I see nothing in your eyes
And the more I see the less I like
Is it over yet, in my head?
I know nothing of your kind
And I won't reveal your evil mind
Breaking Benjamin - Breath
And the more I see the less I like
Is it over yet, in my head?
I know nothing of your kind
And I won't reveal your evil mind
Breaking Benjamin - Breath
O vibrar
incessante do telemóvel contra a madeira da mesa-de-cabeceira despertou-me do
meu leve sono. Com a cabeça ainda debaixo dos lençóis, levei a mão ao local de
onde provinha o som irritante e procurei, às-cegas, pelo telemóvel, dava muito
trabalho meter a cabeça de fora e eu era apologista do esforço mínimo,
principalmente quando me acordavam com um telefonema. Assim que o encontrei
debaixo dos meus dedos, peguei no mesmo e recolhi o braço de novo para o
conforto do casulo onde me encontrava. Sem procurar saber quem se dignava a
ligar-me a umas horas, que pensei serem inapropriadas, deslizei o dedo pelo
ecrã desajeitadamente e levei o telemóvel ao ouvido.
- Estou? –
Atendi com uma voz ainda rouca devido ao acordar repentino a que tinha sido
submetida. Fosse quem fosse, era bom que o motivo pelo qual me ligavam fosse
importante.
- Mais
descontraída desde ontem? – A voz do outro lado da linha soou rouca, causando
um arrepio em todo o meu corpo. Rapidamente afastei o édredon do meu corpo e
ergui o corpo, permanecendo sentada na cama. A expressão no meu rosto
demonstrava o quão irritada estava.
- O que é
que tu queres agora? – Bufei, levando a mão aos cabelos despenteados,
colocando-os para trás de modo a tira-los dos olhos, ainda ensonados. Ele já
havia conseguido o que queria, porquê dar-se ao trabalho?
- Saber
como foi a tua noite. – Respondeu. Apercebi-me que estava a divertir-se pelo
tom que usara, mas para seu mal, o meu humor não estava num dos seus melhores
dias. Revirei os olhos com o seu falso interesse, sentindo a paciência
evaporar-se rapidamente por cada um dos poros existentes no meu corpo.
- Vai-te
foder. – Resmunguei, sentindo o sangue fervilhar por baixo da pele –
Chantagista. – Acrescentei antes de desligar a chamada e deixar o corpo cair na
cama, soltando um gemido de frustração. Havia questões para as quais nunca iria
ter resposta. A questão do porquê de tal facto estar a acontecer-me a mim,
seria uma delas.
Exaltada
levantei-me da cama, puxei o equipamento de corrida do armário, vestindo-o
atabalhoadamente. Sentia-me irritada, não só pelo facto de ter sido despertada,
mas pelo facto de que, quem quer que fosse Harry, perigoso ou não, estava a
interferir demais na minha vida. Dirigi-me ao andar de baixo, levando apenas o
que necessitava para a minha corrida matinal.
- Olá
Óscar. – Cumprimentei assim que vi o pequeno canino à entrada da cozinha.
Desviei o olhar para o relógio digital do micro-ondas situado na bancada, este
marcava com números vermelhos, bastante visíveis, 10 horas e 26 minutos. Passei
a mão pelos cabelos, num acto desesperado. Estava de férias e ainda assim não
me sentia de tal modo. Após tomar o pequeno-almoço e ter lavado a cara e os
dentes, dirigi-me à porta, preparando-me para iniciar a corrida diária à qual
já estava habituada.
***
De
headphones colocados nos ouvidos, com música a explodir dos mesmos para os meus
ouvidos e com um passo de corrida estabelecido, sentia o calor invadir o meu
corpo e pequenas gotículas a formaram-se na minha testa. Corria entre as ruas
de Londres, vendo o quão apressadas as vidas dos estranhos que passavam por mim
eram. Estaria, sensivelmente, a correr há 20 minutos e o meu ritmo cardíaco
estava mais acelerado, enquanto tentava manter uma respiração compassada.
Senti a
presença de alguém ao meu lado, acompanhando o meu passo de corrida. Olhando
para o lado, examinei quem decidira juntar-se a mim na minha corrida matinal. O
choque percorreu o meu corpo e rapidamente afastei os headphones dos ouvidos,
deixando-os pendurados à volta do meu pescoço.
- Não
sabes que é má educação desligar o telemóvel na cara das pessoas? – Um sorriso
trocista surgiu nos seus lábios rosados, mostrando a sua perfeita dentição. O
meu ritmo cardíaco já apressado, aumentou quando a sua voz chegou até aos meus
ouvidos.
- Não
sabes que é má educação acordar alguém de manhã? – Indaguei, encarando Harry,
que esta manhã envergava uma t-shirt branca, uns calções de treino
azuis-escuros e um par de ténis brancos, preparados para corrida. Os seus
caracóis presos por um gorro cinzento, não permitindo que estes saltassem para
a frente dos seus olhos enquanto corria. Por momentos imaginei como seria vê-lo
cair no chão se tal acontecesse e a vontade de rir surgiu, embora apenas fosse
percetível um débil sorriso nos meus lábios. O sorriso permaneceu nos seus
lábios, enquanto corria a meu lado.
- Antes
pelo contrário, pensei que gostasses de acordar ao som da minha voz. – Senti um
leve rubor nas faces e mantive o olhar metido na rua que se estendia à nossa
frente, tentando manter-me calma, sem tropeçar nos meus próprios pés. Decidi
que seria melhor ignorar a sua resposta.
- O que é
que estás a fazer aqui? – A questão era pertinente e o facto de Harry se
encontrar a correr comigo era algo que ultrapassava os meus conhecimentos. Como
é que ele sabia onde me encontrar? Essa era a questão em causa, mais
propriamente.
- A
correr, como é óbvio. – Respondeu, como se tal fosse a coisa mais óbvia, mas
conhecendo Harry como conhecia, mesmo que fosse apenas desde há umas horas
atrás, sabia que havia algo por detrás de tal acto. Não podia ser apenas
correr, muito menos no mesmo percurso que havia estabelecido para mim mesma.
Sabia que não iria responder à minha pergunta, o que me fez revirar os olhos.
