esclareceu. No seu tom constatei divertimento e talvez um pouco de excitação. Senti que estava a ser chantageada da pior maneira e não pude deixar de franzir o cenho em desaprovação.
- Tu não queres a minha máquina para nada. Só queres obrigar-me a ir e não tens outra forma de o fazer. – Acusei com desprezo e senti vontade de vomitar quando me apercebi dos caminhos que este tomava para ter o que queria. Harry aproximou-se de novo de mim e por momentos temi que voltasse a tocar-me, o pensamento fez-me encostar ainda mais à parede.
- Verdade, mas… - Elevou o braço esquerdo e apoiou a mão na parede ao lado do meu rosto e aproximou-se, permitindo que sentisse o cheiro do seu perfume e sua respiração quente – Não tinha outra maneira de te fazer ir. Não te posso obrigar. – Sorriu exibindo a dentadura branca e perfeita e senti que estava mais perto do meu rosto do que pensava, causando com que o meu corpo tremesse – Assim vais por vontade própria. – Finalizou elevando as sobrancelhas, mostrando que estava feliz com a sua acção.
- Por vontade própria? A sério? – Exclamei sarcasticamente, sentindo que estava a ouvir a coisa mais ridícula em toda a minha insignificante existência. Sabia que não tinha opção, caso quisesse reaver o precioso objecto que se encontrava nas suas mãos. Empurrei-o afastando-o, determinada a enfrentá-lo, sabia que este não iria maltratar-me. Caso contrário porque se daria ao trabalho? Desejei fugazmente estar certa e pensei em tirar partido de tal facto. Soltou um riso de entretenimento perante a minha reacção, fazendo-me bufar irritada.
- Gosto mais de ti quando não me enfrentas, Kay. – Passou a mão pelo queixo, relembrando o facto de o ter esmurrado na noite passada. Não me sentia culpada, para dizer a verdade sentia que havia sido o murro mais bem entregue da minha vida. O único, para ser sincera. Não sentia qualquer remorso ou até vontade de desculpar-me por tal. Não iria fazê-lo de qualquer maneira, não após saber o que Harry me estava a edificar.
- Já te disse que para ti é Summer. – Corrigi num tom de azedume e para meu desgosto, Harry sorriu, desfrutando do domínio que exercia agora sobre mim. A minha alma iria estar mais corrompida do que alguma vez estivera. Pensei o que seria feito da vontade própria e cheguei à conclusão que isso deixara de existir a partir do momento em que havia cruzado caminho com Harry. Quem era ele? E porquê eu? – O que é que tu queres de mim? – Questionei, sem perceber o porquê de semelhante coisa estar a acontecer comigo e cruzei os braços sobre o peito.
- A tua inocência. – O seu olhar estava pousado no meu e a sua voz grave. Um ligeiro sorriso apareceu nos seus lábios e ergueu o sobrolho. Semicerrei os olhos perguntando-me do que falava, supondo que não poderia saber o facto de ser virgem, sendo que esta era a única coisa na qual poderia pensar após a sua afirmação. Talvez ele soubesse mais da minha vida do que pensava.
- Como é que sabes…? – Questionei visivelmente escandalizada. Até que ponto saberia este rapaz da minha vida? O pensamento de que poderia saber mais do que devia tornou os meus músculos duros devido à sua contração. Encarei o seu rosto e esperei que desta vez me desse alguma resposta com conteúdo que me ajudasse a perceber como é que sabia estes factos sobre a minha vida mais que privada.
- Não tinha a certeza. – Um ar de divertimento surgiu no seu rosto e percebi que desfrutava de entretenimento à minha custa – Mas agora tenho. – Um sorriso perverso emergiu nos seus lábios, fazendo com que sentisse o rosto vermelho. Dei graças a Deus por estar de noite e este não conseguir ver o quão embaraçada tinha ficado e cerrei os punhos. Este rapaz conseguia semear a fúria em mim, de uma maneira que pensei nunca ser possível.
- Isso nunca vai acontecer. – Clarifiquei a garganta, segura das minhas palavras. Por mais tentativas que Harry pudesse fazer, eu sabia que isto não iria acontecer, não com ele. Talvez fosse exagerado dizer que queria rir-me das suas palavras, mas estava positiva que tal nunca iria acontecer.
- Veremos, Kay. – O seu tom era de desafio e tremi com o mesmo, sentindo um calafrio percorrer-me o corpo. Sabia que não podia obrigar-me a fazer tal coisa mas isso não impediu que o meu corpo se retraísse perante as suas palavras, que ecoavam agora na minha mente. Veremos, Kay.