- Oh, a
sério? Não tinha reparado. – Ripostei da forma mais sarcástica que me era
possível, ouvindo um riso abafado da parte de Harry. Virei à esquerda, tentando
perder Harry de vista, mas falhei quando notei que este me seguia e se
encontrava de novo ao meu lado, correndo como se nada se passasse – Como é que
sabias onde me encontrar? – Perguntei esperançada que talvez houvesse uma
resposta da sua parte. Encarei o seu rosto momentaneamente e o seu olhar caiu
sobre o meu, fazendo com que rapidamente fitasse de novo a rua. Sentia os seus
olhos presos em mim, enquanto corríamos, causando-me de certo modo algum
desconforto que preferi ignorar, mantendo a cara inexpressiva, atenta apenas à
minha corrida. Talvez se o ignorasse me deixasse em paz.
- Já te
disse que tenho as minhas fontes, Kay. – O seu tom era mais obscuro do que
inicialmente, fazendo um arrepio percorrer o meu corpo. Por momentos senti as
minhas pernas bambas e engoli em seco, concentrando-me de novo no acto de não
cair – Eu tenho olhos em todo o lado. Eu sei tudo o que quero. – A sua voz
continuava a soar fria e grave, tal como havia soado na noite passada. Afinal
quem era ele? E o que poderia saber sobre mim? Ou se havia lago que não
soubesse sobre mim. Seria possível ter uma vida privada ou isso era algo que
raramente acontecia por aqui? Tentar perceber o que se estava a passar na minha
vida neste momento era algo que não conseguia, em menos de 24 horas, já havia
acontecido mais do que em toda a minha patética vida. Decidi retomar o caminho
de volta a casa, cortando caminho por entre as ruas que já conhecia, talvez
fosse a maneira mais fácil de me ver livre de Harry, embora quer quisesse, quer
não, iria ter que voltar a vê-lo mais tarde, caso contrário nunca mais iria
colocar a vista na minha máquina fotográfica.
- Se achas
que me metes medo, bem podes pensar o contrário. – Menti com todos os dentes
que possuía na boca. A verdade era que Harry me assustava, mais do que devia,
mas sabia que se demonstrasse tal sentimento, mais facilmente ele ter-me-ia nas
suas mãos. Provocar medo era o que ele queria, e tinha a estranha impressão que
a sensação de poder que exercia sobre os outros lhe dava prazer.
A sua mão agarrou fortemente o meu braço, o
que fez com que cessasse qualquer movimento e instintivamente encarei Harry,
sentindo o medo e a surpresa invadirem o meu corpo. Puxou-me para um beco
vazio, somente com alguns carros estacionados e encostou-me à parede, mais uma
vez tal como havia feito na noite passada. Não ser temido era algo que o
aborrecia e por momentos regozijei-me por ter feito Harry perder as
estribeiras, porém momentos depois o pânico tomava conta do meu corpo, o nó no
meu estômago tornara-se insuportável, quase agoniante e a minha respiração
ofegante, não só da corrida mas pelo facto de me encontrar corpo a corpo com
Harry. Assustava-me pensar no que poderia acontecer a seguir.
- Devias,
Kay. – Ferozmente encarou o meu rosto e os seus olhos, outrora verdes e
brilhantes encontravam-se escuros, tal como já havia presenciado. As minhas
pernas fraquejaram e senti que iria cair por momentos. Talvez não fosse boa
ideia enfrentar Harry, não me encontrava à altura para tal – Eu não gosto
quando não têm medo de mim. – Inesperadamente um sorriso cresceu nos seus
lábios, contrariando a sua acção precedente. Comprimi os lábios numa linha
firme e controlei os tremores que fluíam através do meu corpo, da cabeça aos
pés. Cerrei os punhos fortemente, até sentir que os nós dos dedos se
encontravam brancos e que no interior da minha palma as minhas unhas começavam
a cravar-se, provocando uma ligeira dor – Mas tu excitas-me quando me
enfrentas. Eu gosto disso. – Mordeu o lábio inferior, visivelmente agradado com
a minha falsa coragem. Ergueu a sua mão até ao meu rosto, acariciando a visível
ferida da noite passada. Rapidamente afastei a sua mão, empurrando-a para
longe.
- Felizmente
não há nada para gostares acerca disso. Agora se não te importas gostava de
continuar a minha corrida. – Afastei o seu corpo do meu sem grandes
dificuldades, verificando depois que Harry voltava a seguir-me, com um sorriso
evidente no rosto. A fúria que percorria o meu corpo era quase perceptível no
ar, ao ponto de tornar a minha passada mais apressada. Gotas de suor escorriam
pelo meu rosto e a vontade de mandar Harry desaparecer era incontestável – Vais
continuar a seguir-me como um cachorro perdido? – Pronunciei salientando as
últimas palavras. Estudei o rosto de Harry e por momentos considerei ter
voltado a provocá-lo, quando vi os seus olhos ligeiramente semicerrados,
arrependendo-me seguidamente das minhas palavras, temendo o que poderia
acontecer no momento seguinte.
- Tens uma
boca grande por vezes, sabes disso? – Questionou retoricamente. Deixei que um
sorriso falso surgisse nos meus lábios, mostrando o quão desagradada estava por
este se encontrar comigo, no momento da manhã que deveria ser considerado o meu
momento relaxante – É por isso que gosto de ti. – Continuou a exprimir os seus
sentimentos, embora pouco me interessasse. Avistei a poucos metros de onde nos
encontrávamos a curva que antecedia a rua da residência da minha tia e
mentalmente senti-me satisfeita e tranquilizada.
- Pena o
sentimento não ser mútuo. – Ironia patente na minha voz. Assim que fizemos a
curva, virando à direita, eram escassos metros que me separavam de casa.
Rapidamente avistei o típico portão preto Londrino da entrada e cessei a
passada. Deleitada por me sentir em porto-salvo.
- Veremos.
– Ouvi Harry dizer à medida que entrava pelo portão, sem me preocupar em
perguntar se este queria entrar. Não havia possibilidade de tal questão. Quanto
mais rápido me visse livre dele melhor. Coloquei a chave na ranhura da porta e
rodei, destrancando-a e consequentemente acabando por a abrir.