- Tu és nojento. – Retorqui, bufando após uma breve pausa, recuperando do choque inicial. Pude sentir que no meu rosto a expressão que envergava era clarificadora da minha afirmação. Mais uma vez Harry aproximou-se de mim, colocando-me de novo entre o seu corpo e a parede. O ar escapou-me dos pulmões e devido à proximidade de Harry senti as minhas pernas fraquejarem.
- Não me insultes. Isso deixa-me excitado, babe. – Os seus lábios curvados num ligeiro sorriso estavam demasiado perto dos meus, fazendo com que fosse possível sentir o seu hálito fresco a mentol e cigarros. Contraí o maxilar fortemente e deixei que um ruído de desagrado soasse da minha garganta, originando a que Harry mordesse levemente o seu lábio inferior, mostrando o quão agradado com a situação se encontrava. Controlei a vontade de o insultar de novo e cerrei os punhos, até sentir que os nós dos dedos se encontravam brancos. Considerei voltar a esmurrá-lo mas talvez não fosse tão boa ideia, não pretendia sujeitar-me a mais chantagens da sua parte.
- Porque é que estás a ter este trabalho todo? – Perguntei ofegante, procurando uma resposta decente, para o porquê de toda a situação – Tu nem me conheces. – Justifiquei, contemplando os seus olhos verdes, que sabia esconderem segredos que nunca iria descobrir.  
- Harry! – Uma voz masculina soou perto de nós, despertando a atenção de Harry que ignorou a pergunta que lhe havia feito, encarando os arbustos, esperando que quem o chamasse surgisse. O seu sorriso desapareceu e os seus olhos tornaram-se mais uma vez escuros como havia acontecido anteriormente. Suspirei, apesar de continuar na ignorância sobre o porquê de ser eu a escolhida, talvez alguém tivesse vindo em meu socorro. Talvez me beliscassem e eu acordaria no meu avião ainda a caminho de Londres e tudo não passasse de um mero pesadelo.
Um rapaz de estatura mediana e cabelos escuros com uma singular madeixa loira, cuidadosamente elevados numa poupa, emergiu dos arbustos, envergando um casaco de ganga com uma t-shirt branca por baixo, uns jeans escuros e uns ténis cinzentos de marca Nike. Trazia entre os lábios um cigarro aceso e pude reparar que seu braço revestido por algumas tatuagens.
- O que é que queres, Zayn? – A voz de Harry manifestou-se dominadora e arrogante, quase como se irritado por este rapaz, intitulado de Zayn acabasse de interromper algo demasiado importante. Um arrepio percorreu o meu corpo e por momentos pensei que Harry fosse saltar para cima do rapaz. Um sorriso macabro nasceu nos lábios de Zayn e este expeliu o fumo do cigarro.
- Calma puto. – Soltou uma leve gargalhada à qual Harry não achou piada e lançou um olhar aterrador. Se o olhar matasse, acreditava que Zayn estaria agora no chão sem vida – Não queria interromper, sabes disso. – Coçou a nuca com a mão, exibindo um olhar sério de seguida – Mas temos problemas, precisamos de ti. – O seu olhar fixou-se no do rapaz de olhos verdes e a sua voz soara mais grave, mostrando preocupação. Desviei o meu olhar de Zayn e estudei Harry. Os seus músculos maxilares estavam flectidos e as suas narinas encontravam-se visivelmente expandidas, mostrando a irritação que o seu corpo emanava. Ouvi os seus dedos estalarem, o que causou com que olhasse para as suas mãos, uma delas fechada fortemente, enquanto a outra segurava cuidadosamente a câmara que desejei estar em minha posse.
Harry afastou ligeiramente o seu corpo do meu e observou o meu rosto. Nos seus olhos verdes era possível distinguir um pouco de decepção, talvez por não poder divertir-se mais um pouco à minha custa. Passou a mão pelos caracóis escuros e despenteados, soltando um som de raiva.
- Vejo-te amanhã, Kay. – Exibiu um sorriso agradável, mostrando a sua dentição perfeita e as covinhas que se formavam nas suas bochechas, o que lhe conferiu um ar angelical, fazendo com que por momentos o Harry que havia conhecido desaparecesse. Perguntei-me se seria possível tal acontecer, mas sabia que as aparências iludiam e nada era realmente o que parecia. Afastou-se do meu corpo e senti-me relaxar – E trata desse corte. – Apontou para a minha bochecha e a dor que pensei que ter desaparecido voltou a atacar-me, provocando ardor na zona ferida, o que me fez elevar a mão até ao local quase instantaneamente, tocando-a ao de leve – Não quero que fique infectado. E não te esqueças, se queres a máquina de volta, amanhã tens que te portar bem. - Lançou-me novamente um sorriso perfeito e virou costas, elevando a máquina, dando ênfase ao que acabava de dizer.