- Adeus
Harry. – Fechei rapidamente a porta sem lhe dar tempo de responder quer que
fosse. Sentia-me exausta e o dia havia apenas começado. Relembrei o facto de
ter de o voltar a ver mais tarde e um calafrio percorreu o meu corpo, deixando
os meus pelos enriçados. Sacudi a cabeça de modo a esquecer o pensamento e
desloquei-me em direcção ao quarto no piso superior, onde me preparei para
tomar um duche refrescante. Quase que me sentia a bater com a cabeça nas
paredes, mas a verdade é que era apenas a minha cabeça a pensar demais e o meu
coração a sentir coisas a mais também.
Antes de
ter tempo de caminhar em direcção à casa de banho, o meu telemóvel vibrou em
cima da cama, onde o tinha deixado desde que acordara. Perguntava-me se seria
Jay ou Nathan, e imaginei o que poderia acontecer se lhes contasse o que se
havia passado. Suspirei audivelmente percebendo que isso não era boa ideia.
Peguei no telemóvel e corri o dedo no ecrã, desbloqueando o mesmo, abrindo a
nova mensagem.
-“Vejo-te logo na festa, Kay. Se queres a tua
máquina é bom que te comeces a portar bem. Harry. xx” – Senti o meu
estômago revirar-se por momentos, sabendo que as minhas atitudes poderiam
prejudicar os acontecimentos desta noite e desejei fervorosamente que não
tivesse tido tais atitudes, percebia agora que estava apenas a arruinar-me a mim
própria e as minhas esperanças. Contraí o maxilar fortemente e deixei o
telemóvel cair na cama ainda desfeita, dirigindo-me para a casa de banho a fim
de tomar o duche pelo qual tanto ansiava.
***
Era
incrível como o tempo passava depressa demais quando nos encontrávamos a fazer
algo que realmente gostávamos. Após ter tomado banho e ter preparado algo
rápido para o almoço, colocara em cima da mesa todos os utensílios que
necessitava para criar uma boa tela. De pincéis, tintas, um pequeno recipiente
com água, alguns panos e um bloco de folhas brancas preparados estrategicamente
em cima da mesa, tinha começado a fantasiar sobre uma das folhas brancas, até a
minha tia chegar a casa com Emma. Após limpar a pequena confusão que tinha
feito na mesa, ajudei Emma com alguns dos seus pequenos trabalhos do infantário
e mais tarde acabei por ajudar a minha tia com o jantar, que embora tivesse
rejeitado tal ajuda, a bem ou a mal havia acabado por a aceitar, pedindo para
que colocasse a mesa.
- Como foi
o teu dia? – Perguntou-me no final do jantar quando nos encontrávamos a arrumar
a cozinha. Coloquei o prato que restava na máquina e virei-me para ela, ainda
encostada à bancada da cozinha - E o que é que aconteceu à tua cara? – Ergueu a
sobrancelhas com curiosidade.
- Não foi
nada, ontem arranhei-me num arbusto. – Menti, sentindo um nó na garganta, e
decidi prosseguir, apercebendo-me que havia acreditado na pobre desculpa que
lhe contava – O meu dia foi bom. Fui correr, passeei o Óscar e meti-me a
desenhar. – Sorri levemente, ocultando o que se havia passado com Harry. Mais
uma vez indaguei o porquê da sua lembrança percorrer de novo a minha memória,
os seus olhos verdes sempre escondidos num recanto do meu cérebro, espreitando
ocasionalmente. Passei a mãos pelos cabelos, tentando afastar aquele olhar que
me dava calafrios – E desculpa se tenho chegado tarde quando saio à noite. – Um
trejeito formou-se no meu rosto e senti a culpa formar-se dentro de mim. Talvez
devesse passar mais tempo com a minha tia, em vez de me meter em sarilhos que
possivelmente não tinham saída.
- Summer,
tu vens cá para te divertires, não é para estares fechada em casa comigo. Estás
de férias por amor de Deus. – Levou os braços ao ar e riu-se, como se fosse
normal chegar tarde todas as noites. Um tímido sorriso curvou-se nos meus
lábios e os braços da minha tia rodearam a minha pequena figura, acolhendo-me
no seu peito, enquanto me afagava os cabelos – Tu és nova, vive enquanto podes.
– Beijou-me os cabelos carinhosamente, deixando que as suas mãos acariciassem
agora o meu rosto. Este era apenas um dos motivos que tornavam a minha tia
Ashley numa das melhores pessoas que conhecia, talvez também uma das pessoas
pela qual sentia mais carinho e afecto. O seu espírito jovial e a forma como
vivia era o que me trazia todos os Verões de volta para a sua beira.
- Bem… -
Mordi o lábio ligeiramente – Suponho que não te importes que volte a sair hoje?
– Por momentos receei qual seria a sua resposta, mas o largo sorriso patente no
seu rosto mostrou-me o contrário.
- Não
sejas tonta, claro que podes ir sair. – Um sorriso continuava estampado nos
seus lábios finos e mais uma vez acariciou o meu rosto ferido – Só quero que
tenhas cuidado, está bem? – Os seus olhos verdes fitaram os meus e assenti com
um leve abanar afirmativo e os cantos dos lábios curvados – Eu sei que posso
confiar em ti. – Mais uma vez naquela noite beijou-me os cabelos – Bem, agora
tenho que ir deitar a Emma. – Encaminhou-se para a sala, onde se encontrava
Emma e subitamente voltou a virar-se para mim – Vais sair já? – Questionou,
tornando viva a memória sobre o facto de que não fazia ideia onde seria a festa
de Harry ou muito menos como poderia descobrir tal realidade. Suspirei e
ponderei ter que ligar a Harry para desvendar esse mistério.
- Não,
mais daqui a pouco. – Comuniquei com diminuto entusiasmo, o que fez com que o
sobrolho da minha tia se erguesse em confusão, esta assentiu sem levantar
questões.
- Devias
ligar aos teus pais antes de ires. – Sorriu mais uma vez e acabou por deixar-me
sozinha na cozinha, dirigindo-se de novo para a sala. Subitamente lembrei-me
que de facto ainda não havia ligado aos meus pais e talvez esta fosse a melhor
altura para o fazer.
Lentamente
subi as escadas que davam acesso ao piso de cima e cheguei ao meu designado
quarto. Procurei rapidamente pelo telemóvel, encontrando-o no meio dos lençóis
da cama desfeita. Imediatamente procurei nas chamadas recebidas pelo número da minha
mãe e passei o dedo pelo botão de chamadas, iniciando a mesma. Não foi preciso
esperar muito até que do outro lado da linha soasse a voz feminina que tão bem
conhecia.
- Olá mãe.
– Cumprimentei assim que a chamada fora atendida e senti um pequeno alívio
percorrer-me o corpo. Sabia que era desnaturada no que tocava a relações
sociais, mesmo que estas se tratassem de família e dos poucos amigos próximos
que formavam o meu círculo de comunicação.
A conversa
não fora demasiado longa ou demasiado curta, apenas o tempo necessário para
dizer que se encontrava tudo bem e que não era necessário preocupar-se. Apesar
de terem passado apenas dois dias, esta afirmara que já se encontrava com
saudades, o que achei improvável, afinal de contas tinham sido apenas 48 horas
de distância. Tal como havia feito com a minha tia Ashley, achei que seria boa
ideia ocultar pequenos acontecimentos que naturalmente só iriam deixar a minha
mãe preocupada. Após desligar a chamada verifiquei o relógio do telemóvel, que
marcava 22 horas e 32 minutos, lembrando-me que era altura de vestir
apropriadamente.
Despi a
larga t-shirt preta que envergava, e de seguida o mesmo aconteceu com os
calções do equipamento do Barcelona que havia roubado a Luke, uma das pessoas
que fazia parte do meu fechado grupo de amigos. Perguntei-me que tipo de festa
seria e relembrei a festa em casa de Jay, o pensamento de lhe ligar passou a
minha mente, mas talvez o fizesse mais tarde, depois de voltar para casa, sã e
salva.
Optei por
usar umas calças às riscas verticais, brancas e pretas, com um curto bustier
preto que continha um pequeno fecho na frente, envergando por cima do mesmo um
casaco preto de cabedal com tachas no colarinho e mangas. Calcei as minhas
Doctor Martens brancas e coloquei um gorro preto da marca Obey na cabeça. Para
completar acabei por colocar alguns adereços e o relógio de pulso preto.
Encarei a minha figura ao espelho e um trejeito contorceu-se no meu rosto após
ver o quão pálida me encontrava. Passei rapidamente o eyeliner preto pelos
olhos, coloquei uma pequena camada de rímel da mesma cor e passei um batom
vermelho garrido pelos lábios. Contente com o resultado final do meu esforço,
sorri ao espelho, questionando se estaria exagerado, após uma curta avaliação
decidi que não havia motivo para me preocupar com o meu visual.
O meu
telemóvel voltou a vibrar em cima da cama, e subitamente desejei que fosse
Harry. Corri para a cama e desajeitadamente procurei pelo telemóvel. Assim que
o encontrei abri a mensagem de texto que havia recebido.
-“Espero que estejas preparada. Daqui a 5
minutos podes sair de casa. Harry. xx” – Um alívio percorreu o meu corpo
quando li a mensagem. Talvez ele soubesse o que estava a fazer e eu apenas
tivesse que ser uma boa menina e acompanhar. Rapidamente procurei por uma
pequena mala onde pudesse meter apenas os meus pertences necessários e desci as
escadas, sentando-me na sala esperando que os 5 minutos acabassem por passar,
junto da minha tia.
O meu
telemóvel voltou a vibrar dentro da pequena mala preta também com tachas. Abria-a
cuidadosamente e premi o botão para que mostrasse a mensagem que havia
recebido. Dentro do meu peito o meu coração batia apressadamente e senti um nó
no estômago, causando-me náuseas. O conteúdo da mensagem era reduzido e apenas
me ordenava a sair de casa.
- Bem tia…
- Levantei-me o mais casualmente que conseguia, tentando esconder o nervosismo
que assomava todo o meu corpo – Vou sair. – Aproximei-me dela, depositando um
beijo em cada uma das suas bochechas – Até amanhã. – Sorri debilmente e ela
retribuiu. Rapidamente fiz o meu caminho até à porta de casa e tirei a chave
que me pertencia da pequena taça de vidro que se encontrava em cima da pequena
mesa de entrada, junto à mesma. Fechei a porta cuidadosamente, encarando o
carro preto da marca Bentley, e
reconheci o modelo como sendo um Continental GT. Senti que os meus olhos
saltavam das suas orbitas quando me apercebi que poderia ser o carro de Harry.
Num passo estranhamente lento aproximei-me do carro e o vidro escuro do lado do
passageiro desceu vagarosamente. Ao volante contemplei Zayn com um cigarro
entre os lábios. Este envergava uns jeans claros, uma t-shirt preta e por cima
da mesma um casaco de cabedal preto tal como eu própria envergava, sendo que o
seu no lugar de tachas tinha pins pendurados e emblemas cosidos. Os seus
cabelos com a sua particular madeixa encontravam-se de novo cuidadosamente
elevados numa poupa perfeita.
- Entra. – Vociferou, fazendo com que
os meus olhos semicerrassem. A sua voz, apesar de grave, não era tão
assustadora quanto a de Harry. Revirei os olhos perante a sua arrogância e abri
a porta do passageiro, sentindo a diferença de entrar no que estava habituada a
ser o lugar do condutor e fechei brutamente a porta do carro caríssimo no qual
acabava de entrar. Encarei Zayn com um falso sorriso nos lábios e no seu
semblante notei alguma irritação. Sem me dar tempo de colocar o cinto de
segurança, arrancou mais bruscamente do que esperava, o que causou com que o
olhasse com um olhar furtivo. Olhou-me pelo canto do olho e um sorriso
presunçoso designou-se no seu rosto, mostrando a satisfação da sua acção. Mordi
o interior da bochecha controlando a vontade de lhe chamar um nome impróprio e
ofensivo. What a cunt.
Senti mais uma vez o telemóvel vibrar
dentro da mala, desta vez incessantemente e presumi que alguém me ligava. Abri
apressadamente a mala e levei o telemóvel ao ouvido ao mesmo tempo que o
atendia.
- Estou? – Amaldiçoei -me mentalmente
por nunca procurar saber primeiro quem me ligava e rapidamente desviei o
aparelho do ouvido, tomando conhecimento de quem me ligava; Nathan. Senti o
pânico percorrer-me as veias, sabia que não podia dizer-lhe onde me encontrava
e muito menos com quem me encontrava.