Rapidamente desapareceu atrás de Zayn nos arbustos, sem me dar qualquer instante de lhe perguntar onde iria ser a sua festa. Como podia esperar que eu fosse lá se nem sabia onde era? Bufei e recusei voltar às traseiras da casa. Perguntar-lhe-ia no dia a seguir, de alguma forma. Talvez só tivesse que voltar a esta velha casa para o encontrar. Considerei o facto perguntar a Nathan, mas sabia que não seria boa ideia. Acabo com ele, as palavras repetiram-se na minha cabeça e soube de seguida que forma alguma poderia contar que tal episódio havia ocorrido nesta noite. Desejei ter ficado em casa ou ter aceite o convite de Nathan e Jay para me ter junto a eles na festa. Passei os dedos pelos cabelos e tremulamente retirei um cigarro do maço, pretendendo acalmar-me e prossegui o caminho de volta para casa.
***
O caminho não fora muito longo, ou se fora não me lembrava pois tinha entrado numa grande discussão interior. Sentia-me péssima por tudo. O meu corpo tremia e a minha mente estava prestes a explodir. Coloquei a chave na ranhura da porta e rodei lentamente. A casa encontrava-se escura e presumi que a minha tia já estivesse a dormir.
Subi a escadas lentamente e dirigi-me ao meu quarto, atirando tudo o que trazia nos bolsos para cima da cómoda, sentindo-me leve por saber que de certa forma a máquina havia sido extorquida da minha posse durante algumas horas. Suspirei pesadamente e senti que me havia colocado numa má posição. Sabia que não poderia contar a Nathan, não queria que se metesse em problemas por minha culpa. Sabia que o mesmo acontecia com Jay, não permitiria que tal acontecesse, tinha-me colocado naquela situação sozinha e havia de sair dela sozinha também.
Sem pressa despi a roupa que se encontrava no meu corpo e atirei-a para o cadeirão, pois não me encontrava com paciência para a colocar no devido lugar. Procurei o meu pijama dobrado debaixo da almofada e vesti-o, sentindo-me confortada por momentos. Apercebi-me que o nervosismo ainda não havia deixado totalmente o meu corpo quando notei que as minhas mãos se encontravam trémulas. Suspirei e abanei a cabeça negativamente, analisando a situação em que me encontrava.
Haviam passado pouco mais de 24 horas desde que havia chegado a Londres e os problemas pareciam colar-se a mim, embora eu pouco fizesse para que tal acontecesse. A minha vida monótona tornara-se num rodopio apenas em algumas horas, quase como que num piscar de olhos, para ser precisa. Abri a janela e procurei pelo maço de tabaco que se encontrava em cima da cómoda. Acendi o cigarro e fumei-o devagar, saboreando cada pedaço do mesmo, permitindo que a calma se apoderasse do meu corpo. Fechei os olhos e deixei o fumo sair de entre os lábios, lentamente.
Após repetir o movimento mais meia dúzia de vezes, ouvi o telemóvel vibrar contra a madeira da cómoda. Coloquei o cigarro na beira da janela, pois não fumaria dentro de casa e dirigi-me ao telemóvel, perguntando-me quem seria ou o que poderiam querer, peguei no mesmo e voltei para junto da janela, colocando o cigarro de novo na boca. Deslizei o dedo no ecrã do telemóvel, desbloqueando o mesmo e abri a mensagem do número desconhecido.
- “Não te preocupes sobre amanhã, só tens que fazer o que te digo. Beijos, Harry. Xx” – Li a mensagem e quando me apercebi de quem era, os meus lábios formaram uma linha tensa. Perguntava-me o que seria feito da vontade própria? Sentia que cada vez menos tal coisa existia quando se estava ligado a Harry. A vontade de atirar o telemóvel contra a parede fora reprimida, sabia que não iria ter dinheiro para comprar mais nenhum telemóvel se algo acontecesse a este.
Atirei o cigarro, que se encontrava entre os meus dedos, para longe e fechei rapidamente a janela e os estores. A vontade de voltar a esmurrar Harry era assustadoramente intensa, mas também era assustadora a parte de mim que ansiava por se meter em confusão, que apreciava a adrenalina que toda esta situação me proporcionava. Talvez a ideia de ir à festa de Harry não fosse tão má quanto pensava, ou talvez fosse. Perguntei-me porque haveria de correr mal, afinal de contas só teria de passar algumas horas na mesma festa que Harry, ele devolver-me-ia a máquina e tudo acabava a partir do momento em que deixasse a sua festa. Depois não haveria nada que ele pudesse fazer para voltar a ter contacto comigo. Sorri com o pensamento e desejei que a noite seguinte chegasse depressa para me ver livre da confusão em que me encontrava.