- Por momentos pensei que não me
fosses atender! – Ouvi a sua voz melodiosa do outro lado e sorri ao pensar o
quanto não dava para o ter ao meu lado agora – Queres vir até casa do Jay? Hoje
só estamos cá nós. – Convidou-me e por muito que gostasse de lhe dizer que sim,
sabia que não podia. Comprimi os lábios numa linha tensa e fechei os olhos,
passando a mão que me sobrava pelo rosto. Custava-me ter que lhe mentir, mas
que outra opção tinha? Sabia que se lhe dissesse a verdade o mais provável era
acontecer algo terrível e não o queria em confusão, muito menos sendo por culpa
minha.
- Olá Nath. – Tentei que o meu tom
soasse normal e quase me engasguei quando este não tinha passado apenas de um
sussurro entalado na garganta – Porque é que não havia de atender? – Soltei um
sorriso nervoso e esperei que aos seus ouvidos soasse de maneira diferente –
Não desculpa, hoje não me sinto bem-disposta. – Desculpei-me, embora
falsamente. Abanei a cabeça negativamente perante o que acabava de fazer,
talvez fosse melhor para todos que mentisse, mas o facto de saber que era
melhor não ajudava no sentimento de culpa. Mentir nunca fora o meu forte.
- Estás em casa? Queres que passe por
aí? – A preocupação era patente na sua voz, o que me deixou feliz por saber que
este se preocupava realmente comigo e ao mesmo tempo triste, porque sabia que o
estava a preocupar desnecessariamente e acima de tudo sabia que não passava de
uma farsa apenas para não causar mais problemas traiçoeiros. O meu coração
continuava a ribombar no meu peito e sabia que tinha que arranjar forma de o
impedir de passar por minha casa.
- Sim, estou em casa. Mas vou dormir
agora, não aguento mais estas dores de cabeça. Importas-te se ligar amanhã? –
Pedi, sentindo a culpa fluir através do meu corpo. Engoli o nó que se formava
na minha garganta e senti as minhas palmas sensivelmente suadas, mentir não era
de facto o meu melhor traço.
- Tens a certeza? Se quiseres não me
importo de ir aí. – Voltou a questionar e tive que forçar novamente uma
mentira. Mexi-me desconfortável no banco de pele escura do carro de Zayn,
mordendo o lábio levemente, procurando arranjar solução para a situação manhosa
em que me encontrava.
- Não, Nath. Quero mesmo dormir. –
Assegurei, porém sabia que era tudo uma grande mentira. Ouvi Nathan suspirar do
outro lado da linha e contive a vontade súbita de lhe contar toda a verdade.
- Está bem, Kay. Vê se ficas bem.
Amanhã ligo-te e não me escapas. – Soltou um sorriso contagiante e
acompanhei-o, rindo-me também – Até amanhã, Kay. Sabes que te adoro. –
Despediu-se. Um sorriso perfeito apareceu nos meus lábios quando este proferia
as últimas palavras. Senti uma genuína felicidade transitar através das minhas
veias e não contive um pequeno riso.
- Eu sei que não te escapo. – Voltei
a rir abafadamente, ouvindo o riso caloroso de Nathan através do aparelho que
segurava ao ouvido – Até amanhã. Também te adoro, Nath. – Despedi-me e
rapidamente terminei a chamada sem ter mais forças para ouvir a sua voz. Forcei
o maxilar e observei as luzes da rua, que pareciam deslizar ao meu lado. A minha cabeça teimava em andar mais devagar do que o tempo realmente
andava.
- Nunca que disseram que mentir é
feio? – A voz de Zayn suou trocista e dirigi o meu olhar para si, apenas para
verificar que nem se tinha dado ao trabalho de tirar os olhos da estrada pela
qual guiava, porém era visível nos seus lábios um sorriso provocante – Devias
ter-lhe dito com quem estás e a que festa vais. – O meu olhar era fulminante e
se este matasse Zayn estaria provavelmente sobre o volante do seu carro
luxuoso, sem vida. Abri o vidro do carro, retirando um cigarro da pequena mala
que transportava comigo e acendi-o, expirando o fumo para fora da janela,
sentindo a fresca brisa da noite embater contra o meu rosto, causando-me
pequenos arrepios.
- Cala-te Zayn. Estás aí a mandar
bitaites, mas andas a fazer de motorista privado do Harry. – Afirmei, numa
tentativa de provocar Zayn. Olho por olho, dente por dente. Dei mais uma passa
no cigarro e pelo canto do olho, vi Zayn contrair o maxilar fortemente, mais
uma vez sem desviar os olhos do caminho que percorríamos. Congratulei-me por o
ter metido de volta no seu lugar e tentei desfrutar do cigarro que segurava
entre os finos dedos da minha mão, vendo Zayn imitar os meus movimentos
passados escassos segundos. Perguntei-me para onde nos dirigíamos, mas sabia
que não valeria a pena perguntar tal questão a Zayn, sabia que me ignoraria ou
simplesmente deixar-me-ia em branco. Começava a achar que devia habituar-me a
esta sensação de nada saber e de que não possuía qualquer tipo de poder que
pudesse mudar tal facto. Achava até que havia perdido o controlo que tinha
sobre a minha própria vida, sentia que agora não havia nada que pudesse fazer
ou dizer. O caminho já estava traçado e as cartas lançadas, esperava apenas que
tivesse sorte neste jogo.
***
Zayn abrandou e rapidamente entramos
numa estrada de acesso privado. Perguntava-me onde me teria vindo meter, mas
nenhuma resposta coerente chegou ao meu cérebro. Examinava cuidadosamente cada
movimento de Zayn, tentando ao mesmo tempo descobrir onde me encontrava. Ao
longe era visível uma casa branca com as luzes acesas, e comecei a ouvir uma
leve música, trazida pela aragem da noite. O meu estômago revirou-se e uma
súbita vontade de voltar para trás veio ao de cimo. Premi os lábios fortemente
e esperei enquanto Zayn estacionava ao lado de tantos outros carros luxuosos,
levando-me a questionar como era possível Zayn possuir tal carro ou mesmo de
quem seria a casa, que agora mais me aprecia uma mansão, onde me encontrava.
Zayn desligou o motor do carro e retirou a chave da ignição, abrindo a porta de
seguida, saindo. Imitei os seus gestos, saindo também do mesmo, fechando desta
vez a porta mais cuidadosamente.
Zayn subiu a pequena escadaria que
dava acesso à porta da casa e segui-o, tentado não me perder. Assim que chegou
ao cimo da mesma abriu a porta, de onde proveio uma forte música que invadiu instantaneamente
os meus ouvidos. Zayn entrou, segurando a porta para entrar também, deixando-me
perplexa com tal atitude. Não sabia se havia de agradecer por tal acto de
simpatia ou não, limitando-me apenas a mostrar-lhe um leve sorriso.
Havia pessoas por toda a parte e
casais encostados aos cantos das paredes, com as línguas enfiadas nas gargantas
uns dos outros. O cheiro proveniente do tabaco e do álcool eram evidentes
através do ar que circulava dentro daquela casa, fazendo-me lembrar da festa
que havia acontecido apenas há duas noites atrás em casa de Jay.
- Zayn, quem é essa? – Fitei a
rapariga de cabelos ruivos compridos e olhos azuis. Esta envergava uma camisola
larga de malha branca, uma saia comprida num tom verde seco e ainda umas botas
pretas até ao tornozelo. A maquilhagem no seu rosto era quase inexistente e
exibia um sorriso que me pareceu caloroso.
- É a nova namorada do Harry. – Respondeu-lhe
com pouco interesse e soltou uma leve gargalhada. Os meus olhos arregalaram-se
perante tal afirmação e rapidamente lancei lanças através dos olhos para Zayn,
apressando-me a corrigir tal barbaridade.
- Não sou nada ao Harry! – Bufei
visivelmente provocada por tal atrocidade e revirei os olhos. Rapidamente ouvi
gargalhadas vindas de Zayn e da rapariga de cabelos ruivos, causando com que o
nível de fúria em que me encontrava aumentasse drasticamente.
- Não és, ainda. – Ripostou a
rapariga e senti que os meus olhos deitavam chamas, quase literalmente. Quem
eram estas pessoas? E porque é que todas estavam tão convictas de que tal facto
iria ocorrer? Afinal de contas, ainda era eu que tinha esse controlo sobre a
minha vida – Sou a Lana. – Estendeu-me a face, que cumprimentei levemente,
porém a vontade de a mandar para locais menos apropriados estava à tona. Sorri,
falsamente querendo esconder tal vontade.
- Summer. – Retorqui após breves
instantes e o sorriso nos lábios de Lana tornou-se mais caloroso do que
anteriormente, ajudando a que a irritação que sentia se dissolvesse lentamente.
- Toma, Lana. – Ao meu lado, uma
rapariga de cabelos castanho-claros ondulados ligeiramente abaixo dos ombros e
olhos igualmente castanhos, esticou um copo de plástico vermelho até Lana, que
graciosamente o aceitou, levando-o logo de seguida aos lábios.
- Obrigado Chelsea. – Sorriu-lhe e a
rapariga que vestia uma camisa branca, cavada, por dentro dos curtos calções de
ganga clara e cintura subida, sorriu-lhe de volta, bebericando consecutivamente
do seu copo vermelho, até notar a minha presença, o seu olhar confuso.
- Summer, esta é a Chelsea. – Lana
apressou-se a apresentar-nos – Chelsea esta é a Summer, a nova amiga do Harry.
– No seu tom denotara um toque de regozijo, e para confirmar tal, ouvi de novo
Zayn rir-se auditivamente e um sorriso cresceu também nos lábios de Chelsea,
que colocando os seus cabelos por detrás da orelha, tentou esconder a vontade
de se rir tal como Zayn. Mentalmente agradeci por fazer esse esforço e
suspirei, tentando manter o que sobrava da minha calma.
- Espero que gostes da festa, Summer.
– Articulou, esticando-me o rosto que, tal como havia feito com Lana,
cumprimentei, depositando levemente um beijo em cada uma das suas bochechas.
Sorri debilmente, sabendo que o único motivo pelo qual estava ali era o resgate
da minha máquina fotográfica, embora esperasse que o desejo de Chelsea se
tornasse realidade e que tirasse algum partido positivo da festa. Reprimi a
vontade de exprimir que esperava o mesmo e apenas mostrei o meu melhor sorriso.
Repentinamente, senti uns finos
braços contornar a minha pequena figura e inevitavelmente esbugalhei os olhos,
tentando perceber de quem se tratava, sabia ser impossível encontrar alguém que
conhecesse e que possuísse uns braços tão esqueléticos. Olhei por cima do
ombro, horrorizada e espantada por estar a ser abraçada por uma desconhecida,
que rapidamente denotei ser incrivelmente alta se comparada comigo.
- Oh meu Deus! – Os seus olhos
azuis-claros, abertos em choque e os seus cabelos loiros e lisos rebeldemente
sobre os mesmos – Pensava que era outra pessoa. – Sorriu quase que timidamente,
levando a que os meus lábios se curvassem também em um.
- Não faz mal. – Declarei confiante,
demonstrando que não me encontrava aborrecida por esta ter cometido tal erro.
De novo ouvi pequenos risos dos restantes presentes no local e assumi que desta
vez, não se dirigiam à minha pessoa, mas sim ao momento um tanto ou quanto
engraçado que acabava de acontecer.
- Sou a Alana. – Ofereceu-me um
sorriso, que me fez indagar o porquê de se estar a apresentar, e lancei um
rápido olhar para Lana e Chelsea que envergavam perversos sorrisos nos seus
rostos, levando-me a perceber que já me haviam apresentado, provavelmente como
sendo: A amiga de Harry. Alana, que usava apenas uma larga camisola de malha
preta e uns jeans justos, pretos e brancos, curvou-se ligeiramente e beijou-me
as faces. Certamente havia conhecido mais pessoas em 5 minutos do que em quase
toda a minha vida, o que me fez sentir superficial e de certo modo tonta.
- Summer. – Limitei-me a dizer,
achando que não havia nada mais que pudesse acrescentar. Talvez o positivo que
poderia tirar desta festa seria o facto das minhas capacidades sociais estarem
a evoluir extremamente depressa.
- Anda, preciso de encontrar o Harry.
– Zayn puxou-me levemente o braço e subitamente, encontrávamo-nos no meio de
corpos dançantes e vibrantes, ao som da penetrante música que, retumbava
através das grandes colunas habilmente colocadas na divisão, que presumi ser
uma sala, onde nos encontrávamos. Segui o seu corpo por entre tantos outros e
inesperadamente estávamos a subir as largas e luxuosas escadas que davam acesso
ao piso de cima, talvez Zayn soubesse onde Harry se encontrava. Zayn
serpenteava impetuoso por entre indivíduos que nos rodeavam, em puro êxtase.