Após lavar os dentes, examinei o meu rosto no espelho existente por cima do lavatório da casa de banho e constatei que havia sangue seco no mesmo, proveniente do corte que habitava agora na minha bochecha. Um trejeito apareceu no meu rosto e lavei a ferida cuidadosamente, sentindo ardor na mesma, o que fez com que alguns suspiros de sofrimento ecoassem levemente pela casa de banho. Desinfectei a mesma a muito custo e seguidamente dirigi-me ao quarto. Deitei o meu corpo na confortável cama do meu quarto e deixei que os eventos desde que havia chegado a Londres desaparecessem da minha mente, permitindo-me vaguear por sítios onde poderia apenas estar quando me encontrava a dormir. 

Zayn:



Hello queridas, espero que ainda não tenham deixado de vir aqui ler! Tenho que pedir desculpa pelo tempo que demoro a postar, mas tenho andado tão off que nem tenho vontade de nada para ser sincera.
Espero que tenham gostado do capítulo e que fiquem até ao próximo comigo. 
Também tenho demorado mais a postar porque estou encalhada à meses num capítulo e nem sei como continuar, o problema não são ideias mas sim a inspiração para escrever, porque quando escrevo sem vontade parece que fica mal e portanto prefiro não escrever nessas fases... De qualquer das maneiras espero que tenham paciência. 
Gostava de saber o que acham da história e o que acham que se pode vir a passar!

With love, J. xx

5 comentários:

  1. Olá :)
    Estou a gostar bastante da história. Ainda está no princípio mas dá para perceber que tens muito jeito para escrever e também criatividade.
    Parabéns e continua <3 beijinhos

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    1. Olá. (:
      Ainda bem que estás a gostar da história, espero que continues a gostar para ser sincera.
      Obrigado e espero que apesar da demora a postar ( a responder-te) continues a vir aqui ler. :D
      xx

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    2. Acredita que vou continuar. E é normal demorares a postar, também tens uma vida.
      Beijinhos xD

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  2. Ruth, estava eu a tentar ler e o fundo do blogue não ajuda :s
    Se calhar, se em vez de transparente queiras pôr uma cor seria melhor para ler, caso queiras manter a mesma imagem de fundo :s

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    1. Olá. (:
      Bem, não é a Ruth que escreve esta história, mas não faz mal. lol
      Eu já mudei o fundo para ficar todo branco, espero que agora seja mais fácil para ler.
      Obrigado pela dica. :D

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