Agora num corredor mais calmo, o
rapaz da madeixa loira olhou por cima do ombro, verificando se ainda me
encontrava atrás de si, assim que captou a minha figura, voltou o olhar em
frente. Estacou em frente à grande porta dupla de madeira polida e abriu-a de
rompante, puxando-me consigo para o interior do aposento.
- Já te tinha avisado que comigo não
há brincadeiras. – A voz de Harry soou assustadora e soberba, enquanto este se
encontrava de costas para o local onde eu permanecia imóvel e assustada. O meu
coração ribombava e por momentos pensei que este fosse saltar através da minha
boca. Harry esmurrou brutalmente, no estômago, quem se encontrava à sua frente,
fazendo com que um urro de dor se ouvisse, causando-me levar as mãos ao meu próprio
estômago. A vontade de gritar era indiscutível, mas neste momento sentia que o
meu corpo não obedecia às ordens do meu cérebro.
“Kay, tu
não o conheces. Acredita que é capaz de tudo para ter o que quer”, instantaneamente
as palavras que Nathan havia proferido no dia anterior assolaram todos os
cantos da minha mente e senti as pernas fraquejarem por momentos. Harry repetia
os movimentos, vezes sem conta, tornando os uivos de sofrimento cada vez mais
sucessivos. Talvez os meus olhos ainda não me pregassem partidas como a minha
memória, mas não era verdade, sabia que Harry estava à minha frente e que agora
as palavras de Nath faziam mais sentido que nunca.
- Harry! –
A voz de Zayn sobrepôs-se sobre todos os ruídos, e ao ouvir o seu nome, Harry
virou-se. O seu rosto tornou-se duro assim que os seus olhos alcançaram os
meus, ainda chocados com a sua visão. Sangue a escorrer pelos seus longos
dedos, enquanto o pobre rapaz mal se erguia do chão, manchado também pelo tom
escarlate. De cada um dos seus lados encontravam-se dois rapazes.
O
primeiro, mais baixo que Harry, os seus olhos azuis demonstravam pesar e
compaixão. Retirou o gorro azul-escuro que escondia os seus cabelos castanhos e
passou a mão agilmente por entre os mesmos, voltando a colocar o gorro sobre
estes, mostrando o quão impaciente se encontrava. Deslizou as mãos até aos
jeans pretos que usava, ligeiramente enrolados até ao tornozelo e bateu o pé,
revestido por um par de ténis brancos que condiziam com a sua simples t-shirt
branca, incessantemente no chão, mais uma vez provando o quão inquieto se
encontrava. Os seus olhos agora pousados sobre a minha presença também.
O segundo
rapaz, tão alto quanto Harry, adoptara uma posição mais descontraída. Notei que
envergava um ligeiro sorriso, mostrando que, ao contrário do seu parceiro,
estava descontraído e pouco ou nada incomodado com a situação. O seu corpo
estava coberto por uma t-shirt preta e uns jeans de igual cor, tornando os seus
Vans azuis destacáveis. Os seus olhos, de um azul-escuro, pairavam entre mim e
Harry, confusão patente nos mesmos.
- Fodasse
Zayn, não era suposto ela ver estas coisas! – Harry rugiu em direção a Zayn e
um tremor percorreu todo o meu corpo, provando mais uma vez o medo que sentia
de Harry – Tratem desta porcaria. Louis certifica-te que mais ninguém vê nada. –
Ordenou, tomando rumo no meu sentido. O rapaz de gorro fitou Harry e assentiu
com um leve acenar afirmativo. Um nó formou-se na minha garganta e engoli em
seco, sentindo o meu estômago revirar-se de novo – Desculpa. – Pediu quando o
seu corpo se encontrava perto do meu – Não queria que visses isto. – As suas
mãos seguraram o meu rosto e o cheiro pestilento do sangue proveniente das
mesmas deu-me náuseas. Embora todo o meu corpo rejeitasse o seu toque, a força
para tal desvanecia-se apressadamente, deixando-me sem possível reacção. O meu
corpo retraiu-se ao seu toque, fazendo com que o seu maxilar se contraísse
fortemente. Os seus olhos declararam, evidentemente, que reprovava o facto de
eu ter medo dele. Mas como era possível não ter medo de um possível monstro? A
minha respiração encontrava-se ofegante e senti suores frios fluírem através de
todo o meu corpo.
Harry
fechou os olhos lentamente, como que reprovando a situação e encaminhou-me para
a porta, segurando apenas o meu pulso, suavemente, como nunca esperei sentir.
As palavras formadas na minha cabeça não passavam de apenas isso, palavras
formadas na minha cabeça. A minha garganta estava seca e o ar tornara-se
irrespirável. Abri a boca para falar, mas as palavras não se formaram, ficando
presas na garganta, pelo que decidi voltar a permanecer de boca fechada.
Caminhávamos aceleradamente, dirigindo os poucos olhares que se encontravam no
andar de cima para nós. Harry apenas os ignorava, mas no meu corpo pareciam
setas afiadas que me eram lançadas, a sangue frio, sem pudor. Premi os lábios
numa fina linha enquanto mentalmente lutava por encontrar uma resposta coerente
para tudo o que acabava de presenciar.
Puxada
para uma outra divisão, que distingui ser uma casa de banho, Harry fez-me
entrar fechando a porta atrás de si.
- Senta-te.
– Comandou, apontando para o tampo da sanita fechada. Engoli em seco, fazendo o
que me mandava, sem protestar. Talvez me sentisse assustada demais para
protestar, sentia o choque ainda presente no meu corpo. Harry dirigiu-se ao
lavatório, onde lavou as mãos, livrando-se da cor escarlate que pintava as
mesmas. De seguida pegou numa toalha branca, que se encontrava pendurada e
passou-a por baixo da torneira, molhando a mesma – Kay… - Por momentos pensei
ouvir um leve suspiro da sua parte e encarei-o, olhos nos olhos – Não quero que
tenhas medo de mim. – Agachou-se à minha frente, passando a toalha lentamente,
primeiro pelo meu pulso e de seguida pelo meu rosto, limpando o sangue que as
suas mãos haviam abandonado quando mais cedo me agarrara o mesmo.
- Como é
que queres que não tenha medo? Por favor, acabei de te ver a espancar uma
pessoa. – O meu tom era apressado, demonstrando que me encontrava assustada e
que estava tudo menos calma – Vá-se lá saber que outro tipo de coisas fazes! –
Levantei o meu corpo bruscamente e logo de seguida Harry ergueu o seu também,
tornando o espaço existente entre nós diminuto – Eu não consigo fazer isto. –
Declarei, após um breve pensamento sobre ter que passar a noite consigo,
naquela festa.
Desviei o
meu corpo do seu e abri a porta da casa de banho, impetuosamente. Senti uma
breve adrenalina percorrer o meu corpo e tentei recordar o percurso que me
levaria até ao piso inferior. A voz de Harry soava atrás de mim, clamando o meu
nome. Ignorei-o e tornei o meu passo decididamente mais rápido, enquanto os
meus olhos, atentos, procuravam pelas escadas que mais cedo me haviam levado ao
piso superior. Assim que vislumbrei as mesmas, apressei-me a descê-las, com
intenção de perder Harry de vista e depressa me encontrava de novo no meio da
multidão que populava aquela enorme casa. Abrindo caminho por entre todos os
corpos, procurei um lugar mais calmo, onde pudesse respirar com calma e rever o
recente episódio.
Abri as
portas castanhas-escuras duplas à minha frente e deparei-me com um pequeno
escritório, decorado formalmente com peças clássicas e vintage. Fechando as
portas atrás de mim, encaminhei-me para um dos confortáveis cadeirões bege,
dispostos em frente a uma lareira, de momento inactiva. Deixei que o meu corpo
se afundasse no mesmo e deixei que um suspiro escapasse dos meus lábios. Estava
sozinha, mas o alvoroço proveniente do outro lado da porta mostrava que na
realidade, estava tudo menos sozinha.
A porta
abriu-se ligeiramente, fazendo com que os meus olhos a encarassem, pedindo para
que não fosse Harry a entrar pela mesma. Ao contrário do que pensava, e
sentindo que as minhas preces eram ouvidas, pela porta entrou uma rapariga, os
seus cabelos em tons de castanho claro e loiro, ligeiramente ondulados,
davam-lhe apenas pelo ombro, e os seus olhos azuis estavam contornados com
maquilhagem preta, fazendo a sua cor sobressair. Envergava apenas um vestido
curto, justo ao corpo também preto e os seus pés cobertos por uns sapatos de
tacão que me fizeram engasgar, perguntei-me como seria possível sequer caminhar
com tais sapatos.
- Olá… -
Cumprimentou ainda confusa, talvez por não saber que eu era – Estás bem? –
Perguntou sem que lhe desse tempo de responder e sorriu amavelmente, esperando
que lhe respondesse.
- Sim,
obrigado. – Menti, demonstrando também um ligeiro sorriso. Esta caminhou na
minha direcção e esticou-me a sua mão. Olhei curiosa para a mesma e depois
encarei o seu rosto.
- Sou a
Coraline. – Apertei ligeiramente a sua mão e voltei a sorrir, apreciando a sua
simpatia. Talvez houvesse alguém que me compreendesse naquela casa.
- Summer.
– Correspondeu-me o sorriso e sentou-se no cadeirão, que permanecia oposto no
qual me encontrava, sem deixar que o sorriso saísse dos seus lábios.
- És nova
por aqui? – Questionou, retirando um cigarro do maço que trazia somente na mão.
Imitei o seu gesto e retirei também da minha mala um cigarro, pensando que
talvez fosse o momento ideal para relaxar. Presumi ser óbvio o facto de ser
nova por estas bandas e desejei que tal não fosse. Preferia que não fosse um
facto óbvio, mas era ainda mais preferível não ser nova ali, de facto, era
melhor se nem ali estivesse.
- Sou. –
Limitei-me a soprar, com um leve suspiro. Inesperadamente, Coraline levantou-se
do cadeirão e esticou-me a mão, que agarrei e puxou-me, levando a que
edificasse o meu corpo. O espanto era perceptível no meu rosto e o seu ar de
diversão estava evidente no seu.
- Anda,
precisas de algo para te animar. – Puxou-me fugazmente e facilmente nos
encontrávamos de novo no centro do ruido. Conduziu os nossos corpos, sem nunca
largar a minha mão e ingressamos noutra divisão, que certamente, outrora, fora
uma cozinha. Agora não passava apenas de um local parecido a um bar gigante com
qualquer tipo de bebida e alguns snacks.
Lana Zimmerman.
Chelsea Thorn.
Alana Tanner.
Louis Tomlinson.
Chris Russel. Aka o segundo rapaz que estava com o Harry e com o Louis.
Coraline James.
Espero que tenham gostado, e quero saber as vossas opiniões sobre tudo. Sobre o Harry, a Summer, o Zayn. TUDO TUDO.
Quero saber os vossos feelings e teorias sobre o que vai acontecer no próximo capitulo. Muahaha.
Btw, peço desculpa pelos palavrões usados neste capitulo, mas vão haver mais, porque let's be honest, o que seria um badboy sem dizer coisas rudes? E peço também desculpa pelas vírgulas mal colocadas, à medida que vou escrevendo nem noto e depois como nem sempre re-leio o capitulo não as mudo... Shame on me.
Quero saber os vossos feelings e teorias sobre o que vai acontecer no próximo capitulo. Muahaha.
Btw, peço desculpa pelos palavrões usados neste capitulo, mas vão haver mais, porque let's be honest, o que seria um badboy sem dizer coisas rudes? E peço também desculpa pelas vírgulas mal colocadas, à medida que vou escrevendo nem noto e depois como nem sempre re-leio o capitulo não as mudo... Shame on me.
Peço desculpa também pelo tempo que demoro a postar mas espero que sejam pacientes porque estou a tentar ganhar tempo para adiantar mais alguns capítulos, embora tenha sido difícil. (:
With love, J. xx
lindooooooooooooooooooooo perfeitoooooooooooooooooooooooooo e maissssssssssssssssssssssssssss *-----------------------*
ResponderExcluirAinda bem que gostaste, fico muito feliz por isso!!
ExcluirAgora já tens um novo capitulo para ler, e espero que gostes também!
E desculpa a demora a responder e a postar, mas não é por mal...
xx